Andarilho da bola, Alexandro faz um balanço dos feitos e erros cometidos durante a carreira
Após passar por vários clubes, Alexandro estipulou que o Serrano será o seu último time; ele não esquece o carinho e os momentos vividos na Ponte Preta, especialmente na conquista do acesso na Série B de 2014 e o apelido de Macacão dado pelas arquibancadas (Gladstone Lucas-Serrano F.C)
Considerado um dos sucessos do cantor Roberto Carlos, a música “O Show Já terminou” tem versos prontos para serem absorvidos por qualquer jogador de futebol profissional. Diz a primeira estrofe: “O show já terminou, vamos voltar à realidade / Não precisamos mais usar aquela maquiagem / Que escondeu de nós / Uma verdade que insistimos em não ver”. A canção é atemporal. O instante de pendurar as chuteiras chega para qualquer um que balança as redes. E esta contagem regressiva começa a ser vivenciada por Alexandro da Silva Batista, ex-centroavante da Ponte Preta. Aos 37 anos e atualmente com a camisa do Serrano, do Rio de Janeiro, o atleta começa a ensaiar os últimos lances como atleta profissional. E detalhe: a Ponte Preta tem um capítulo nesta história, que teve um começo bem diferente da maioria dos personagens do mundo da bola.
Nascido e criado em Cabo Frio–RJ, Alexandro (que se pronuncia Alecsandro, algo que nem ele consegue explicar o motivo), tinha a pelada como entretenimento preferido. Mostrava aptidão desde os primeiros chutes. Até que um dia, observadores e empresários desembarcaram na cidade para fazer uma peneira. Com 14 anos, ele foi aprovado e mal sabia que o seu destino seria a Roma, da Itália. “Foi uma experiência bacana, mas no começo foi muito difícil. Eu tinha mais dois colegas que eram brasileiros e um tradutor”, descreveu.
A experiência no futebol italiano durou dois anos. Por motivos familiares, Alexandro não teve saída a não ser retornar para Cabo Frio–RJ. Boas atuações na equipe das categorias de base e no time principal da Cabofriense renderam oportunidades para atuar no Joinville–SC e no Resende–RJ, o que foi suficiente para abrir as portas para defender o Botafogo-RJ. O centroavante contabiliza a experiência como positiva, mas a sua decisão foi a de se transformar em um andarilho da bola. No período de 2008 a 2014, o jogador atuou por Santo André, Resende, Duque de Caxias, Pohang Steelers (Coreia do Sul), Santa Cruz, Náutico, Macaé, Tupi, Bangu, Icasa e Penapolense. No clube paulista, o atacante ajudou o time a chegar as semifinais da competição, quando perdeu para o Santos. Foi o suficiente para atrair o interesse da Ponte Preta. Neste tempo, ele foi fundamental para a obtenção do acesso e do vice-campeonato com 69 pontos. Ali, o atleta viveu uma experiência única, tamanha a proximidade que tinha com as arquibancadas. “É uma torcida que tenho o maior respeito. Torço de coração”, explicou.
Segundo ele, a campanha conduzida pelo técnico Guto Ferreira teve uma receita simples de sucesso. “O segredo foi a entrega a cada jogo. Isso foi fundamental para a gente chegar à primeira divisão do Brasileiro”, disse Alexandro, que até lembrou do jogo contra o então Bragantino, fora de casa, quando a Macaca venceu por 2 a 0 e assegurou o acesso. “Foi um momento muito marcante na minha carreira”, resumiu. Na primeira passagem no Majestoso, em 35 jogos, o atleta marcou 13 gols em 2014. Logo após, Alexandro saiu para o Emirates Club, mas retornou em 2015 para defender a Macaca. “A Ponte Preta não estava muito bem na primeira divisão e graças a Deus quando eu cheguei a Ponte melhorou”, disse. Neste retorno, em 21 jogos o jogador balançou as redes quatro vezes. Com faro de gol, carisma e dedicação, Alexandro também atuou por Paysandu, Grêmio Novorizontino, Oeste, Portuguesa-RJ, Sampaio Corrêa-RJ, Nova Mutum-MT e Nacional-AM. A reta final da carreira começou em 2022, quando defendeu o Cabofriense. Há duas temporadas ele defende o Serrano -RJ.
Tantas camisas, estádios e contratos produziram um período de reflexão para o jogador. “Eu tomei muitas decisões erradas. Eu não tinha ninguém para dizer que estava errado. Mas não me arrependo nada do que aconteceu. Isso já foi”, disse o jogador, com a minúcia de quem descreve um novo instante na carreira. “Hoje eu sou outro homem e de família. Minha esposa é uma mulher de Deus. Hoje eu vivo somente para minha família. O sistema é bruto. Se você não tiver um amparo psicológico e uma mente forte fica difícil, pois é muito dinheiro, fama e mulherada”, completou.
Apesar dos contratempos, Alexandro considera que deixará um legado para quem nutriu de sua convivência no futebol. “Vou deixar a sinceridade e o caráter. Por onde eu passei eu deixei meu futebol, minha alegria. Nunca tentei ser outra pessoa”, arrematou o artilheiro, que ainda quer aproveitar os últimos instantes para fazer a alegria de quem senta na arquibancada.
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