Em Moçambique, Alexandre Pontel treinou a seleção nacional de vôlei de praia masculina e feminina nas categorias sub-19, sub-21 e adulta (Divulgação)
O primeiro título olímpico do vôlei masculino brasileiro, conquistado em Barcelona-1992, foi inspiração para muitos jovens. Na época, crianças e adolescentes, motivadas com aquela geração de ouro, incorporavam os ídolos Maurício, Tande, Marcelo Negrão na imaginação para temperar as manchetes e cortadas nas brincadeiras das ruas ou quadras. E se para a maioria daqueles garotos o momento não passou de uma oportunidade de lazer, para alguns representou uma mudança de vida. O campineiro Alexandre Pontel faz parte do segundo grupo.
“Em 1993, acompanhei um circuito de vôlei de praia no Taquaral e foi paixão à primeira vista”, lembra ele, que até hoje, 32 anos depois, mantém o “rito” de jogar com os amigos aos domingos nas quadras do Parque Taquaral. A diferença é que o garoto deu lugar a um especialista, com a oportunidade de difundir sua paixão na condição de jogador, técnico e formador não apenas no Brasil, mas também além da fronteira.
Pontel, de 47 anos, retornou a Campinas no final de 2024 depois de passar três anos em Moçambique, onde foi treinador da seleção nacional de vôlei de praia masculina e feminina, nas categorias sub-19, sub-21 e adulta. “Conseguimos colher bons resultados, com o título da Zona VI africana, participação em três campeonatos mundiais e conquistas de cinco medalhas em competições continentais, como Jogos Africanos, African Beach Games, Continental Cup, Campeonato Africano Sub-21 e All African Games”, conta o profissional.
A oportunidade de seguir para a África surgiu no período da pandemia. “Meu amigo Lucas Palermo (técnico da dupla Duda e Ana Patrícia, campeã olímpica em Paris) passou num grupo de WhatsApp que Moçambique estava com essa vaga aberta. Então decidi que poderia ser uma oportunidade. Enviei meus documentos e acabou dando certo”, relembra.
O retorno ao Brasil aconteceu em razão da tensão política local. “Meu contrato venceria, e não renovei porque estava um pouco inseguro com o clima em Maputo, capital do país, onde muitas manifestações violentas em função do resultado da eleição presidencial estavam acontecendo”, afirma ele, que deixou a vaga encaminhada para um treinador holandês. Pontel valoriza a experiência. “O mais importante foi ter a chance de levar meu conhecimento e passar um pouco da minha paixão a outras pessoas, em outro continente, em outra cultura.”
Hoje, Pontel está de volta à cidade que teve papel importante na sua formação dentro do vôlei de praia. O início foi na raça. “Em 1999, fiz no Jardim Carlos Lourenço uma quadra de areia e comecei um projeto social voluntário no qual dava aulas para crianças de um núcleo assistencial. A partir daí, muitos amigos começaram a pedir para eu lhes ensinar e treinar. Desde então, não parei”, relata.
Motivado pelo vôlei de praia, Pontel cursou e se formou na faculdade de Educação Física e, após concluir um curso de treinadores da Confederação Brasileira de Vôlei, passou a dar aulas em escolas, projetos e clínicas, além de criar a Associação Clube do Vôlei de Praia de Campinas, ativa entre 2008 e 2014. Treinou também equipes de quadra do Master Feminino da Ponte Preta e do time de Medicina da São Leopoldo Mandic. Como jogador nas areias, representou Campinas em várias competições, com destaque em Jogos Regionais e Jogos Abertos do Interior, além de participações em torneios estaduais.
Agora, com o acréscimo da experiência obtida em Moçambique, Pontel iniciou neste 2025 um projeto social no distrito de Sousas em parceria com o Instituto Life de São Paulo e a Secretária Municipal de Esportes baseado em lei de incentivo federal. “São 50 vagas para atender crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos com aulas gratuitas na Praça Dr. Carlos Andrade Pinto”, detalha ele, que também dá aulas na arena Coco Beach, na avenida Carolina Florence, no Jardim Guanabara, e no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Na bagagem, o sonho que movia o adolescente, inspirado no ouro olímpico dos Jogos de Barcelona, segue vivo.
“Quero muito fazer em Campinas um polo onde possamos formar atletas em condições de, em alguns anos, representar o Brasil em mundiais e até Olimpíadas. Acredito que é uma possibilidade concreta. Temos tudo aqui: clima e conhecimento. Falta patrocínio e estou trabalhando nisso também.”
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