RECORDAÇÃO

Um craque do passado disposto a construir um novo futuro ao Guarani

Ex-ponta esquerda na década de 1980, João Paulo mostra satisfação pelos frutos do projeto bugrinho

Esportes Já
26/07/2023 às 10:02.
Atualizado em 26/07/2023 às 10:02
João Paulo mostra satisfação pelos frutos do projeto bugrinho (Divulgação)

João Paulo mostra satisfação pelos frutos do projeto bugrinho (Divulgação)

Quando o Guarani vivia sua época de ouro, na década de 1980, qualquer torcedor que compareceu naquele tempo ao estádio Brinco de Ouro já sabia o roteiro: um garoto esguio, de estatura mediana arrancava com a bola em velocidade e buscava a linha de fundo. Parecia que a bola ficava colada no pé. Sua habilidade e força transformavam o ataque bugrino em um compartimento temido pelos adversários. Ninguém sabia a quem marcar, se o ponteiro ou o centroavante posicionado nas imediações na pequena área. A indecisão facilitava a construção do gol que provocava êxtase nas arquibancadas. E tudo isso era proporcionado por Sérgio Donizete Luiz. Seu apelido: João Paulo. Um ídolo que até hoje tem o seu nome ligado ao Alviverde campineiro, seja nos anos em que trabalhou no projeto Bugrinho ou agora como auxiliar técnico da equipe Sub-15 e Sub-17.

Em conversa com a reportagem do Esportes Já, João Paulo demonstra que o projeto Bugrinho é o seu xodó. Enumera argumentos para atestar a validade de uma ideia em que ele teve participação direta desde a sua criação em 2005 e onde permaneceu até 2018. “Nós temos jogadores no Sub-15 e do Sub-17 que são do projeto Bugrinho. É uma escola que ensina e que tenta levar para as categorias de base. É lógico que não são todos que vão virar jogador. Mesmo assim, é algo interessante”, afirmou João Paulo, rápido em enumerar as atividades desempenhadas pelo projeto Bugrinho e que concedem frutos ao clube em médio e longo prazo. “O projeto bugrinho é mais do que uma escolinha. Ali ensina-se fundamentos e outras atividades, algo necessário para os garotos de 13 a 14 anos”, disse o ex-jogador.

Seu entusiasmo e amor pelo projeto Bugrinho é tamanho que relembra profissionais que foram monitores do empreendimento e que se firmaram no mercado do futebol, como Rafael Paes, atuante nas categorias de base do Palmeiras. “É uma porta de entrada”, resumiu.

Ao embrenhar-se dentro da estrutura tanto do projeto Bugrinhos, como das categorias de base, João Paulo compreendeu porque o clube não perdeu o seu DNA de revelador de talentos do futebol brasileiro. Uma história que, aliás, ele participou a partir de 1981, quando foi descoberto após atuar no futebol amador com a camisa do Bela Vista em partida contra o Bandeirante. Cidinho, que atuava como técnico de base no Guarani, assistiu, gostou e levou o então jovem de 16 anos ao Brinco de Ouro.

Ali, João Paulo presenciou o desenvolvimento de outros personagens como Neto e Evair. Hoje, ele admite, o quadro é bem diferente. Para pior. “É complicado encontrar jogador na atualidade. Mas ainda encontramos alguns. E quando encontra é preciso ter cuidado para que não ocorra a perda do jogador”, disse João Paulo, que notou uma mudança de postura por parte do próprio atleta. “Na nossa época, a gente só pensava em jogar futebol. Jogávamos em qualquer campinho. Agora, todo mundo só quer saber de telefone celular ou computador. Na nossa época, não tinha nada disso. A gente só queria jogar”, descreveu o ex-jogador.

ANOS DE OURO NO BRINCO DE OURO

Foi essa vontade, determinação e gosto pela bola que fez João Paulo trilhar um caminho de sucesso no Guarani. Primeiro nas categorias de base. Depois na equipe profissional, período em que vivenciou campanhas inesquecíveis e ganhou o apelido de “papinha do Brinco”, em referência ao Papa falecido em abril de 2005.

Tal marca esteve presente em duas campanhas. A primeira, o vice-campeonato brasileiro de 1986, cujo time era comandado por Carlos Gainete no banco de reservas e por Pedro Pires de Toledo na preparação física. Ficou o gosto amargo da decisão perdida em casa para o São Paulo nos pênaltis.

Após dois anos, reforços como o volante Paulo Isidoro foram contratados e a equipe perdeu a decisão do Paulistão em casa na prorrogação para o Corinthians, com gol de Viola. As derrotas doeram, mas ele considera que a perda do Brasileirão foi mais decepcionante. “Nós conseguimos chegar à final ao eliminar grandes equipes e perdemos nos pênaltis”, sem deixar de esquecer o pênalti sofrido na final de 1986 e que não foi marcado pelo então árbitro José de Assis Aragão. “Foi pênalti claro. Se aquele lance ocorresse nos dias de hoje, além de marcar o pênalti, o (o zagueiro ) Wagner Basílio seria expulso”, afirmou João Paulo.

AVENTURA NA ITÁLIA

Após dar assistências e comemorar gols no Guarani, a partir de 1989, João Paulo passou a viver uma nova aventura, dessa vez no Bari, da Itália. O Campeonato Italiano era o mais badalado do planeta e João Paulo construiu uma história. Em seu primeiro ano, João Paulo foi considerado o melhor jogador estrangeiro atuante no país e venceu jogadores como Diego Maradona, Marco van Basten, Frank Rijkaard, Ruud Gullit, Lothar Matthäus, Rudi Völler, Andreas Brehme, Careca, Toninho Cerezo e Evair.[ Com sete gols em 33 partidas e foi o artilheiro da equipe no ano. Após marcar 12 gols na temporada 1990-1991 tudo conduzia para um crescimento de João Paulo no mercado italiano e a estadia em um clube de ponta.

O roteiro mudou quando ele teve uma uma fratura na perna na partida diante da Sampdoria, após receber um carrinho de Marco Lanna. Resultado: 18 meses ausentes do gramado. Quando retornou aos treinamentos no Bari, a realidade era outra. A equipe estava na Série B do Italiano. Ele não decepcionou e terminou sua passagem com 107 partidas, sendo que 64 foram na primeira divisão, com 24 gols marcados. “Até hoje eu sou ídolo na Itália e isso me dá muita satisfação. Tive a chance de sair para a Inter de Milão mas depois tive a lesão (fratura)”, lamentou.

Ao retornar ao futebol brasileiro, a partir de 1994, João Paulo teve passagens por Vasco da Gama, Goiás, Corinthians, Ponte Preta, Paulista de Jundiaí, Bahia e encerrou a carreira em 2004 no União São João de Araras.

NOVO CAPÍTULO NO GUARANI

O segundo capítulo no futebol brasileiro proporcionou nova passagem no Guarani. E o dérbi realizado no dia 28 de outubro de 2002, válido pelo Campeonato Brasileiro não sai de sua memória. Ao entrar como titular do alviverde, ele viu a equipe abrir uma vantagem de 2 a 0 e permitir a virada pontepretana por 4 a 2. “Fiz o segundo gol e não voltei para o segundo tempo por causa de uma lesão. Foi uma derrota doída”, admitiu.

Entre idas e vindas, derrotas e vitórias, João Paulo transformou-se em um patrimônio do Guarani e um observador do futebol atual. Encontra semelhanças do seu estilo de jogo em Vinícius Junior, revelado pelo Flamengo e atualmente no Real Madrid e também em Everton Cebolinha, do Flamengo.

Independente da trajetória que será construída por esses craques internacionais, João Paulo celebra o fato de muitos torcedores bugrinos nunca terem lhe esquecido e encaminharem reverência máxima ao seu futebol exibido no passado. “Em todos os lugares em que compareço, principalmente nos jogos do Guarani, todo mundo que eu fui foi um dos melhores que assistiu no campo. Eu fico muito honrado. Foi realizada uma enquete e fui eleito o melhor camisa 11 de todos os tempos do clube. Isso me dá uma grande satisfação”, completou João Paulo, pronto para auxiliar na construção de novos ídolos para o time que lhe abriu as portas.

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