Pietro e Enrry conheceram o beisebol em projeto social, se apaixonaram pela prática e hoje são referências nos treinos e jogos
Pietro desenvolve um jogo mais estratégico (Divulgação)
Moradora do Dic 4, em Campinas, Karla sobrevive com dificuldades. Vulnerável socialmente, ela é cega do olho esquerdo e na sua casa quase sempre “falta alguma coisa”. “Às vezes, não tem o que comer”, diz a mulher de 42 anos, que recentemente passou a receber um benefício do governo. Mas o benefício que alimenta sua vida de esperança é o filho Pietro, de 8 anos. Pela realização do sonho de um dia se tornar jogador profissional, o garoto não mede esforços, o que enche a mãe de orgulho. E quem se enche de curiosidade e surpresa são aqueles que veem Pietro se dedicando a rebater uma bola ao invés de chutá-la.
Diferentemente da maioria dos garotos de sua idade, o filho de Karla deixou o futebol de lado para se empenhar na prática de um esporte pouco conhecido no Brasil. “O Pietro gostava bastante de futebol”, diz a mãe. “Mas depois que conheceu o beisebol, se apaixonou.”
O contato com a modalidade, que é popular principalmente nos Estados Unidos e no Japão, aconteceu por meio de um projeto social desenvolvido no Bosque dos Cambarás no bairro onde a família mora. Quando as atividades no local ainda estavam começando, há dois anos, Pietro foi com seu primo Enrry, também morador do Dic 4, conhecer a novidade. A partir de então, o beisebol entrou na vida dos dois.
“O Enrry sempre gostou de futebol, mas acho que foi por causa da influência dos colegas”, diz a mãe Thais, que trabalha como coletora de material reciclável na rua. “Hoje, só existe o beisebol na vida dele. Tudo que ele pede é relacionado a esse esporte”, conta. “Eu nunca vou parar de treinar até ser um jogador profissional. Quero ir para os Estados Unidos e para o Japão”, afirma o garoto, que também tem 8 anos. “Meu sonho é ser um atleta profissional”, repete o primo Pietro.
Professora e responsável pelo projeto social desenvolvido pelo Tozan, clube de beisebol de Campinas, Neusa Barbosa Delfino afirma que os dois garotos são uma referência nas atividades. “Eles treinam muito, nunca faltam, não atrasam, querem sempre aprender mais e estão evoluindo de forma extraordinária”, comenta. Para Neusa, a particularidade de jogo dos meninos se identifica com a personalidade de cada um. “O Enrry é mais levado, marrento e demonstra muita garra. Já o Pietro é doce, quieto e desenvolve um jogo mais estratégico.”
No ano passado, lembra Neusa, o time pré-infantil, do qual os dois primos fazem parte, “ganhou tudo que disputou”. As competições que eles participam são de T-boll, a categoria para iniciantes. Os treinos são aos sábados e domingos, no Bosque dos Cambarás e no Tozan. “Estamos querendo levar os dois nas atividades de quinta-feira também”, explica a professora. “Nossa intenção é treiná-los para pitcher (arremessadores).”
Depois de um período de férias, as aulas do projeto social no Dic 4 estão de volta. No primeiro dia de atividade do ano, 28 crianças estiveram presentes. Pietro e Enrry, claro, estavam entre elas. “Nunca imaginei que meu filho teria a oportunidade de praticar um esporte e, graças ao projeto, ele pode sonhar e se dedicar para um dia ser um atleta de sucesso”, celebra Thais.
Pietro ao lado da mãe Karla; Enrry junto da mãe Thais; Pietro (à esquerda) ao lado do primo Enrry (Divulgação)
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