Conceição se prepara para arremessar o peso: primeiras medalhas vieram após rápida adaptação à nova realidade (Divulgação)
Um ano após amputar parte da perna esquerda, Conceição Geremias olha para trás e vê os obstáculos superados. Muitos ainda precisam ser vencidos, mas é certo que o drama e as incertezas, presentes naquele mês de maio de 2024, deram lugar à esperança. Hoje, a campineira de 68 anos já está em preparação para seu segundo desafio como paratleta depois de passar pelo primeiro com louvor.
Em março, Conceição colocou no peito as medalhas de ouro e de prata no arremesso do peso e lançamento de disco, respectivamente. As conquistas pela categoria 57 para amputados vieram durante a primeira etapa do Circuito Paulista de Atletismo, no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro. O próximo compromisso será em agosto, nos Jogos Paradesportivos do Estado de São Paulo.
Conceição não escondeu a emoção ao participar de sua primeira competição paralímpica. “Ver vários atletas, cada um com sua deficiência, foi uma experiência totalmente nova e diferente de tudo. Assistia na TV, mas estar ali junto dos atletas chega a ser emocionante.”
Bastaram três meses de treino na cadeira de rodas na Associação Paralímpica de Campinas (APC) para que as primeiras medalhas na nova fase da carreira da atleta fossem conquistadas. E o resultado surpreendente também foi fruto da superação de outras adversidades. “Competi em uma cadeira emprestada que não tinha minhas medidas. Também teve a falta de experiência com a cadeira. Queimei dois arremessos que foram os melhores”, conta. No lançamento de disco, ela só foi superada pelo fenômeno da modalidade, a campeã mundial e paraolímpica, Beth Gomes.
Agora, para o próximo compromisso, a projeção é de um cenário bem mais favorável e resultados ainda melhores com a evolução na preparação. Em agosto, a campineira também espera por um equipamento novo. “Hoje já estou arremessando e lançando mais longe”, destaca ela. “Além disso, está em preparação uma cadeira padronizada para as minhas medidas em uma serralheria especializada. O material é de alumínio, ultraleve.”
Ao mesmo tempo em que evolui como paratleta, Conceição também segue o processo de reabilitação do corpo, afetado em razão de complicações de uma cirurgia feita no pé em janeiro de 2024. Quatro meses depois, a alternativa médica foi pela amputação, para afastar o risco de morte. “Ainda estou viva e só agradeço”, disse na ocasião. Hoje, a campineira ainda tenta superar as limitações para se adequar à instalação de uma prótese. Com muletas, ela já consegue ficar em pé. Diante da determinação e atitude positiva de Conceição, a possibilidade de realizar disputas fora da cadeira de rodas é questão de tempo.
“A classificação que obtive foi na categoria 57 para amputados. Tenho que ficar nessa por um tempo e depois passar para outra, quando eu conseguir competir em pé.” Quem também aposta que a campineira campeã pan-americana, recordista sul-americana e com três participações olímpicas pode chegar longe como paratleta é o diretor da APC, Luiz Marcelo Ribeiro da Luz. “O desempenho dela ainda é de uma atleta iniciante nesta nova fase, mas acreditamos muito na sua evolução”, comenta. Para ele, a presença de Conceição na APC enriquece a associação, que tem a vocação de formar pessoas e auxiliá-las em suas transições. “Ela é um referencial para outros atletas por todo seu histórico esportivo e por esse momento atual, de força, que ela demonstra na busca pela recuperação.”
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