Uma história dentro dos ringues

Uma luta de boxe, com a participação do lendário Maguila, fez os olhos de um garoto brilhar em frente à televisão. O adolescente Ademir, que há pouco tempo havia deixado o Maranhão e se mudado para Campinas em busca de melhores condições de vida, nunca havia assistido aquele esporte. E foi paixão à primeira vista. Quando a luta terminou, o maranhense de São Bento que morava no bairro Santa Genebra e trabalhava na Ceasa já sabia o que queria fazer na vida. E foi à luta.

Hoje, Ademir Jesus Machado tem 45 anos e uma história dentro dos ringues. Sua formação foi no Clube Atlético Campinas (CAC), uma referência no boxe nacional, onde ainda treina e atua como professor. No CAC, conviveu durante 25 anos com as três gerações de treinadores da academia e soube assimilar, com cada um deles, os segredos de um esporte que pavimenta sua trajetória de vida. Foram mais de 100 lutas como amador e agora, no dia 29 de julho, fará seu 11º combate como pugilista profissional.

Na preparação para enfrentar o campeão brasileiro Klisman Simão, no Coliseu Boxing Clube, de Guarulhos, no final do mês, Ademir lembra de sua primeira competição. Isso, em meados dos anos de 1990. “Foi no ginásio Baby Barioni pela Forja dos Campeões. Para mim era tudo novo. Estava empolgado e, ao mesmo tempo, com medo, perguntando para mim mesmo: ‘o que estou fazendo aqui’. Mas ganhei minha primeira luta. O nariz do meu adversário sangrou e fiquei muito empolgado. Depois, perdi a segunda luta”, conta.

Os passos iniciais do boxe Ademir aprendeu com José Roberto de Oliveira, o saudoso seu Zé, primeiro treinador da academia, fundada em 1970. Durante três anos orientado pelo lendário treinador, o maranhense participou de várias competições voltadas para principiantes e ganhou experiência. “Na época, era uma competição atrás da outra, não parávamos”, lembra.

A disputa em torneios com lutadores de ponta começou quando Luiz Fernando Caetano da Silva assumiu o CAC, em meados do ano 2000. Esquiva Falcão, medalhista olímpico, e Patrick Teixeira, campeão mundial, foram alguns de seus adversários. “Nos campeonatos, sempre estive entre os primeiros, ora conquistando os títulos, ora ficando em segundo ou terceiro lugar”, conta Ademir. Uma das competições na qual se destacou na época foi o Cinturão de Ouro, ficando com o vicecampeonato na categoria meio médio. Segundo reportagem do Correio Popular na ocasião, seu peso era 69kg, mesma medida que ostenta hoje.

“O Ademir sempre foi muito focado”, resume Jefferson Merim, treinador que está à frente do CAC atualmente e com quem o maranhense troca experiências. Como profissional, o experiente lutador já chegou a lutar pelo título brasileiro na categoria meio médio, mas o duelo do final deste mês não vale cinturão. Seu técnico é Daniel Ralado.

Com mais de 25 anos dedicados ao boxe, Ademir destaca as amizades que fez dentro da modalidade como as principais conquistas. E é esse pensamento que costuma transmitir para quem está começando. “Lutadores novos às vezes duvidam que realmente exista amizade num ambiente onde é comum a troca de socos. Mas aqui dentro é um ensinando e dando força ao outro”, comenta o atleta, mais um vencedor por meio do esporte. “O boxe deu um sentido para a minha vida.”