Editorial

Exageros do politicamente correto

Correio do Leitor
24/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:26

Existe uma frase atribuída a Albert Einstein ("Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade, porque o mundo terá uma geração de idiotas") que pode ser adaptada a alguns itens da legislação brasileira, como as leis Seca e Antifumo, incentivadas pelos modismos do politicamente correto.

São amparadas por verdades absolutas e incontestáveis: cigarro faz mal à saúde e dirigir embriagado é um risco para o trânsito, o que dá ao legislador aval para definir os detalhes e a intensidade das punições.

A Lei Antifumo, cópia da legislação inglesa, proíbe fumar em áreas externas que tenham algum tipo de cobertura. No Brasil é igual, mas com um detalhe: veta também o cigarro ao ar livre, nos bares com mesas na calçada, caso não protejam com algum tipo de vedação os clientes que estão dentro. A saída para o fumante da mesa externa é ficar em pé, sem sair do lugar, porque se transforma em transeunte e o bar não é mais responsável por isso. É, no mínimo, patético.

A Lei Seca com tolerância zero também é cópia (da Noruega e da Suécia), mas não considerou as diferenças entre aqueles países e o Brasil. Lá, transporte público e segurança são quase perfeitos: os cidadãos podem trocar o carro pelo metrô, ou andar a pé a qualquer hora do dia e da noite sem perigo de assalto. Mais que perseguir bebedores, a lei escandinava busca incentivar a utilização do transporte coletivo.

Na Suécia e na Noruega, um motorista é parado pela polícia somente nos casos de barbeiragem ou excesso de velocidade, quando se verifica se o condutor apresenta sinais de embriaguez. Aqui, um sujeito que foi ao restaurante brindar o aniversário da mulher e bebe uma taça de vinho perde a carteira numa blitz, mesmo se voltar para casa dirigindo rigorosamente dentro dos padrões de segurança. Se tiver bebido duas taças, vai preso.

Ninguém pode ser contra uma lei que proteja do tabaco os não fumantes e que puna motoristas embriagados, mas o que preocupa é que ela deve ser feita em benefício dos cidadãos e o que se nota nessas duas é que ultrapassaram esse objetivo. A Antifumo é, na verdade, Antifumante. E a Seca não é contra a embriaguez, é contra quem bebe — com uma dose (perdoem o trocadilho) exagerada de moralismo.

O que merece ser discutido é que elas — em especial a Seca — podem carimbar como perigoso um cidadão que está longe de sê-lo. O bafômetro é que decide e elimina qualquer possibilidade de bom senso. Ou de humanidade, como temia Einstein.

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