Seja com amigos ou personalidades do mundo da bola, Fábio Augusto relembra fatos marcantes de sua trajetória, seja no Flamengo, Guarani, Corinthians, Botafogo ou no Kalmar da Suécia, em que é considerado o melhor jogador de todos os tempos (Divulgação)
O futebol oferece oportunidades para que possíveis coadjuvantes virem protagonistas. Alguns que deveriam carregar o piano no final viram também maestros e sabem como poucos conduzir a equipe dentro do gramado como uma orquestra. Na década de 1990, a torcida do Guarani vibrava e comemorava os gols de craques da estirpe de Amoroso, Djalminha, Luizão e Edu Lima. Mas também reverenciava o volante e armador Fábio Augusto, revelado pelo Flamengo e que viveu um tempo mágico no estádio Brinco de Ouro.
A qualidade do seu futebol e a reverência do torcedor não surgiram do dia para a noite. Fábio Augusto relembra que os primeiros passos foram dados no time de futebol de salão do Fluminense com oito anos de idade. Por ser um time tradicional na modalidade, o então garoto nascido no Rio de Janeiro e pertencente a uma família de flamenguistas ficou por três anos no tricolor das Laranjeiras. Após esse período, Fábio Augusto foi fazer um teste para entrar nas categorias de base da agremiação. No entanto, a organização deixava a desejar. Com o talento à flor da pele, o destino tratou de dar um empurrão em Fábio Augusto. Em determinado dia, Fábio Augusto encontrou-se com um goleiro que atuava no rubro-negro carioca e deu a dica de realizar um teste parta atuar ali. Após esperar por seis meses pela decisão do pai para levar ao lugar do teste, Fábio Augusto entrou em campo e acabou aprovado.
Ali, uma nova era foi vivida. Ao entrar em contato com os métodos de trabalho do Flamengo em sua categoria de base, Fábio Augusto sentiu que tomou a decisão correta. “Cheguei a subir para o profissional (do Flamengo)com 18 anos”, recorda o ex-jogador.
O começo no futebol profissional foi disputar o Campeonato Carioca de 1992 pelo Olaria. Após um rápido retorno ao Flamengo, eis que o Guarani surge em sua trajetória. Uma transferência que recebeu o incentivo de diversos jogadores e de integrantes do mundo da bola em virtude da boa fama do Guarani no mercado, como também por sua ambição em disputar títulos.
Fábio Augusto chegou ao Brinco de Ouro em 1994 para fazer parte de uma equipe cujos papéis já estavam definidos. O ataque seria formado pelas jovens revelações Amoroso e Luizão e pelo rápido Edu Lima. No meiocampo, Fábio Augusto teria a companhia de Sandoval e do volante Fernando. No banco de reservas, o comando de Carlos Alberto Silva. “Aquele time foi o melhor em que joguei futebol”, celebrou Fábio Augusto, que relembra o estilo de trabalho de Carlos Alberto Silva, que englobava instruções diretas, sem rodeios e sempre focado em transmitir confiança aos jogadores. Amoroso foi o artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1994 e sua lesão, na visão de Fábio Augusto, atrapalhou os planos do clube campineiro na busca do segundo título brasileiro. “Quando a gente fala de Amoroso, nós nos referimos a um jogador que era artilheiro. Ele era parte importante de um encaixe e de uma engrenagem. O substituto dele foi o Júlio César, que era um ótimo jogador”, relembrou o ex-volante bugrino. “Só que tivemos que mudar um pouco a nossa maneira de jogar”, completou.
Os desafios foram vividos no Guarani em uma passagem de dois anos. A vida deu uma nova guinada em 1996 quando o então presidente do Guarani, Luiz Roberto Zini, resolveu negociar o jogador com o Atlético Mineiro. Apesar de existir outros negócios em vista na ocasião e que eram de sua preferência, hoje Fábio Augusto tem um sentimento de gratidão pelo histórico dirigente. “Hoje vendo algumas coisas acredito que tudo poderia ter fluido de uma maneira um pouco melhor, mas precisamos entender que o futebol era daquele jeito naquela época”, disse o ex-jogador. Na época em que Fábio Augusto jogou pelo Guarani, ainda estava em vigor o mecanismo do passe, em que o jogador ficava preso ao clube, mesmo se estivesse sem contrato.
A estadia foi curta em Belo Horizonte. Em menos de um ano, Fábio Augusto foi vendido para o Corinthians, um local em que confirmou a sua vocação para atuar mais à frente e como prêmio colheu o título de campeão paulista de 1997, em que estava inserido no pacote de investimento do extinto banco Excel. Durante a sua estadia no Corinthians, Fábio Augusto viveu um episódio desagradável. Em determinado dia, Fábio Augusto tomou uma vitamina, com a liberação do médico do Corinthians. Mas o produto tinha uma substância proibida. Resultado: o jogador foi pego no exame antidoping após uma partida e precisou cumprir dois meses de suspensão.
Para o ex-jogador, é interessante relembrar alguns fatos daquela história e que demonstram como foi alterado o relacionamento dos jogadores com a imprensa. “Eu fui com meu pai no Rio de Janeiro fazer o exame de contraprova e estava comigo o doutor Joaquim Grava e o Osmar de Oliveira que foi nos ajudar. O pessoal do laboratório assegurou que nada seria vazado. Quando fui pegar o avião a noticia já estava no site do Globo Esporte”, recordou.
Apesar de ter superado o episódio do doping e já encontrar-se adaptado e com desejo de construir uma trajetória em Parque São Jorge, Fábio Augusto teve uma surpresa ao receber uma boa oferta de trabalho do Botafogo (RJ).
Apesar do bom rendimento no gramado, Fábio Augusto lamentou que não tenha conquistado títulos em General Severiano. Oportunidades não faltaram e uma delas foi a decisão da Copa do Brasil de 1999, quando a equipe carioca perdeu o primeiro jogo para o Juventude por 2 a 1 em Caxias e depois empatou sem gols no Maracanã, o que era suficiente para a equipe gaúcha levar o troféu para casa. “Tecnicamente o time deles era bom e não foi à toa que chegaram na final, mas mexeram na escalação (do Botafogo) e o time ficou estranho”, lamentou Fábio Augusto.
Na sequência, uma rápida estadia no Vitória (BA) e após seis meses no Flamengo e no Botafogo, Fábio Augusto recebe uma proposta para atuar no futebol Russo, no Chernomorets “Eu tinha 29 anos de idade e era um salário que não iria ganhar mais no Brasil porque o pagamento seria em dólar. Mas eu não conhecia nada da cidade e nem do time”, confessou. “Os caras fizeram de tudo para me acolher”, completou.
O contrato longo, de quatro anos, não foi cumprido. O frio, as dificuldades enfrentadas em virtude das temperaturas baixas lhe fizeram voltar ao Brasil. Como não queria retornar ao futebol russo, o seu desejo era cavar um novo espaço profissional. Foi quando encontrou o então ex-zagueiro Gonçalves que lhe falou da procura de empresários de futebol para atuar na Suécia. Após um processo de negociação, Fábio Augusto desembarcou no Kalmar, da Suécia. Não poderia ter sido melhor. “Eles fizeram uma eleição recentemente pela internet e eu ganhei como principal jogador da história do clube”, comentou orgulhoso o ex-jogador.
Fábio Augusto saiu do Kalmar em 2007 e ainda teve passagens por América (SP), Sendas, Juventus, Seleção Brasileira Militar e encerrou a trajetória no River em 2012.
Ao observar o futebol de hoje, com uma metodologia diferente da relação do jogador com o público e a imprensa, Fábio Augusto não perde a chance de fazer algumas ponderações. “Hoje todo mundo é treinado para responder”, disse.
Para exemplificar de como sua época era diferente, Fábio Augusto recorda um tempo em que teve um compromisso com uma fornecedora de material esportiva e mesmo assim jamais compareceu nas feiras de exposição promovidas pela empresa.
O saldo para Fábio Augusto é positivo, tanto no gramado como no relacionamento com os veículos de comunicação. “Eu sempre tive uma boa relação com o pessoal da imprensa. Nunca paguei ninguém para me elogiar e as pessoas me elogiavam e eu agradecia. Agora, quando criticavam eu precisava aguentar também”, completou.