Longe da atividade política de Campinas, ela vive desde o ano passado no Alto Solimões
A ex-prefeita de Campinas, Izalene Tiene (PT) (Cedoc/RAC)
A ex-prefeita Izalene Tiene (PT) se tornou missionária. Longe da atividade política de Campinas, ela vive desde o ano passado no Alto Solimões, região amazônica de tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru — área de maioria indígena, tomada pelo tráfico de drogas, que alicia os jovens, e onde o tráfico de pessoas ultrapassa a realidade mostrada em novelas. A região também recebeu mais de 5 mil haitianos após o terremoto que atingiu o país.
A ex-prefeita Izalene Tiene com criança de origem indígena
Ela foi enviada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para integrar um projeto de apoio à Diocese do Alto Solimões.
Izalene pertence a uma linha dentro do PT que é ligada à Igreja, com atuação nas comunidades eclesiais de base, que teve forte presença no movimento popular chamado Assembleia do Povo, já extinto, e participação ativa no movimento de leigos na Diocese de Campinas. Ela se tornou prefeita depois do assassinato de Antonio da Costa Santos, o Toninho e fez uma administração que sofreu forte oposição.
Ela voltará do Amazonas em 2014, já pensando em integrar outro trabalho missionário. Izalene disse, por telefone, que vai continuar militando na política, mas não irá disputar eleições. “Já dei minha contribuição, já fiz a minha parte. Temos um grupo de mulheres atuantes, que esta escrevendo sua história em Campinas”, disse.
Ela foi eleita vice-prefeita de Antonio da Costa Santos e assumiu o cargo após o assassinato de Toninho, em 2001. Cumpriu o mandato até dezembro de 2004 e foi sucedida por Hélio de Oliveira Santos (PDT). Não disputou a reeleição. Em 2006, candidatou-se a deputada estadual, mas com 17.744 votos não se elegeu.
Depois desse período, deu aulas na Unisal, se aposentou e seguiu no trabalho missionários — Tabatinga é o mais longo até o momento. Antes, em 2009, ela participou como delegada no Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base em Porto Velho, em Rondonia. Ela disse que ficou encantada com o que chamou de profetismo na Igreja da Amazônia. “Foi a motivação para eu começar a buscar caminhos de inserção nessa Igreja já que coincidentemente eu estava aposentando. Desde a época da minha juventude eu tinha esse desejo de trabalhar como uma missionária.”
Fronteira
A ex-prefeita está em Tabatinga, cidade conurbada com a colombiana Letícia, cujo único marco limítrofe é um poste com as bandeiras dos dois países. “Embora unidas, Letícia é melhor abastecida que Tabatinga, porque o povo daqui depende essencialmente de Manaus, que está a mais de mil quilômetros, e cujo acesso é por rio. De Tabatinga a Manaus são três dias de viagem e no sentido contrário, sete”, contou.
A realidade da região, que poucos conhecem, segundo ela, necessita de pessoas, missionários capacitados, que entendam os indígenas e sua cultura para poder desenvolver atividades, projetos e missão junto a este povo. A Diocese do Alto Solimões, disse, tem projetos sociais importantes, como o incetivo ao plantio de espécies frutíferas, uso de energia solar, tratamento de água potável. “É um trabalho longo que ainda continua mesmo com a existência do projeto governamental Luz para Todos, porque a maioria das pessoas não está sendo beneficiada, pela dificuldade de acesso. Trabalhamos em uma equipe grande e minha parte é mais ligada. Eu estou a serviço da Diocese”, afirmou.
A Diocese abrange os municípios de Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins, e fica no extremo-oeste do Estado do Amazonas, com 190 mil habitantes e um dos menores Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. A renda per capita também é uma das menores do país, bem como o Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB) e a taxa de analfabetismo.
A maioria da população é indígena e desde 2010, após o terremoto que devastou a capital do Haiti, mais de 5 mil haitianos chegaram à região. “A Igreja faz esse trabalho de acolhimento, mas é um trabalho muito duro, porque a realidade aqui é muito difícil. O trafico de drogas ameaça a juventudes. O tráfico de seres humanos é uma realidade na fronteira. Estou aqui, em uma equipe que está ajudando a Igreja a mudar essa realidade”, disse.