POR ONDE ANDA

Um zagueiro agraciado pelo talento e destino

Bruno Aguiar, integrante do elenco bugrino no acesso na Série B em 2009, jogou em grandes clubes e com craques lendários. Agora, ele celebra a trajetória ao lado da família e dos amigos

Da redação
27/05/2024 às 11:12.
Atualizado em 27/05/2024 às 11:12

(Acervo Pessoal/Bruno Aguia)

Não existe instante mais doloroso para o jogador de futebol do que a hora de parar. Pendurar as chuteiras, fazer um balanço da carreira e planejar os próximos passos e sustentar a família e aqueles que estão ao redor. Aos 38 anos, após disputar a parte inicial da temporada com o Oeste, de Barueri, o zagueiro Bruno Aguiar pressente o instante da saída de cena ficar diante de ti. Residente em Amparo, o jogador mostra serenidade, alegria e satisfação por chegar a conclusão de que viveu tudo aquilo que sonhou. Esteve ao lado de craques lendários. Fez parte de times históricos. Nunca comprometeu. Foi exemplo.

Um atleta de futebol profissional na acepção da palavra. Com honra. Uma história iniciada na infância nas escolinhas de futebol de sua cidade natal, Amparo. Surge a brecha para fazer um teste na Ponte Preta. Foi aprovado e ficou seis anos no clube. Subiu ao time profissional, mas não entrou em jogo oficial. Aparece o ano de 2006 no horizonte e seu contrato não é renovado. Seu próximo desembarque foi em Barbati, na Espanha.

Desde aquele período, o zagueiro sentiu que o continente europeu estava à frente na questão tática. Não desperdiçou a chance de aprender. “Eles já marcavam com linha de quatro jogadores e a marcação por zona eu comecei a fazer por lá. Sem contar que assimilei a cultura de atuar em um jogo e no outro ficar no banco de reservas”, disse o atleta.

A “escola” espanhola foi colocada em prática assim que voltou ao Brasil, primeiro no Grêmio Barueri e depois no Mirassol. “Ali eu comecei a alavancar minha carreira”, contou. “Em 2008, recebi a primeira proposta para jogar pelo Santos. Mas disputei minha primeira Série A com o Figueirense naquele ano”, disse Bruno Aguiar. A equipe catarinense, no entanto, foi rebaixada naquela edição com 44 pontos.

Apesar da campanha decepcionante, isso não impediu o fato de Bruno Aguiar escrever a primeira página inesquecível de sua trajetória, em 2009, no Guarani. O beque já tinha trabalhado com o então técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, na Ponte Preta. Ele foi o treinador responsável por sua promoção. “Aquele time foi inexplicável da maneira como foi. O time foi montado com muita dificuldade. Eu lembro que eu, o Fabinho e o Caique fomos um dos primeiros jogadores contratados”, disse Aguiar.

Nos bastidores, Bruno Aguiar dizia que o elenco era formado por operários da bola, o que deixava qualquer prognóstico no campo das incertezas. “Eu lembro que ele pediu aos torcedores para que tivessem paciência nos seis primeiros jogos. E tivemos uma arrancada incrível antes do dérbi”, disse Bruno Aguiar.

Dérbis que, naquela ocasião, foram um presente aos torcedores que celebraram o vice-campeonato com 69 pontos. No turno inicial, a vitória foi por 1 a 0 no Majestoso e com gol de Caíque. No returno, o triunfo por 2 a 1 no Brinco de Ouro deixou a festa completa, tanto nas arquibancadas como no vestiário.

Ao fazer um balanço da carreira, o zagueiro confessa que o jogo contra a Ponte Preta, realizado no dia 20 de junho de 2009, no estádio Moisés Lucarelli, teve um gosto especial. “ Eu fui para aquele primeiro jogo com muita vontade e fervor no coração porque estava muito magoado com a Ponte Preta”, disse, que não esquece o protagonismo de Vadão.

“O homem era bom, era brabo mesmo”, completou.

O desempenho acima da média do Guarani fez com que o elenco fosse desmanchado. As propostas surgiram e desta vez não tinha razão para Bruno Aguiar recusar uma nova proposta do Santos. A temporada de 2010 foi a abertura para viver um tempo de sonhos, com a conquista da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista por intermédio de uma campanha espetacular, fruto do trabalho do atual técnico da Seleção Brasileira, Dorival Junior.

“O Dorival cumpriu o prometido comigo. Ele disse que, se ele ficasse no Vasco, ele me levaria para lá. Mas quando foi contratado pelo Santos, ele me levou. Ele é um cara totalmente gestor. Comanda o grupo e todo mundo gosta”, disse Bruno Aguiar, sem medo de afirmar que aquele foi o melhor time que atuou. “Foram 27 gols feitos em três jogos. Os garotos tinham muita confiança. Eles ensaiavam várias comemorações. Mas não era desrespeito”, completou.

Revigorado por duas passagens inesquecíveis no Guarani e no Santos- em que foi campeão da Libertadores em 2011- Bruno Aguiar aceitou a oferta do Sport e atuou nos anos de 2012 e 2013 na Ilha do Retiro. Não se arrependeu. “Todos os jogos estavam lotados. Era muito emocionante. Eu precisava viver aquilo”, relembrou.

Emprestado pelo clube pernambucano ao São Caetano em 2013, ele teve a chance de ir para o Joinville em 2014. Experiência inesquecível, especialmente em virtude do entrosamento com o presidente do clube na ocasião, Nereu Martinelli.

“ Nossa primeira conversa teve três horas de duração e outra ligação demorou três horas e sequer falamos de contrato. Nasceu ali uma amizade legal e que rendeu bons frutos”, disse Bruno Aguiar.

O principal fruto foi a conquista da Série B de 2014, quando voltou a conviver com o amigo Fabinho dos tempos do Guarani. Os 70 pontos e a taça foram conquistadas com alto dramaticidade, especialmente no dia 15 de novembro de 2014, quando o Joinville venceu a Ponte Preta por 3 a 1 e encaminhou a conquista do título.

“Foi uma campanha maravilhosa e sem sair do G4”, disse Aguiar. Bruno Aguiar permaneceu no Joinville até 2016 e depois teve passagens no São Caetano e retornou ao time catarinense em 2018 e no ano seguinte, viveu uma experiência traumática no Brasil de Pelotas em que conviveu com atraso de salários e muitas dificuldades. Apesar do bom saldo colhido na Região Sul, era preciso buscar novos ares e isso foi obtido no período de 2020 a 2022, quando defendeu o Novorizontino.

Por tudo que viveu ali, segundo ele, não é nenhum delírio pensar o Tigre na primeira divisão nacional. “É uma das minhas apostas, muito pelo clube e por sua organização e pelas pessoas que estão ali. Os proprietários são pessoas que realmente vivem o futebol”, disse.

Brusque, São Bento e Oeste foram as últimas paradas antes de começar a refletir sobre a decisão de parar com o futebol. Algo já é certo: sua ligação com o Guarani será eterna. Tanto que o filho, de 12 anos, já está nas categorias de base do clube.

“ Virei torcedor do bugre por tudo aquilo que vivemos ali”, disse o jogador, feliz por saber que deixará uma herança positiva no futebol. “Deixo um legado principalmente pela convivência no campo e fora do gramado. Nos lugares em que passei eu procurei dar exemplo. O melhor legado que eu trago é ter saído dos clubes com esse reconhecimento, de não ter dado problema e não ter se envolvido em polêmica. É um exemplo que deixamos para os nossos filhos”, arrematou.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por