MARATONA

Um ano em busca do próprio limite

Executivo realiza uma maratona por dia e recebe auxílio de médicos para acompanhamento e coleta de dados

Esportes Já
07/08/2023 às 09:33.
Atualizado em 07/08/2023 às 09:33
Após 22 anos atuando executivo na área de Tecnologia, Hugo Farias encontrou na maratona diária uma maneira de inspirar pessoas (Dókimas Produções)

Após 22 anos atuando executivo na área de Tecnologia, Hugo Farias encontrou na maratona diária uma maneira de inspirar pessoas (Dókimas Produções)

Todo mundo tem curiosidade em detectar o seu próprio limite. Entender em que patamar poderá chegar e de que maneira isso poderá interferir no seu destino e dos seus semelhantes. O conceito entrou na cabeça do executivo Hugo Farias, de 43 anos. Após atuar por 22 anos no segmento de tecnologia, ele chegou a conclusão da necessidade de utilizar o tempo para realizar algo que produzisse impacto e produzisse influência de modo positivo as pessoas. Abraçou a ideia de realizar uma maratona diária por 365 dias, feito alcançado pelo belga Stefaan Engels, que cumpriu o desafio entre os anos 2010 e 2011. Na ocasião, o atleta cruzou mais de dez países e percorreu no total 15.401km até cruzar a última linha de chegada, em Barcelona, no dia 5 de fevereiro de 2011. “Pessoas comuns são capazes de fazer coisas incriveis”, disse Hugo Faria, que estabeleceu apenas a cidade de Americana como palco para a realização de suas corridas diárias. Outro que cumpriu o feito foi o inglês Gary McKee, que correu uma maratona por dia, ao longo do ano de 2022.

Antes de colocar o pé na pista, Farias tomou providências. A primeira foi a de montar uma equipe multidisciplinar com profissionais de diversas áreas. Foram contratados um nutricionista, um profissional de psicologia, um fisioterapeuta e médicos voltados às áreas de ortopedia, cardiologia e dermatologia. Ele conta até hoje com um profissional de preparação física.

Na etapa seguinte do projeto, intitulado de “Projeto Propósito”, Hugo Farias procurou o Instituto do Coração, em São Paulo, para propor uma parceria, em que ele seria monitorado pela instituição e os resultados de seus exames periódicos, realizados a cada 30 dias, serviriam para a montagem de um artigo científico. O hospital topou a empreitada. “Eles vão escrever um artigo para medir o impacto deste esforço com ênfase na parte cardiovascular e no cardiorespiratório”, explicou. O estudo, que será focado na Ciência do Esporte e na Cardiologia do exercício, é liderado pela professora e doutora Janieire Alves e pelo professor e doutor Francis Ribeiro, vinculados ao Instituto do Coração e que realizam o acompanhamento cardiovascular. Eles também orientam Hugo Farias sobre os limites da frequência e tempos de adaptação cardíaca para que tudo ocorra sem sobressaltos.

Com a estrutura pronta e formulada, Hugo Farias pediu demissão da multinacional em que atuava no dia 19 de abril de 2022. Após cumprir aviso prévio, passou a se dedicar 100% ao projeto, que é custeado de seu próprio bolso.

Durante o cumprimento do trajeto, Hugo Farias tem o apoio de uma equipe multidisciplinar (Dókimas Produções)

Durante o cumprimento do trajeto, Hugo Farias tem o apoio de uma equipe multidisciplinar (Dókimas Produções)

Hugo Farias considera que o processo de adaptação no cumprimento do desafio foi facilitado em virtude de encontrar-se na prática da corrida desde 2019, inclusive com a participação em uma maratona. “E após participar desta maratona eu estava no triatlo. Mas eu sabia que deveria intensificar o volume de treinos. Treinei duas vezes ao dia antes de começar( as maratonas)”, disse o executivo, que quando conversou com a reportagem do Esportes Já, na quarta-feira, dia 02 de agosto, estava a 25 dias de completar o desafio.

Para cumprir as 365 maratonas, Hugo estabeleceu uma rotina. Em dias mais quentes, ele acorda às 04 horas da manhã e começa a correr entre 05h e 05h30. No inverno, a meta é calçar o tênis e ir para a rua entre 06h30 e 07h. “Assim consigo dormir um pouco e isso ajuda na recuperação (física)”, disse.

Os 42 quilômetros são cumpridos em um prazo que poderá chegar a quatro horas , sempre com pontos determinados para hidratação e no recebimento dos auxílios dos profissionais designados para a tarefa. O trajeto cumprido na cidade de Americana é sempre o mesmo e tem fins específicos. “Existem aspectos positivos (de repetir o trajeto), porque a mente já sabe os pontos com dificuldades e os locais de hidratação. Além disso tem o próprio engajamento da cidade, em que os habitantes participam e incentivam”, justificou o corredor. Ele disse que no calendário do desafio chegou a participar de provas oficiais nas cidades de Uberlândia, São Paulo e no litoral paulista. “Eu corri fora da cidade nove vezes no total”, completou.

No período da tarde, após almoçar com os filhos, ele cumpre compromissos pessoais e aqueles relacionados ao desafio, que já produz uma grande base de dados para serem analisados pelos médicos do Instituto do Coração. “Eu sou avaliado todo mês. Os médicos analisam meu coração sob o ponto de vista físico e anaeróbico. Além disso, eles terão 47 exames de sangue coletados e com uma série de parâmetros de dados como colesterol e trigliceredes”, explicou.

O contexto exige ainda uma alimentação balanceada. Segundo Hugo Farias, a estimativa é que seu corpo exija o consumo de 5600 calorias diárias, sendo que 3.500 são absorvidas na maratona diária. São quatro refeições diárias, sendo que uma delas é um lanche à tarde. Na maratona, é viabilizado um consumo de açúcar de alta absorção e que proporciona energia imediata. “Da minha alimentação diária, 60% é de carboidratos como arroz, feijão, batata, 30% de proteína como carne e 5% de gordura”, explicou.

Hugo Farias celebra o apoio que sempre recebeu da família para o cumprimento da empreitada (Dókimas Produções)

Hugo Farias celebra o apoio que sempre recebeu da família para o cumprimento da empreitada (Dókimas Produções)

Prestes a romper a linha de chegada dos 365 dias de maratona, Hugo Farias assegura que encontra-se em bom estado físico e que seu corpo está adaptado ao processo. Isso inclui a possibilidade de terminar mais inteiro e disposto em comparação aos efeitos colhidos quando fez o primeiro dia de maratona, em 28 de agosto do ano passado.

Os frutos do esforço empreendido já estão sendo colhidos. Ele se sente realizado primeiramente porque é algo que nunca foi feito por ninguém no continente americano e muito menos no Brasil. Além disso, o projeto gerou um engajamento nas redes sociais e nas ruas que lhe trazem satisfação. “Muita gente diz que voltou a correr por causa do projeto”, comemorou.

O prêmio maior, entretanto, encontrase no âmbito familiar. Após uma preocupação inicial sobre as consequências do projeto na sua saúde, Hugo Farias diz que sua esposa e um casal de filhos encontram-se plenamente satisfeitos com os resultados obtidos. “Eu sirvo de incentivo e acabo dando exemplo. Sem o apoio deles eu não conseguiria”, afirmou. Alice, de 10 anos, pratica corrida e faz aulas de balé, enquanto que Vinicius, de 12 anos, também coloca o pé na pista e pratica futebol e basquete. A esposa também pratica esportes, mas não vê a hora do desafio terminar para fazer uma viagem com o marido e celebrar os frutos colhidos nos últimos 12 meses, que devem ser a base de um livro para o futuro.

Independente do futuro, Hugo Farias não tem dúvidas em afirmar que o processo valeu a pena. “Eu não corro para performance e sim para resistência. Sei que a corrida transforma vidas. Não é algo que você faz para disputar contra os outros e sim contra você mesmo”, disse o executivo, satisfeito em descobrir dia após dias os seus próprios limites.

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