Uma família pelas ruas de Nova York

A rotina é árdua. Os treinamentos físicos, as avaliações com nutricionistas e fisioterapeutas e os cuidados diários com alimentação e descanso seguem um roteiro rigoroso nos últimos meses. O cansaço faz parte. “Mas vai valer a pena”, diz a exempresária de Campinas Marilisa Butori Lopes de Faria, que se prepara para a realização do maior sonho de sua vida.

Depois de completar por sete vezes o percurso de 42,196km da Maratona de Nova York, Mari embarca nesta quarta-feira para sua oitava participação em um dos maiores eventos esportivos do mundo. Mas, desta vez, será como se fosse sua estreia. Ela retorna às ruas novaiorquinas após uma ausência de 23 anos e muito bem acompanhada. “Terei o privilégio de, enfim, correr em Nova York pela primeira vez junto da família, com os meus três filhos”, conta a atleta amadora de 62 anos. O evento será no próximo final de semana.

Mari acrescenta também outro detalhe que tornará o momento ainda mais especial. “A organização nos convidou para representarmos o Brasil com a bandeira do país”, celebra a corredora, que envergará o símbolo na festa de recepção, sábado. O evento inclui uma corrida com passagens pela sede da ONU e Central Park, além de um café da manhã, discursos de autoridades, músicas, entre outras atrações. No dia seguinte, domingo, acontece a prova com a presença tradicional de mais de 50 mil atletas.

Mari tem uma íntima relação com a Maratona de Nova York, que começou a ser costurada há mais de 30 anos, quando ela leu uma reportagem da revista “Boa Forma”. “A matéria falava a respeito da emoção de uma corredora em fazer aquele percurso com o pai”, lembra. “Me emocionei ao ler e decidi que iria participar da Maratona de Nova York. Muitos me chamaram de louca, pois eu só corria distâncias curtas na época e também tinha muitas outras atividades profissionais e pessoais. Mas me dediquei, treinei e até arrastei um grupo comigo para os Estados Unidos.” A estreia em uma das seis maiores maratonas do mundo foi em 1992 e, a partir de então, a atleta se tornou presença frequente no evento. Sua melhor marca foi 3h48min e a última participação aconteceu em 1999. Incluindo também presenças em provas de Paris, Lisboa e no Brasil, Mari já participou de 14 maratonas. 

EM FAMÍLIA

O sonho de correr em Nova York com os filhos foi alimentado desde quando eles ainda eram pequenos. Em 1995, ela levou as crianças no aniversário de 25 anos da prova e a influência da mãe acabou por despertar a paixão pelo esporte na nova geração. Hoje, o médico Gabriel, o advogado Felipe e a psicóloga Júlia têm 37, 36 e 31 anos, respectivamente.

“A primeira vez que corri com eles em um evento oficial foi em 2019, na Meia Maratona de Buenos Aires. Completamos o percurso e a emoção foi incrível”, lembra Mari, que no Natal do mesmo ano foi presenteada pelos filhos com um vídeo produzido exclusivamente sobre a trajetória dela no atletismo. Neste mês de outubro, a parceria familiar pelas ruas voltou a se repetir nos 21km da XP Live Run, no Parque Taquaral, com a presença também da nora e netos. E agora, será a vez de Nova York após algumas tentativas frustradas em função da pandemia do coronavírus.

“Em 2020, tentamos ir, mas a prova foi cancelada. No ano seguinte, não foi permitida a presença de estrangeiros, mas meu filho Gabriel participou da corrida de forma virtual. E agora, enfim, estamos a caminho de realizar esse sonho”, resume Mari.