Um herói de mão cheia e exemplar

Praça de Esportes do São Bernardo lotada. Instante máximo de tensão. O goleiro Pedrão vai para mais uma cobrança de pênalti para o S.C Icaraí. Decisão da Copa Irdival Freazzato. Buscou força, concentração e habilidade para prolongar a disputa. Não deu. Encontrou como obstáculo Renan Schumaher, o Schumacher, de 32 anos, arqueiro do R7 Picerno. Jogo encerrado e título conquistado. Festa contínua para o arqueiro que viveu nos dias 24 e 25 de junho um final de semana de sonhos. No sábado, foi decisivo na conquista do São Fernando, de Santa Bárbara d´Oeste, no campeonato amador local. No dia seguinte, a consagração no torneio promovido pela Liga Campineira de Futebol.

Nada aconteceu por acaso. A trajetória do goleiro tem semelhanças e diferenças com muitos que batalham por um espaço no futebol amador da Região Metropolitana de Campinas. Tudo começou na infância. Motivo: o pai, Joel, era goleiro e o filho já acompanhava essa trajetória. Joel percorria times como o Estrela, de Santa Bárbara d´Oeste e em competições promovidas por empresas. Não foi difícil para que Renan ficasse fascinado pela função na adolescência e fase adulta. O passo inicial ocorreu no Paulínia Futebol Clube, em que esteve inserido nas categorias de base até 2009. Na etapa seguinte, atuou no time Sub-20 da Internacional de Limeira, quando atuou na Copa São Paulo e ficou inserido no departamento de futebol profissional. Ali permaneceu até 2012. Uma breve estadia no Taquaritinga foi suficiente para pendurar as luvas. Segundo o herói do R7 Picerno, dois motivos foram determinantes para a decisão. A primeira foi a de perceber que a sua altura – 1,82 metros- impediria uma progressão mais sólida na carreira diante da preferência por goleiros mais altos. Outro fator decisivo foi o seu entendimento sobre os problemas enfrentados pelas equipes do interior paulista, em que o atraso de salários e a ausência de infraestrutura estão presentes. “Sem empresário fica difícil. Eu precisava quitar as minhas obrigações e o time do interior é complicado, porque demora para receber”, explicou o atleta, que largou o futebol profissional aos 21 anos.

Renan, o Schumacher, não esquece dos obstáculos sofridos para comprovar o seu valor no futebol profissional. “Eu sabia do meu tamanho e procurava me destacar em outras características, como reposição de bola e tempo de bola em cruzamento”, explicou.

Com essa página virada, Schumacher passou a considerar o futebol amador como sua praia. Após fazer uma parada de dois anos, a sua história recomeçou. Mas o destaque definitivo foi em 2017, quando atuou no São Fernando, de Santa Bárbara d´Oeste. “A partir daí comecei a atuar na região ”, disse o goleiro.

A construção do primeiro semestre perfeito teve início quando o técnico André Moura assumiu a equipe do R7 Picerno para a Copa Irdival Frezzato. Como todo treinador atuante no futebol amador, o treinador levou atletas de confiança e entre eles estava o goleiro Schumacher. “Nós tínhamos jogado por uma outra equipe, o Águia, e chegamos à semifinal no ano passado (da Copa Irdival Frezzato)”, completou.

O goleiro fez jus a esperança depositadas em suas mãos nas fases decisivas, quando pegou pênaltis contra o Oziel, Fumaça Futebol Samba e Cerveja, também de Sumaré, e na decisão contra o Icaraí. Mas ele sabe o quanto custou. “O Icaraí é um time jovem e muito qualificado. E nós, com jogadores experientes, fizemos um paredão para segurar os meninos. E deu certo”, completou o herói da conquista da Copa Irdival Frezzato.

CRIATIVIDADE PARA VIABILIZAR UMA BOA DEFESA

O goleiro Schumacher não esqueceu das estratégias e saídas adotadas para fazer com que o sistema defensivo pudesse ter um rendimento satisfatório para buscar o título da Copa Irdival Frezzatto.

Corretor de imoveis durante a semana, o goleiro não sofreu para assimilar as estratégias do técnico André Moura. “A gente sempre joga junto. Em relação aos titulares e suplentes, onde um vai o outro vai. Durante a semana jogamos um Fut7 ou Futsal para sustentar o entrosamento”, disse o goleiro.

A preocupação com os detalhes e a boa condição técnica foram presentes na decisão contra o S.C Icaraí. “Eu vou pelo jogo (para saber como o jogador cobra o pênalti). Presto atenção na forma que o jogador bate na bola, se ele dá passe de chapa. Também tenho um feeling na hora que observo o jeito que o atleta corre e vai para a bola. Quando o cobrador vem mais lento é porque ele vai chapar na bola e quando vem mais rápido geralmente a batida vai cruzada”, disse o goleiro.

GOLEIRO É UM TRABALHADOR PADRÃO DO FUTEBOL AMADOR

Assim como vários atletas que atuam no futebol amador de Campinas e região, o goleiro Schumacher tem uma vida atribulada aos finais de semana. Pai de três filhos, ele precisa auxiliar a sua esposa, Sintique, na criação dos herdeiros e dar conta dos jogos por várias equipes. Atualmente, ele tem vínculo com o São Fernando, de Santa Bárbara do Oeste e também no São Roque, sediado em Americana. Além disso, ele encontra tempo para atuar pelo Santa Maria, de Rio Claro. “Estamos inseridos em todos os lugares”, afirmou o arqueiro com bom humor.

Schumacher admite que tal programação só é possível de ser cumprida em virtude da ajuda financeira recebida dos clubes. “Nos campeonatos da região, quando um começa o outro acaba. Mas o goleiro geralmente dá preferência. É um jogo no sábado e outro no domingo”, explicou.

Herói do R7 Picerno, o goleiro Schumacher terá uma nova casa em Sumaré no segundo semestre. Ele acertou com o Unidos do Picerno, rival do R7. “Esse convite já tinha sido feito antes de ser escolhido pelo R7. Como o Unidos não entrou na Copa Irdival Frezzato não teve problema. Mas eles entenderam a situação”, arrematou.