Silvio guarda até os dias atuais, os objetos que relembram conquistas do tempo em que defendeu a camisa da Macaca (Arquivo Pessoal)
A história marca os protagonistas. Alguns são elevados à condição de deuses. Entram no coração do torcedor para sempre. Mas, para que alguns brilhem, é preciso contar com a renúncia de muitos. Gente que corre, batalha, vai atrás da bola e não desiste na primeira resposta negativa. São pessoas que se entregam no gramado e talvez tenham o reconhecimento apenas quando se aposentam. Ou que recebem elogios no âmbito dos amigos, da família e daqueles com os quais conviveram pelos gramados espalhados pelo Brasil. Este roteiro pode ser encaixado em Silvio José dos Santos Júnior, ou apenas Silvio, volante que defendeu a Macaca na década de 1980 e tem muita história para contar.
Sempre ligado ao futebol, sua porta foi aberta a partir de uma pessoa que conhecia o pai do ex-zagueiro e atual comentarista esportivo Juninho Fonseca, e que foi conhecê-lo em Campinas, já na Ponte Preta. O teste inicial foi no Guarani, onde foi avaliado por Adaílton Ladeira. Não foi aprovado, mas, tempos depois, obteve espaço na Ponte Preta. Nenhuma mágoa ficou impregnada no ex-jogador. Pelo contrário. Quando encontrava o treinador, a saída adotada era o bom humor. “Quando não serve, eles falam para deixar o telefone que eles dariam retorno. Quando encontrei com ele em alguns eventos, eu falava que ainda estava esperando ele me ligar”, afirma Silvio, com humor.
O que importa é a trajetória na Ponte Preta, iniciada em 1979. No início, Silvio fez uma semana de testes para ser avaliado por Carlinhos, técnico do Juvenil, enquanto Bebeto era o preparador físico — e que, depois, fez parceria com Cilinho em vários clubes.
Teste superado, lugar garantido, Silvio passou a lutar por espaço entre os titulares das categorias de base. Alguns eventos foram emblemáticos, como as conquistas da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Em 1981, no primeiro título, Silvio era reserva e atuou em duas partidas. Na ocasião, o destino jogou a favor para que ele entrasse em campo. “Alguns jogadores foram prestar vestibular na PUC e não puderam jogar. Na hora do jogo, no vestiário, o seu Milton (dos Santos, técnico) fez a mudança e jogou o Carlinhos na lateral, como era a posição de origem dele. Ele não precisou improvisar dois jogadores. E eu fui na zaga e nós fomos felizes”, explicou. Tudo correu de maneira correta até a conquista do título.
No ano seguinte, Silvio não deu chance à concorrência e foi titular. A equipe foi bicampeã ao bater o Santos na decisão. “Fomos bicampeões e foi um feito muito grande, que nos ajudou bastante a chegarmos ao profissional”, relatou.
Silvio e mais seis atletas foram promovidos, entre eles, o centroavante Chicão. No time principal, Silvio trabalhou com treinadores marcantes, como Vanderlei Paiva, responsável por sua promoção. Antes da confirmação no time profissional, encarou obstáculos nas gestões de Dino Sani e de Tim. “Eu fiquei no profissional, mas não jogava nem no profissional nem no juvenil. Mas o Dudu (ex-volante do Palmeiras e tio de Dorival Júnior, ex-técnico da Seleção) foi marcante na minha carreira. Eu estava praticamente encostado na Ponte Preta e ele chegou. Com a suspensão do Zé Mário no profissional, eu tive a oportunidade de jogar contra a Internacional de Limeira e, depois, fiquei como titular”, relembrou o volante, que ainda faz questão de homenagear Nicanor de Carvalho, que também lhe concedeu oportunidades.
Sua presença culminou na campanha da Divisão Intermediária de 1989, quando conseguiu o acesso ao lado de atletas como o zagueiro Pedro Luís, o volante Tuca, o armador Ernani e o centroavante Vagner, todos comandados pelo técnico Osmar Guarnelli. “Todos os jogos que fiz pela Ponte Preta sempre foram marcantes. Só de usar essa camisa já é algo agradável. Eu tenho um amor enorme pela Ponte Preta”, disse Silvio, que revela o motivo dos jogadores formados em casa sempre terem a preferência da torcida. “Sempre entrávamos com aquela vontade, aquela gana de vencer”, arrematou.
Silvio viveu também agruras na Ponte Preta. Ele não esquece o que viveu em 1988, quando a Macaca lutou para entrar na primeira divisão por meio da Justiça Comum, ganhou uma liminar, mas as equipes adversárias não entravam em campo. O único jogo realizado foi contra o Corinthians, que terminou empatado por 0 a 0. Silvio atuou na Ponte Preta de 1982 a 1989 e, em 1991, disputou oito jogos pelo Rio Branco de Americana. Suas participações foram pelo Torneio Seletivo Benedito Teixeira, mas ele não permaneceu para o Campeonato Paulista.
Chegou ao Tigre após superar as sequelas de um grave acidente automobilístico, no qual chegou a ficar em coma, segundo informações do “Almanaque do Rio Branco”, de autoria do jornalista Cláudio Gioria. Após sair do Rio Branco, Silvio atuou por Figueirense, Taguatinga, CRAC (GO) e Anápolis, onde encerrou sua carreira. “Joguei até os 33 anos. No passado, com essa idade, você já estava no final da carreira. Não é como hoje, que jogador atua até os 40 anos”, explicou.
Silvio leva hoje uma vida tranquila. Reside em Viradouro, cidade localizada a 290 quilômetros de Campinas. Ali, administra um bar que foi uma herança deixada pelos pais. Antes, foi proprietário de escolinhas de futebol. Tem a consciência e a convicção de ter deixado um legado digno no futebol. “Deixei amizade com aqueles que jogaram comigo. Estamos sempre nos reunindo ou nos falamos por celular. Conversamos sobre o passado e o momento que a Ponte Preta atravessa”, completou Silvio, um guerreiro que não é esquecido pelos pontepretanos.
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