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Um representante de uma família vencedora no futebol

Pai fez história no Vasco; irmão é considerado lenda no Internacional-RS

Esportes Já
13/11/2023 às 11:11.
Atualizado em 13/11/2023 às 11:11
Marcelo Prates não esquece dos momentos felizes que viveu com o futebol e utiliza os dissabores vividos nos gramados como experiência para levar uma vida cada vez melhor (Arquivo Pessoal)

Marcelo Prates não esquece dos momentos felizes que viveu com o futebol e utiliza os dissabores vividos nos gramados como experiência para levar uma vida cada vez melhor (Arquivo Pessoal)

O futebol é feito de tradições. Nobreza. Gente que rompe fronteiras e constrói uma dinastia nos gramados. Filhos que carregam um galardão capaz de reproduzir títulos e memórias afetivas em milhões de torcedores. Aos 52 anos, Marcelo Prates, ex-volante da Ponte Preta, tem muita história para contar. A sua e daqueles que viu viveram ao seu redor. Hoje residente em Campinas, Prates viu sua trajetória nascer por intermédio do seu pai, Laerte Nadir Eraldo Prates, conhecido como Laerte III, meia clássico e técnico, que iniciou sua trajetória no Vasco da Gama e que depois teve passagens por Bahia, Palmeiras e Cruzeiro.

Laerte encerrou sua carreira na década de 1960 e viu na sequência a explosão de seu filho, Jair Prates, o príncipe Jajá, revelado pelo Internacional (RS). Sua ascensão ao time profissional em 1974 lhe deu a oportunidade de viver o período de ouro da equipe, quando foi campeão brasileiro em 1975, 1976 e em 1979, o único título invicto conquistado em âmbito nacional até hoje. Em 1980, após o Internacional perder o título da Libertadores da América para o Nacional, em Montevidéu, Jair esteve alguns meses emprestado ao Cruzeiro e depois foi negociado com o Penarol. Ali, Jair Prates conquistou os títulos de campeão uruguaio, campeão da Libertadores e da Copa Intercontinental de 1982. Na decisão deste torneio, contra o Aston Villa da Inglaterra, Jair marcou o primeiro gol da vitória por 2 a 0 e foi considerado o melhor jogador em campo. Após o futebol uruguaio, Jair passou por Juventus, Barcelona de Guayaquil, Juventude, Vitória e ABC. O adolescente e jovem Marcelo Prates acompanhava tudo como testemunha ocular. Sabia que em dado momento seria a sua vez de defender o legado. O treinamento foi realizado da melhor maneira possível. “Eu frequentava vestiários, treinos, concentração e assistia palestras. Esta era minha vida. Diante disso, não tinha jeito. Não poderia ser outra coisa que não fosse jogador de futebol”, contou o ex-jogador hoje residente em Campinas. “Se você pegar algumas fotos da decisão contra o Vasco, eu era o mascote do time”, revelou Marcelo Prates.

A PREPARAÇÃO

Como uma história tão complexa para ser defendida, seria necessária uma preparação minuciosa. O passo inicial foi frequentar as escolinhas do Internacional, um expediente logo descartado devido à distância de sua residência. Diante disso, Marcelo Prates decidiu desenvolver-se na equipe do Colégio Dom Bosco. “Foi ali que fui lapidado e aprendi a me posicionar”, disse o ex-jogador. A escola tinha bom passado, pois tinha revelado os goleiros Márcio e Caetano, reservas de Carlos Germano no Vasco da Gama na década de 1990. Outra joia descoberta foi o ex-volante Leandro Ávila.

Quando se sentiu preparado e amadurecido, Marcelo Prates retornou às categorias de base do Internacional. Ali sua história mudou. Ele conquistou os títulos estaduais nas categorias mirim e infantil e foi convocado para as Seleções de base. Resultado: em 1990, Marcelo Prates chegou ao time principal do Internacional. “Eu achava que ganhar dinheiro e fazer meu pé-de-meia seria uma consequência natural. Então, nesse começo eu curtia muito o lado bom de ser profissional de futebol, de ser reconhecido na rua, de jogar um Grenal com Beira Rio lotado. Eu me realizei”, explicou.

Marcelo Prates durante confraternização com os amigos (Arquivo Pessoal)

Marcelo Prates durante confraternização com os amigos (Arquivo Pessoal)

A vida não é feita apenas de flores. Logo após subir aos profissionais, Marcelo Prates foi atingido pela nova política de contratações da diretoria, que focou seu interesse naquele ano, 1990, em atletas oriundos do Bahia, que em fevereiro do ano anterior tinha vencido o próprio Colorado na decisão do Campeonato Brasileiro. “O problema é que não funcionou. E no final de tudo, caiu no colo dos jogadores mais novos e quase que nós caímos para segunda divisão”, recordou.

Simultaneamente, Marcelo Prates, com menos de 20 anos, ainda não conhecia as armadilhas dos bastidores do futebol. Pagou um preço alto. Sem pensar nas consequências, Marcelo Prates batia de frente com dirigentes e treinadores. Reivindicava e cobrava por melhorias que muitos veteranos não tinham coragem de falar.

Até que em 1991 um episódio alterou a sua vida profissional. Marcelo Prates recorda que o Internacional estava prestes a estrear no Campeonato Brasileiro e o atleta tinha o desejo de renovar o contrato e com aumento de salário. Ao pedir um conselho ao veterano técnico Ênio Andrade, Prates não foi desencorajado. Pelo contrário. Resultado: Marcelo Prates perdeu espaço na equipe e ficou um ano treinando em separado. Os rendimentos caíram e os proventos vinham basicamente dos bichos pagos ao Departamento de Futebol Profissional. “Tinha um bicho e no elenco existia 30 jogadores com contrato, mas se existiam 40 jogadores em treinamento, eram 40 premiações”, explicou. Naquele período, Marcelo Prates não podia pedir desligamento do clube gaúcho, porque ainda existia a instituição do passe, que deixava o atleta preso ao clube, mesmo que ele não tivesse contrato em vigor.

SURGE A PONTE PRETA

Foi neste momento que a Ponte Preta entrou pela primeira vez na vida de Marcelo Prates. A Macaca na época era presidida por Marco Antonio Abi Chedid e tinha Wanderley Luxemburgo como treinador. Marcelo Prates impressionou nos primeiros treinamentos. Tinha desempenho notável e o sucesso parecia inevitável. Até que em uma atividade, ele recebeu uma tesoura no tornozelo e ficou inativo. O período de recuperação não era pleno e parecia que tudo iria por água. Até que recebeu uma ajuda inesperada, que foi do fisioterapeuta e ex-presidente da Ponte Preta, Nivaldo Baldo. “Era para ficar curado em quatro ou cinco meses. Eu me curei em um mês. O Nivaldo me prometeu que me deixaria novinho. E ele deixou”, disse. Pronto e restabelecido, era o momento de buscar espaço na Macaca. O trajeto aconteceu por intermédio do time de aspirantes, que a Ponte Preta decidiu em 1991. “Eu pedi uma chuteira branca de um comerciante e ele trouxe. Passamos na semifinal pelo São Paulo e depois pelo Guarani na decisão e todo mundo só falava da minha chuteira branca, porque os jogos eram transmitidos pela televisão”, recordou Marcelo Prates. A Macaca foi campeã da competição.

Marcelo Prates sentiu evolução no seu futebol durante a temporada, mas tudo mudou novamente em um piscar de olhos. “O Luxemburgo pediu dois reforços e a diretoria não atendeu. Após uma partida contra o União ele pediu demissão. E alguns dias depois, os reforços chegaram”, recordou o ex-jogador.

RODA VIVA DO FUTEBOL

Após este período encerrado em 1992, o volante passou a viver a roda viva do futebol e andou por Coritiba, Bragantino e Novorizontino até que retornou novamente ao estádio Moisés Lucarelli em 1996. Apesar de ter sido monitorado pelo São Paulo, o mercado lhe aprontou outra surpresa e naquele ano Marcelo Prates recebeu um convite do Glória de Vacaria. Prates ofereceu resistência e a decisão foi se aventurar na Coreia do Sul. E que não lhe traz boas recordações. “Emagreci 10 quilos. Toda a comida era à base de couve. Um dia, o motorista que me atendia, me levou a um lugar que servia macarrão. Comi tanto que a partir daquele dia ele só me chamava de Espaguetti”, conta de maneira bem humorada. Após alguns meses, o telefone tocou novamente. Era o Glória de Vacaria. O clube gaúcho insistia no convite. Dessa vez, Marcelo Prates aceitou. Não se arrependeu. “Foi o lugar que mais ganhei dinheiro e que rendeu, pois consegui comprar meu primeiro apartamento. Morava bem, comia bem e foi muito bem tratado”, contou o ex-jogador.

A Lei Pelé ainda não era realidade e isso dificultava o mercado de jogadores. Um novo retorno ao Bragantino, uma passagem pela Internacional de Limeira e na sequência foi aberta a porta para Marcelo Prates trabalhar com Eli Carlos na Francana, algo que ele nunca vai esquecer. “Ele era um baita de um treinador. Administrava bem o vestiário e o grupo. Eu convivi com ele e posso dizer que ele ao lado do Luxemburgo eram aqueles que eram os melhores para administrar vestiário”, explicou.

Marcelo Prates com a família (Arquivo Pessoal)

Marcelo Prates com a família (Arquivo Pessoal)

NOVO DISSABOR

Apesar da boa experiência, Marcelo Prates embarcou em uma nova aposta ao aceitar o convite do Paraná Clube, que naquela época era a terceira força do estado e tinha um calendário que incluía Campeonato Brasileiro, estadual e Copa SulMinas. Estava tudo acertado. Até que novamente o destino pregou uma peça. “Quebrei a perna em um jogo entre Francana e Mirassol e que não valia nada”, disse.

Após passar pela recuperação clínica e física, Marcelo Prates ainda conseguiu espaço para atuar no América-RN, Santo Ângelo, Paraguaçuense, Santa Cruz (RS), SERC e Grêmio Maringá.

Diante de tantas idas e vindas, hoje, em Campinas, faz um balanço positivo daquilo que viveu como jogador de futebol. “Eu fui uma criança muito feliz e duvido que tenha alguém que foi mais feliz do que eu na infância e adolescência. E até o primeiro ano de profissional eu fui muito feliz e completo. Depois eu continuei e corri atrás. Se eu tivesse a experiência que tenho hoje seria outra história. Mas não dá para ter né”, completou Marcelo Prates, que vive em Campinas com sua esposa Renata, com quem é casado há 28 anos, e com as duas filhas, Júlia e Vitória. E sempre pronto para viver novas histórias deste esporte que está interligado para sempre com sua família.

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