Correio entra no prédio ocupado há 15 dias; cenário é de vidros quebrados e salas reviradas
Garrafa térmica e copos, jornais e cadeiras sobre móveis de uma das salas (AAN)
Estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) começaram ontem a limpeza da reitoria, ocupada há 15 dias. A faxina foi iniciada após uma assembleia de estudantes, anteontem, com cerca de 500 universitários, definir pela desocupação. A saída definitiva ocorrerá segunda-feira, após um ato marcado para o meio-dia. A ocupação aconteceu no dia 3, quando a Unicamp anunciou que a Polícia Militar (PM) faria a segurança do campus. Para Carolina Filho, uma das coordenadoras do Diretório Central dos Estudantes (DCE), o movimento se sente vitorioso, uma vez que a reitoria se comprometeu a não firmar o convênio com a PM. “A segurança do campus será discutida de forma democrática.” O movimento também conseguiu direito de defesa em sindicância sobre a invasão.A reportagem do Correio teve acesso às dependências da reitoria sem se identificar — o acesso a repórteres é proibido pelos manifestantes desde o início da ocupação. O movimento foi informado posteriormente sobre a entrada no prédio para registrar, pela primeira vez, como ficou o ambiente. O local exibia um cenário de degradação e sujeira, com vidros e portas quebradas, salas reviradas, paredes pichadas e cartazes contra a presença da PM espalhados. Cerca de 30 estudantes, entre homens e mulheres, estavam no prédio pela manhã, mas nem todos participaram do mutirão da limpeza. Alguns deles ainda dormiam nos colchões espalhados no segundo andar. Segundo outra coordenadora do DCE, Mariana Toledo, o mutirão continua hoje. “A limpeza está sendo feita e até segunda-feira estará tudo limpo. Vamos fazer uma comissão de vistoria junto com a reitoria e os estudantes e iremos arcar com os prejuízos”, explicou. A entrada da reitoria ocupada é feita por uma pequena porta lateral, onde os estudantes se revezam no papel de “porteiro”. No corredor de entrada, cartazes pregados nas paredes exibiam a programação da ocupação, além de palavras de ordem contra a reitoria e a polícia no campus. Os cartazes se misturam a cadeiras e recados bem-humorados dos estudantes a outros colegas de ocupação. Nos cantos do corredor havia dezenas de bitucas de cigarro, papéis e embalagens de alimentos, apesar dos cestos de lixo espalhados pelo local. No final do corredor, à esquerda, foi armada uma mesa com garrafas térmicas contendo café, achocolatados e bolachas, onde os estudantes fazem as refeições. Logo à frente, a cozinha acumulava panelas sujas com restos de macarrão e mantimentos como sal, café e óleo.A escada que leva para o segundo andar exibia vidros quebrados e portas danificadas. Os vidros que permanecem inteiros estavam cobertos por cartazes. Um dos jovens presentes na reitoria garantiu que o DCE irá arcar com os prejuízos causados pelos estudantes. “O DCE vai trocar as portas que foram quebradas, mas não serão iguais a essas, porque não tem necessidade. Essas portas são para impedir os estudantes de chegar até o reitor”, disse o estudante, referindo-se à porta de duas folhas com vidro laminado. No andar superior, onde ficam as salas da reitoria, o cenário se assemelha a um acampamento. Cerca de 10 colchões estão espalhados pelos corredores do pavimento, além de mochilas, roupas e objetos de uso pessoal. Um dos banheiros está “interditado” pelos estudantes por supostamente apresentar vazamento. Três salas permaneciam trancadas, porém, nenhum estudante com quem a reportagem conversou soube dizer o que havia nelas. Um deles disse achar que uma sala guardava garrafas de vinho do reitor. Outras salas estavam reviradas, com cadeiras em cima das mesas, papéis e material de escritório jogados. Os computadores continuavam preservados e um deles tocava músicas que embalavam a arrumação. Duas salas já estavam limpas e com os móveis no lugar, apesar da discordância de um dos estudantes acampados. “Sou contra a desocupação, acho que deveríamos ficar aqui até a reitoria atender as nossas exigências”, declarou um dos jovens, enquanto carregava caixas de papelão escada abaixo.Movimento reagiu a acordo com a PM A morte do estudante Denis Papa Casagrande, de 21 anos, assassinado no dia 21 de setembro durante uma festa clandestina dentro da Unicamp, desencadeou a discussão sobre a presença da Polícia Militar no campus da universidade. O estudante foi espancado por um grupo de pessoas e morreu com uma facada no peito. Os namorados Maria Tereza Peregrino, de 20 anos, e Anderson Mamede, de 21 anos, estão presos desde 27 de setembro, acusados pelo Ministério Público de homicídio duplamente qualificado. Maria Tereza confessou ter desferido a facada e alega legítima defesa, por supostamente ter sido assediada pela vítima. A possibilidade de contar com a PM foi cogitada no dia 27 de setembro pela pró-reitora de Desenvolvimento Universitário da Unicamp, Teresa Atvars. Em retaliação, cerca de 200 estudantes invadiram a reitoria no dia 3 de outubro. Dois dias depois, a Justiça determinou a reintegração de posse do prédio, mas a Unicamp optou em manter as negociações a fim de fechar um acordo pacífico. No dia 11 de outubro, o reitor José Tadeu Jorge, concedeu entrevista e disse que não haverá um convênio com a PM. Apesar de a negativa do reitor, os estudantes decidiram, após assembleia, manter a ocupação. No mesmo dia, a Unicamp confirmou que a PM não atuaria no campus e propôs um amplo debate para discutir a segurança na universidade.Vidraça da reitoria tampada pelos alunos com faixas e papelões, alguns com palavras de ordem e outros informando que o local está quebrado Colchões usados pelos estudantes para passar a noite estão espalhados pelo prédio, já em processo de reparos e nova pinturaUma das portas danificadas e que será reposta; não há garantia, porém, que sejam do mesmo tipo das que estavam na reitoria Veja também Estudantes da Unicamp decidem pelo fim da ocupação à reitoria Estudantes decidem desocupar reitoria após 13 dias Após a votação, estudantes decidiram que deixarão o prédio apenas na segunda-feira, dia 21 Segurança 'humanizada' é apontada como prioridade Após negativa da reitoria em permitir a PM no campus, comunidade busca novas alternativas