CRISE HÍDRICA

Estiagem já se instalou na Região Metropolitana de Campinas

Chamada vazão afluente - soma dos volume de água que entra nos reservatórios - está bem abaixo do pior ano de seca do Sistema Cantareira, que ocorreu em 1953

Maria Teresa Costa
18/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:08
Rio Atibaia, que integra a bacia alvo do plano de restrição e é usado para o abastecimento de Campinas (Elcio Alves)

Rio Atibaia, que integra a bacia alvo do plano de restrição e é usado para o abastecimento de Campinas (Elcio Alves)

O volume de água que está entrando nos reservatórios do Sistema Cantareira em abril equivale a quase a metade da água que chegou às barragens no mês passado, e aponta que a estiagem já se instalou na região. O volume de chuva acumulado em abril é de apenas 17% do esperado para o mês. Somando com a água que chega pelos rios que nascem em Minas Gerais e são represados no Cantareira, o sistema está recebendo apenas 18,1 metros cúbicos por segundo - 47,6% da vazão de 38,14 m3/s que chegou ao sistema em março. Mesmo assim, os reservatórios operaram nesta sexta-feira (17), pelo sexto dia consecutivo, com 19,9% da capacidade, dentro da cota do volume morto, ou 9,3% negativos em relação a capacidade total de armazenamento das barragens.A chamada vazão afluente - soma dos volume de água que entra nos reservatórios - está bem abaixo do pior ano de seca do Sistema Cantareira, que ocorreu em 1953. Naquele ano, a vazão afluente média de março foi de 26,5 m3/s e de abril, de 30,4 m3/s. Em abril de 2015, portanto, a quantidade de água que chega aos reservatórios está 48,4% menor que o ano mais crítico da história dos reservatórios.Segundo a Climatempo, a redução da frequência e do volume diário de chuva já é o indício do começo do período de estiagem. O período chuvoso já terminou e daqui para frente a chuva vai ficar cada vez mais escassa, dependendo quase que exclusivamente da passagem de frentes frias. Mas nem todas as frentes frias vão provocar chuva. As pancadas de chuva em fim de tarde também param de ocorrer porque a atmosfera fica mais seca e fria. Para os próximos 15 dias, a previsão é de pouca chuva sobre os mananciais da Grande São Paulo, inclusive sobre o Cantareira. A maior chance de chover de forma generalizada é entre os dias 21 e 23 de abril durante a passagem de uma frente fria.Com as chuvas mais abundantes nos meses de fevereiro e março foi possível preencher as áreas mais profundas das represas no nível da segunda cota do volume morto (água que fica abaixo das comportas), mas esse manancial precisaria de mais 91,6 bilhões de litros de água para alcançar a marca inicial do volume útil. O armazenamento disponível hoje para o abastecimento estava em 195,9 bilhões de litros.Em razão da crise hídrica, as retiradas de água do volume morto ou da reserva técnica começaram a ser feitas em 16 de maio do ano passado. Para minimizar os efeitos da escassez de água, entre outras medidas, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) passou a reduzir, gradativamente, as áreas atendidas pelo Cantareira. Antes da crise hídrica, o universo estava em torno de 9 milhões e, agora, caiu para 5,4 milhões. Os 19,9% de armazenamento atuais repõem os 10,7% de volume de água da reserva técnica que foram disponibilizados em 24 de outubro de 2014 e 9,2% da cota de 18,5% que foi acrescida em 15 de maio de 2014. As duas cotas somam 29,2% de água do volume útil. Há um ano, em 14 de abril de 2014, o nível do Cantareira estava em 12,1%, mas com água do volume útil. Menos águaOs gestores do Sistema Cantareira, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) voltaram a aumentar, nesta sexta, a descarga de água para a região de Campinas, atingindo 1,5 metros cúbicos por segundo (m3/s), vazão máxima autorizada na operação do sistema este mês. A liberação atende solicitação da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa) feita na terça-feira, diante da queda de vazão do Rio AtibaiaA chuva que caiu quinta-feira em Campinas, de 10 milímetros na região do rio, elevou a vazão do principal manancial de abastecimento da cidade para 9 m3/s, mas a estiagem de hoje fez o volume cair para 6,5 m3/s. Mesmo assim, a situação de abastecimento ainda é confortável, porque a Sanasa está captando 2,9 m3/s para abastecer 95% de Campinas. A necessidade de aumento de vazão, segundo a empresa, visa melhorar a qualidade da água do rio e reduzir os custos de tratamentoInformação precisa Após a Justiça determinar, em caráter liminar, que a Sabesp passe a divulgar o "volume negativo" do Cantareira, a empresa informou que esse índice está em 9,3% ontem (contra -9,4% da quinta-feira). O volume negativo é a diferença entre o volume útil e a água disponível. Desde 2014, o sistema Cantareira opera com o volume morto, que está abaixo do nível de captação e que tem que ser bombeado. É a primeira vez na história do sistema que esse volume é utilizado. Para o Ministério Público, que entrou com a ação, o fato de o reservatório ter chegado ao nível zero do volume útil significa que a Sabesp está usando uma parcela negativa do sistema. É a segunda vez que a empresa é obrigada a mudar o sistema de contabilização do nível da água. Trata-se do terceiro índice diferente que mede o nível do manancial em crise. Até agora, a Sabesp divulgava dois índices que consideram o volume morto como acréscimo à capacidade do sistema. No primeiro deles - na quinta-feira em 19,9% -, a empresa não inclui as duas cotas da reserva profunda na capacidade total. Se forem incluídos os 287,5 bilhões de litros das cotas no volume total, o nível cai para 15,4%.

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