LALÁ RUIZ

Está na hora de fechar o caixão

Lalá Ruiz
15/08/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 05:26

Quando uma série de televisão, concebida a partir de uma ficção barata, calcada no absurdo e no nonsense, começa a se levar a sério demais, chega a hora de dizer adeus. É o caso de True Blood, produção do canal pago HBO que está na sexta temporada e já confirmou a sétima para 2014.True Blood me conquistou logo no primeiro episódio. Gosto de histórias fantásticas, com vampiros, lobisomens, zumbis e demais criaturas do gênero. Assim, um seriado que partia da premissa de que os vampiros saíram do armário para viver entre os humanos graças ao sangue artificial desenvolvido pelos japoneses e com ação desenvolvida no microcosmo de uma cidadezinha do Sul dos Estados Unidos, só poderia fazer sucesso lá em casa.Criado pelo incensado produtor Alan Ball e inspirado na série de livros da norte-americana Charlaine Harris que descreve as aventuras da garçonete telepata Sookie Stackhouse — uma pulp fiction com seus momentos de Júlia e Sabrina —, o programa se valeu de toda a liberdade criativa garantida pela máxima livro é livro, série é série, filme é filme. Teve uma ótima primeira temporada (a mais fiel à obra de Harris, como vim a constatar mais tarde), uma segunda OK e chegou ao ápice na terceira (a cena em que o personagem Russell Edgington, um vampiro de milhares de anos, invade um estúdio de TV, arranca o coração do âncora e assume a bancada do telejornal é uma das mais loucas que já vi na televisão; fica no mesmo nível, em termos de impacto, do episódio The Rains of Castamere da terceira temporada de Game of Thrones, e que ficou conhecido entre os fãs como Red Wedding).Dessa forma, manteve a credibilidade no quarto ano, que foi inspirado num dos livros que os fãs de Charlaine Harris mais gostam (Dead to the World, sobre a perda de memória do vampiro viking Eric Northman) e degringolou completamente na quinta temporada ao eleger como mote principal uma tal de Autoridade dos vampiros que governa os bebedores de sangue e seus delírios em torno de uma tal deusa Lilith, a vampira original. Chato, chato... e chato! O humor, a ironia e os bons personagens perderam espaço para uma seriedade que não combina com o espírito caótico que até então caracterizava a produção.Por questão de fidelidade — e também movida pela curiosidade em saber como os roteiristas vão tirar a série do buraco em que eles a colocaram —, tenho acompanhado a sexta temporada, que (seria coincidência?) teve sua duração encurtada dos tradicionais 12 episódios para dez, e cujo desfecho vai ao ar no próximo domingo. A realidade é que só no capítulo passado eles — finalmente — deram adeus ao imbróglio Lilith e trouxeram de volta alguns personagens secundários que sempre conferiram uma certa jocosidade à trama (mesmo que numa cena de funeral!). Mas nada ao ponto de fazer o telespectador sentir aquela empolgação inicial. Fica aqui a torcida para que o gancho da sétima temporada seja interessante. E que ela seja a última — a fórmula já deu sinais suficientes de desgaste. E, ao contrário dos vampiros, os atores não permanecem jovens para sempre.P.S.1: Uma das ressalvas que sempre tive em relação à tal saga Crepúsculo, sucesso entre os adolescentes, é o fato de os vampiros caminharem à luz do dia. Afinal, vampiro que é vampiro só sai do caixão à noite, correto? Mas, até isso os roteiristas de True Blood conseguiram: arrumaram um jeito de tornar mortos-vivos bebedores de sangue imunes ao sol, nem que seja por um período curto. Imperdoável!P.S.2: Os livros de Charlaine Harris que inspiraram o produtor Alan Ball a criar True Blood são bem divertidos. Não mudaram e nem vão mudar os rumos da literatura fantástica, mas recomendo mesmo assim. Aviso: são 13! Isso sem falar em novelas e livros de contos sobre o “sookieverse”.Boa leitura!

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