HISTÓRIA

Eventos discutem crimes cometidos durante a ditadura

Atividades na Câmara e no MIS incluem debates e depoimentos de vítimas da repressão militar

Bruna Mozer
01/03/2013 às 06:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 22:21
Filmes serão exibidos no Museu de imagem e do Som de Campinas (MIS) (Cedoc/RAC)

Filmes serão exibidos no Museu de imagem e do Som de Campinas (MIS) (Cedoc/RAC)

Os crimes praticados contra os direitos humanos ao longo da ditadura militar (1964-1985) serão discutidos a partir desta segunda-feira (1) em Campinas, que recebe uma série de atividades, entre elas exibição de filmes no Museu de Imagem e do Som (MIS) e depoimentos de vítimas da repressão.

Na terça-feira (2), está previsto um debate, na Câmara, com Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão da Anistia, ligado ao Ministério da Justiça.

A semana, que ganhou nome de “Memória e Direitos Humanos”, está sendo realizada pela Comissão Municipal da Verdade, Memória e Justiça — que é um braço da Comissão Nacional da Verdade criada pela presidente Dilma Rousseff — e pela Comissão Permanente de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara, além de movimentos sociais, partidos políticos e universidades.

Segundo o coordenador da Comissão Municipal, Paulo Mariante, os depoimentos que serão colhidos na sexta-feira (5), às 19h, na Câmara, farão parte de um relatório que será encaminhado a Brasília para compor os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que não tem caráter punitivo, mas de esclarecimento dos crimes cometidos pelo Estado.

Depõem na sexta Irineu Simionato, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Borracha; Roseli Bianco, militante de esquerda, presa e torturada em Campinas em 1969; o professor Tarcísio Sigrist, preso e torturado pela ditadura, e Manoel Lino de Faria, trabalhador do Colégio Evolução, preso e torturado.

“Pode ser que não haja tempo de todos os depoimentos serem colhidos na sexta. Por isso, os trabalhos devem se estender. Mas até o final do ano, devemos encaminhar os relatórios para a comissão em Brasília”, disse Mariante. Ele afirma que a criação das comissões municipais tem a função de ajudar os trabalhos da nacional. Todos os depoimentos serão gravados.

Para o vereador Gustavo Petta (PCdoB), um dos organizadores da semana, esse é um esforço para elucidar os fatos que marcaram o regime militar. “As novas gerações precisam saber o que aconteceu para isso não se repetir. É um respeito à liberdade de expressão”, disse.

Paulo Abrão

A vinda de Abrão a Campinas vai ampliar as discussões sobre a importância dos trabalhos que ele coordena na Comissão da Anistia. Por ela, já passaram 60 mil análises de denúncias contra liberdade cívica e violação dos direitos humanos. Foi essa Comissão que viabilizou recentemente uma nova certidão de óbito do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto em 1975 nas dependências do DOI-Codi, durante o regime militar. Na versão anterior, sustentada pelo Exército na época, a causa apontada pela sua morte foi asfixia mecânica por enforcamento, indicando que o jornalista teria cometido suicídio.

“Graças à Comissão de Anistia, famílias conseguiram certidão de óbito de seus parentes (vítimas de tortura)”, acrescentou Mariante.

PROGRAMAÇÃO

SEGUNDA (1)

MIS Campinas - 19h

“1964 - Um golpe contra o Brasil”, de Alípio Freire — com a presença do diretor para debater o filme; feito a partir de depoimentos de militantes que viveram esse período

TERÇA (2)

Câmara - 14h

Debate com Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça e presidente da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça;

MIS Campinas - 19h

Lançamento do filme “Padre Míltom Santana: religioso, político, social”, de Juliana Siqueira; seguido de debate.

QUARTA-FEIRA (3)

MIS Campinas - 15h

Mesa Redonda “Centros de Documentação locais e a memória da ditadura — acervos e ações de resgate”.

QUINTA-FEIRA (4)

MIS Campinas - 19h30

“Em Nome da Segurança Nacional” — filme de Renato Tapajós sobre o Tribunal Tiradentes, atividade desenvolvida pelos grupos de direitos humanos do Brasil, que julgou os crimes da ditadura em 1983.

SEXTA-FEIRA (5)

Câmara - 19h

Painel “Memória e Resistência Política” sobre a ação da ditadura em Campinas, com militantes políticos e sindicais dos anos 60 e 70: Irineu Simionato, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Borracha, sob intervenção em 64; Roseli Bianco, militante de esquerda, presa e torturada em Campinas em 1969; Tarcísio Sigrist, professor, preso e torturado pela ditadura; Manoel Lino de Faria, trabalhador do Colégio Evolução, preso e torturado pela ditadura.

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