Tudo aparente: o charme dos galpões fabris usados como moradia na Nova York dos anos 1960 e 1970 se faz presente na mostra com uma rusticidade agradável de ver, sentir e copiar
Loft do Cervejeiro: a ideia central foi trabalhar com materiais que apresentassem possibilidade de reuso, como o ferro ( Patrícia Domingos/ AAN )
A bossa dos galpões fabris que começaram a ser usados como moradia na Nova York dos anos 1960 e 1970 tomou conta da arquitetura e da decoração faz tempo. É o chamado estilo industrial, com muito ferro, aço, concreto, instalações elétricas e hidráulicas expostas e materiais em sua forma natural ou com acabamento quase inexistente, que também se faz presente entre os ambientes idealizados pelos profissionais da Campinas Decor. O projeto original do Palácio de Cristal, que sedia o evento, contribui para o sucesso dessa tendência por lá. Bom exemplo é o Café Metrópole – que faz referência à revista Metrópole, um dos patrocinadores da mostra –, de Adriana Bellão. O teto e as paredes de concreto aparente e o piso em madeira da construção foram mantidos, bem como as imensas janelas que tomam toda a altura do espaço de 65 metros quadrados e levam o verde para dentro. O pé-direito baixo ditou a necessidade das instalações elétricas externas, o que, somado às tomadas expostas e à madeira maciça do balcão, trouxe a rusticidade característica da proposta. A arquiteta a contrapôs com o uso de móveis de linhas retas e design contemporâneo e com iluminação arrojada, composta por uma linha de luminárias fluorescentes que formam um desenho sinuoso no ambiente, spots fixos nos conduletes e 20 pendentes em diferentes alturas. Um grande grafite do artista plástico Rogério Pedro sobe por uma das paredes até o teto, destacando-se no ambiente cinza e ressaltando a linguagem urbana. No Loft do Cervejeiro, de Roseana Monteiro, Vani Mazoni e Elton Casarin, esse estilo é ainda mais presente e chega aos detalhes – e à própria concepção do projeto. A ideia central do trio foi trabalhar com materiais que apresentassem possibilidade de reuso, como o ferro; com obras de arte produzidas com materiais recicláveis; com insumos comprados num depósito de materiais descartados; com itens reaproveitados de outras edições da mostra, como rodapé, disjuntores, tomadas e fios, e com objetos de decoração criados por eles mesmos, como os suportes da bancada de trabalho de tubos de cobre utilizados para encanamento de água quente. Tudo isso planejado em função de um bloco central modulado com um contêiner (na verdade, a porta de um contêiner verdadeiro, originária de descarte) que divide visualmente os ambientes, organizando a circulação - proposta diferente dos lofts convencionais, que mantêm espaços abertos sem interferência visual. O aço foi empregado na decoração de diversas maneiras, como no mobiliário, que, segundo os profissionais, rendeu-lhes horas de pesquisa, e apresenta também peças como o balanço NoAr, produzido com pneus descartados de aviões pela designer Carol Gay. Ventiladores de chão pesadões que falam essa mesma língua, mas fazem parte de uma série da Gerbar que mereceu estudo de cores de Ruy Ohtake, mais uma geladeira retrô preta e branca comemorativa dos 50 anos da marca Smeg, revelam que num estilo, digamos, cru, também cabe muita sofisticação. Na iluminação, mais hi-lo: nove pendentes que partem de uma assadeira redonda usada como canopla formam uma trama no teto e constituem uma alternativa de custo razoável e efeito impactante. Toques que pontuam o visual fabril aparecem ainda no Home Office de Stella Crissiuma, que procurou harmonizar o espaço multifuncional com o brutalismo característico do prédio. Nesse ambiente é possível notar os conduítes expostos e as cores sóbrias selecionadas para as paredes, de forma a dar continuidade à arquitetura. Na Adega e Escada, de Bruna Fernanda Ferreira e Liliane Bigaram, o destaque vai para a peça que nomeia o ambiente: uma imensa adega, feita com vergalhões e base em marcenaria. No Refúgio no Campo, além do revestimento de parede em concreto arquitetônico, o industrial deu o ar da graça na lareira feita de chapas metálicas. Para ver e se inspirar na próxima ida ao home center ou ao ferro-velho e talvez prestar mais atenção àquela demolição aí perto da sua casa.