Medida vai valer em todos os municípios paulistas e visa liberar os policiais para as ruas
O governador Geraldo Alckmin anunciou mudanças na estrutura da polícia (César Rodrigues/AAN)
O governo paulista vai terceirizar o atendimento telefônico de emergência da Polícia Militar (PM), o 190. A Secretaria de Estado de Segurança Pública prepara a licitação para que empresas com pessoal especializado recebam as ligações e repassem as informações aos policiais, como ocorre em algumas outras regiões do País. O secretário Fernando Grella Vieira afirmou que a avaliação final e o despacho de cada ocorrência continuará a cargo da corporação.O objetivo é poupar o efetivo de funções administrativas e colocar mais policiais nas ruas, segundo Grella. Especialistas, porém, acreditam que o sucesso da iniciativa depende do nível de treinamento dos atendentes civis.O anúncio foi feito durante visita do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para assinatura do contrato de locação do prédio da segunda Delegacia Seccional de Campinas, no Jardim Londres, na manhã de ontem. Apesar de ainda não ter previsão de data para implantação do novo sistema, o secretário disse que a mudança é certa e deve ocorrer em todo o Estado.“Essa medida faz parte de uma atividade que já está sendo desenvolvida faz um tempo pela Polícia Militar, que é eliminar o emprego de policial em atividade meio e empregá-los somente em atividade fim”, disse Grella. De acordo com o secretário, em agosto 2 mil homens deixaram de trabalhar em funções administrativas dentro de centros e comandos de policiamento para passar a atuar nas ruas. “Este é o princípio da Polícia Militar”, completou. Para o comandante do Centro de Policiamento do Interior 2 (CPI 2), o coronel Carlos Carvalho Júnior, a terceirização é necessária para aliviar a falta de equipes de patrulhamento nos bairros mais visados por criminosos. “Isso ocorre no mundo inteiro, Europa, Estados Unidos. E funciona muito bem”, disse. Em pelo menos seis estados brasileiros, o atendimento de emergência é feito por civis, que depois do primeiro contato com a vítima passam as informações à polícia, Corpo de Bombeiros ou Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Em Sergipe, Minas Gerais, Maranhão e Rio de Janeiro a atividade é terceirizada. Já em estados como Bahia e Santa Catarina, os agentes são temporários, mas possuem contrato direto com o governo. No entanto, o tema causa polêmica. Em janeiro de 2010, um comerciante foi assassinado em Aracaju mesmo depois de pedir ajuda ao 190. Do outro lado, estava uma operadora de telemarketing que, de acordo com a gravação da conversa, não teria percebido a gravidade da situação. O dono do depósito tentou convencer a mulher da seriedade da ameaça, sem sucesso. Em Sergipe, a terceirização começou em 2008. No Mato Grosso, atendentes terceirizados foram dispensados do serviço e policiais aposentados foram chamados para atender as ligações de emergências. TreinamentoO especialista em segurança pública José Vicente da Silva Filho afirmou que o treinamento dos atendentes é essencial para o bom funcionamento do serviço de emergência, no caso de uma terceirização. “Se o pessoal for bem treinado e tiver a supervisão do pessoal da PM, o sistema pode dar certo. Em Nova York senhoras de cadeiras de rodas recebem as ligações do 190.” O coronel da reserva afirmou ainda que 90%¨dos atendimentos ocorrem depois do delito. “É muito raro alguém ligar quando está sendo ameaçado ou se um bandido invadiu a casa, por exemplo.”Ele acredita que o ideal seria que as ligações fossem recebidas por policiais aposentados ou com problemas de locomoção, como no Rio de Janeiro, uma onde uma cooperativa de PMs deficientes faz parte dos atendimentos. Ele lembrou ainda que muitos foram contra a terceirização de funcionários do sistema carcerário, por exemplo. “Muita gente torceu o nariz, mas os presídios funcionam normalmente, como antes. Os serviços burocráticos do Detran também deixaram de ser feitos por policiais e foram liberados mais de 200 delegados e 1 mil policiais civis para outras funções mais importantes.”