PROGRAMA

Estudantes ganham voz e dão seu recado nas ondas do rádio

Música e informação tomam espaços da escola estadual Cotomacci durante o intervalo de aulas

Fabiano Ormaneze
faleconosco@rac.com.br
19/08/2014 às 08:47.
Atualizado em 24/04/2022 às 06:21

A professora Tatiane Patarro (de chapéu) com estudantes no estúdior da rádio 'Segunda Dimensão' ( Edu Fortes/ AAN)

No horário do intervalo, os alunos da Escola Estadual Álvaro Cotomacci, no Jardim Maracanã, região do Campo Grande, em Campinas, já sabem que poderão dizer o que pensam.     E por lá isso não significa papo de corredor ou às escondidas: desde o ano passado, eles têm uma rádio, desenvolvida como parte das atividades do programa Mais Educação, que integra o trabalho da professora Tatiane Pattaro. É sempre assim: no recreio, três caixas acústicas espalhadas pelo refeitório e pelos espaços de convivência da escola transmitem a programação da rádio Segunda Dimensão — nome escolhido a partir de um concurso com os alunos.   Entre as atrações, estão programas musicais — cuja seleção do que é tocado parte de sugestões dos estudantes — e boletins informativos sobre assuntos como futebol e campanhas de saúde. O projeto começou em agosto do ano passado, quando a escola foi selecionada para integrar o projeto do Ministério da Educação (MEC) que prevê a implantação de atividades graduais com o objetivo de atingir a educação em tempo integral nos colégios públicos brasileiros.   Tatiane foi contratada para o Mais Educação e o Cotomacci, como a escola é conhecida, passou a ser um dos endereços de seu trabalho.   Pelo programa, ela desenvolve atividades na área de educomunicação em diversos colégios com o objetivo de criar autonomia nos alunos para que, ao final de um ano, eles possam continuar desenvolvendo as atividades. Ao chegar, Tatiane, formada em comunicação social e mestranda na área, buscou o apoio dos professores das disciplinas regulares, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio.   História, língua portuguesa, artes, filosofia, ciências, matemática e educação física foram as que mais se envolveram. Com os colegas, foram traçadas estratégias e definidos os conteúdos que pudessem, mais tarde, servir para subsidiar as atividades de organização da rádio.   Como o projeto deveria ser realizado no horário em que os alunos não tinham as disciplinas regulares, essas abordagens em sala de aula eram rápidas e apenas para contextualizar e sensibilizá-los da possibilidade e da importância da participação.   Esses momentos em paralelo ao conteúdo previsto em cada disciplina receberam até um nome: quick-time (algo como “tempo rápido”, em inglês). DesenvolvimentoAssim, em períodos que não ultrapassavam 15 minutos de cada aula, em língua portuguesa, os alunos passaram a trabalhar as características da oralidade. Em história, houve espaço para discutir o desenvolvimento e a importância do rádio no século 20.   Das aulas de ciências, veio uma ideia de programa: Dengue já Chega, com dicas sobre como se livrar do Aedes aegypti e como agir em caso de suspeita da doença. “A adesão dos alunos foi muito boa, principalmente, porque o projeto exigia que eles permanecessem na escola no período do contraturno, para que pudéssemos estruturar a rádio”, conta Tatiane. Em pouco tempo, o grupo chegou a ter aproximadamente 180 alunos vindos dos três períodos, o que equivale à participação de cerca de 20% de toda a clientela da escola. O próximo passo foi montar a estrutura física da rádio. Com verba vinda do MEC, foram comprados os equipamentos, como computador, mesa de som e receiver.   Tatiane começou a militar na comunidade pelo sonho de ver a emissora montada e conseguiu patrocínio de comerciantes para a compra de espuma de isolamento acústico. Com isso, o estúdio estava montado e a programação no ar.A grade foi pensada a partir das sugestões dos alunos. Em cada intervalo e dia da semana, é hora de um programa ir ao ar: há, por exemplo, o Cotomusic (uma junção de Cotomacci e música), que aborda os diferentes gostos e gerações musicais.   Foi criado também o Recado, em que o aluno pode dar sua opinião sobre temáticas diversas e o Pimba na Gorduchina, sobre a história do futebol. A partir disso, foi possível que não só Tatiane, mas também os professores das demais disciplinas trabalhassem temáticas como a importância da mídia, a leitura crítica dos conteúdos divulgados pelos meios de comunicação e a importância da produção de instrumentos midiáticos comunitários. EventosTodas as atividades e eventos na escola ganharam uma ajuda extra. Como a escola comemorou 25 anos em 2013, alguns programas contando sua história e do patrono foram produzidos.   “Os alunos passaram a ter mais elementos de identidade com a própria escola. Perceberam que tinham voz”, comenta a professora. O tempo de permanência de Tatiane no Cotomacci foi encerrado no final do primeiro semestre deste ano, mas agora os alunos mantêm a rádio no ar de forma autônoma, desenvolvendo os programas e se revezando na apresentação.   “Depois desse projeto, me sinto mais cidadã. Tenho voz e é muito importante poder ser ouvida”, diz Milena Almeida Tassi, do 8° ano.Para Tatiane, trabalhando agora em outras unidades escolares, há a certeza de que as atividades cumpriram o objetivo.   “O olhar multidisciplinar encontra espaço para diferentes linguagens. Com a rádio, foi possível atingir uma participação colaborativa que se estende para fora da escola”, explica.   SAIBA MAISO Programa Mais Educação foi instituído em 2010 pelo Ministério da Educação com o objetivo de ampliar a jornada escolar e ser um primeiro passo na implantação da educação integral no Brasil. Essa já é uma prática em vários países europeus e americanos.   Para participar, as escolas da rede pública (estaduais ou municipais) aderem ao programa e, de acordo com o projeto educativo em curso, optam por desenvolver atividades em nove campos com o intuito de oferecer atividades nos horários não preenchidos pela grade regular de ensino: educação ambiental, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e arte, cultura digital, promoção da saúde, investigação científica, educação econômica, além de comunicação e uso de mídias, eixo no qual o projeto da E.E. Álvaro Cotomacci se enquadra.

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