O gol de falta marcado por Fellipe Bastos está até hoje na memória dos torcedores (Cedoc/Rac)
No dia 4 de dezembro de 2013, um verdadeiro mar humano invadiu o Estádio do Pacaembu. As catracas registraram a presença de 28.477 pagantes que presenciaram a Ponte Preta na decisão da Copa Sul-Americana. A partida era o desfecho de uma saga que começou de maneira despretensiosa e se transformou em uma história que não sai da cabeça do torcedor pontepretano até hoje, após 10 anos.
A largada na competição internacional aconteceu em dois jogos contra o Criciúma. Nos primeiros 90 minutos, vitória da Alvinegra por 2 a 1. Um empate sem gols levou a equipe à próxima fase. Naquele momento, a Ponte realizava o sonho de disputar uma partida contra um oponente estrangeiro. E o primeiro foi o Deportivo Pasto. A equipe colombiana encarou um Moisés Lucarelli com 14,7 mil pessoas que empurraram a equipe para um triunfo por 2 a 0, gols de Uendel e Fellipe Bastos. Na partida de volta, a vitória da equipe colombiana por 1 a 0 foi insuficiente para tirar da Alvinegra a vaga das quartas de final, que seria disputada contra o argentino Vélez Sarsfield, campeão da Copa Libertadores de 1994. Resultado: empate sem gols no Majestoso diante de 12.506 torcedores. Mas o melhor estava por vir. Em Buenos Aires, a equipe surpreendeu. Com gols de Elias e Fernando Bob, o time passou para as semifinais diante do São Paulo.
No jogo inicial, a Macaca não tomou conhecimento do Tricolor Paulista e venceu por 3 a 1. Nos 90 minutos decisivos realizados em Mogi Mirim (já que a Conmebol exige um estádio acima de 20 mil pessoas para abrigar uma partida semifinal e o Moisés Lucarelli não tinha tal capacidade) o empate em 1 a 1 carimbou a vaga na decisão.
Antes de a bola rolar no Estádio do Pacaembu, a torcida Ponte Preta exibiu um mosaico que trouxe emoção ao torcedor. O que ninguém esperava era que a Macaca enfrentasse tantas dificuldades para fazer prevalecer o seu mando de campo. Após um primeiro tempo sem muitas muitas emoções, Goltz colocou os argentinos em vantagem aos 13 minutos do segundo tempo. Quando tudo parecia levar os argentinos para a construção de uma vantagem para o confronto de Buenos Aires, Fellipe Bastos cobrou uma falta de modo estupendo e deixou tudo igual. O empate amargo não foi o único saldo negativo. Uendel tomou o terceiro cartão amarelo e virou desfalque para a partida decisiva, que terminou com vitória do Lanús por 2 a 0.
Apesar dos dissabores, os torcedores até hoje não esquecem do que viveram naquele 04 de dezembro de 2013. O Esporte Já colheu depoimentos de torcedores que transmitiram o que viveram e sentiram naquela noite histórica no estádio do Pacaembu.
"A PONTE PRETA PODE SONHAR GRANDE"
"Talvez tenha sido o jogo que mobilizou mais intensamente a torcida da Ponte Preta em toda a sua história, competindo em igual tamanho com a final do Campeonato Paulista de 1977. O primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana de 2013, para mim, foi mais impactante, porque se tratava de um título internacional de repercussão. Fomos juntos eu, minha esposa, filha, sobrinho e uma amiga com muita expectativa boa. O clima foi se intensificando a partir da Rodovia dos Bandeirantes. Muitos carros, ônibus, vans levando a bandeira alvinegra. Buzinaços, assobios, gritos de incentivo e o slogan 'vamos ser campeões'. A Rodovia se transformou em uma via particular de torcedores da Ponte. Foram quase 30 mil dentro de um Pacaembu pulsante naquela noite de quarta-feira, início de dezembro de 2013. A praça Charles Miller estava abarrotada de pontepretanos. Era o jogo da semana, do mês. Nem o gol do Lanús, no início do segundo tempo, esfriou o ímpeto da torcida. Mesmo porque Fellipe Bastos arrancou o empate numa cobrança de falta que muitos torcedores comentam até hoje, dez anos depois. A festa, se não foi completa, serviu para agrupar a torcida, aumentar o estigma de torcer pela Ponte Preta e reforçar vínculos com o clube. Aquela campanha até a final da Copa Sul-Americana mostrou que a Ponte pode sim sonhar grande, voar alto e voltar a dar grandes alegrias para sua torcida."
Marcos Sambo
é jornalista e publicitário.
"EU ERA FELIZ E NÃO SABIA"
"O dia 04/12/2013 foi um dos dias mais incríveis da minha vida de torcedora. Claro que a surpresa de uma decisão desse tamanho, e o frio na barriga da expectativa, moviam minha vida desde o dia que ganhamos do São Paulo no Morumbi. E também, como sempre, o medo da decepção. Mas nem nos meus melhores sonhos imaginaria que tanta gente estaria fazendo do Pacaembu a nossa casa de um jeito inesquecível, um ambiente de energia única. Eu lembro de viver aquilo tão intensamente durante o jogo que alguns lances não saem da mente. O gol do Fellipe Bastos está para sempre gravado nas minhas lembranças. Eu me emociono todas as vezes que assisto, de todos os ângulos. Óbvio que o resultado não foi o que desejávamos, e é claro que se pudesse voltar no tempo viveria tudo aquilo tão intensamente como vivi. Só pediria, por favor, para o Jorginho tirar o Uendel um pouco antes. Como se estivesse avisando um sinal de 'Papai do Céu' de que a sorte poderia ter sido diferente se... Enfim. 10 anos se passaram, mas parece que foi ontem. E está tão distante da realidade atual, mas tão distante, que me dá ainda mais vontade de viver tudo isso de novo. Como eu era feliz e não sabia. Que saudades de ter esse frio na barriga de novo!"
Andréa Beletti
é bancária
"EU ACHAVA QUE ESTAVA NO MOISÉS LUCARELLI"
"Eu só não fui no primeiro jogo da campanha da Copa Sul-Americana lá em Criciúma, depois fui em todos, inclusive na Colômbia contra o Deportivo Pasto. O meu sentimento era de perplexidade. Alcançar uma final depois de passar pelo Pasto, na altitude da Colômbia, depois ganhar do Vélez, na Argentina, e do São Paulo, no Morumbi. Até hoje eu sofro com esse campeonato. Eu vivi meses de êxtase, de agosto a dezembro, mas quando chegou o dia 4 de dezembro de 2013 eu não acreditava que a Ponte estava em uma final de campeonato sul-americano. Eu fui para o jogo de van com os amigos que eu fiz naquele ano. Na Rodovia dos Bandeirantes, a fila com os ônibus da torcida não tinha fim. Chegando na frente do Pacaembu, uma multidão de pontepretanos. Eu estava anestesiado, não sei como eu entrei no estádio, mas lá dentro eu achava que estava no Moisés Lucarelli. Aqueles 90 minutos foram intensos. A festa que a torcida fez foi inesquecível. Na hora do gol do Fellipe Bastos, a minha alma saiu do corpo. Parecia que eu estava flutuando na arquibancada. Uma sensação indescritível. Não existem palavras para explicar. Ficamos no quase mais uma vez, mas não me arrependo de nada. Eu fiza a minha parte, fui lá em Lanús acreditando na vitória que não veio. Há algumas frases que eu considero feitas para o torcedor pontepretano: 'não são 90 minutos, é uma vida inteira' ou 'história vivida é muito melhor do que história contada'. Também a frase 'só entende da minha loucura quem compartilha da mesma paixão'. A gente guarda na memória e no coração tudo que vivemos indo atrás dessa paixão que se chama Associação Atlética Ponte Preta."
Carlos Haroldo Marmirolli
é técnico em administração