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Ronaldão viveu e aprendeu com os melhores

Ronaldão participou no ano passado da carta contra o racismo lançada na Prefeitura de Campinas

Esportes Já
07/08/2023 às 16:24.
Atualizado em 07/08/2023 às 16:24

Ronaldão participou no ano passado da carta contra o racismo lançada na Prefeitura de Campinas (Divulgação)

Ronaldo Rodrigues de Jesus é um homem feliz. Tem uma família formada e saudável, é bem sucedido nos negócios pessoais e profissionais e teve a felicidade de realizar todo o sonho de criança, que era a de ser um jogador de futebol. Conquistou títulos que pareciam impossíveis, como o bicampeão mundial interclubes em 1992 e 1993 e tetracampeão de seleções em 1994 nos Estados Unidos. Por anos e anos foi chamado de Ronaldão. Apelido que impunha respeito, especialmente quando foi capitão da Ponte Preta no período de 1998 a 2002. Sabor doce é imaginar o outro presente que a vida lhe deu de ser dirigido e aconselhado pelos principais técnicos da história do futebol brasileiro.

O começo no Rio Preto em 1985 e a transferência para as categorias de base do São Paulo em 1986 proporcionou a chance de chegar aos profissionais na década de 1990 e ter contato com Telê Santana, que aproveitou todo o seu potencial como lateral, zagueiro e volante. As broncas e a rigidez de Telê não eram motivos para reclamações por parte dos atletas. Pelo contrário. Ronaldão assegura que a maioria entendia e compreendia o processo. “O Telê exigia a potencialidade máxima do atleta, tanto no nível técnico como no aspecto pessoal. Aqueles que seguiram seus conselhos se deram bem tanto na profissão como na vidade”, disse o ex-zagueiro.

Ronaldão seguiu à risca o aconselhamento e terminou sua passagem no tricolor paulista, em meados de 1994, com 294 jogos, sendo que o saldo foi 143 vitórias, 100 empates e 51derrotas. Este portfólio assegurou como conquistas os Campeonatos Brasileiros de 1986 ‘e 1991, os Campeonatos Paulistas de 1987, 1989, 1991 e 1992, os Mundiais Interclubes de 1992 e 1993, a Libertadores da América de 1992 e 1993, a Recopa Sul-americana de 1993 e 1994 e a Super Copa da Libertadores de 1993.

PARREIRA, UM CAVALHEIRO

No meio deste trajeto, a consagração máxima surgiu com a Seleção Brasileira nos Estados Unidos, em 1994. Uma equipe que perdeu pela primeira vez em jogo de eliminatórias para a Bolívia e depois sacramentou a vaga para a Copa do Mundo ao vencer o Uruguai por 2 a 0 no estádio do Maracanã.

O ex-jogador já foi homenageado pelo Flamengo por sua passagem na Década de 1990 (Divulgação)

Na hora decisiva, no Mundial, o balanço foi de cinco vitórias, dois empates e uma vitória nos pênaltis por 3 a 2 que assegurou o título. Ronaldão assegura: o papel de Carlos Alberto Parreira foi fundamental. “A equipe tinha uma determinação muito forte. O Parreira implantou um esquema tático que funcionou porque todo mundo entendeu”, afirmou Ronaldão, que não deixou de elogiar Zagallo que atuou como Coordenador Técnico na Copa do Mundo de 1994. “(Parreira) É uma pessoa de fácil trato e de bom relacionamento e que fazia o grupo funcionar. Ele era educado e tinha o respeito de todos”, completou Ronaldão.

Especialista em conviver com os treinadores vip´s do futebol, Ronaldão atuou dois anos como titular do Shimizu S-Pulse a pedido do técnico Emerson Leão, com passagem também na Seleção Brasileira.

A PASSAGEM NA PONTE PRETA

Após passagens pelo futebol japonês, Santos e Flamengo, o ex-jogador viveu a reta final da carreira como capitão da Ponte Preta no período de 1998 a 2002. Entre tantos jogos e disputas, a semifinal do Campeonato Paulista de 2001 é algo que não sai da memória. Naquele ano, no jogo de ida, realizado no estádio Santa Cruz, a Pantera da Mogiana venceu por 2 a 1 e forçava a Macaca a vencer por dois gols de diferença para avançar à decisão do Paulistão. Parecia que tudo daria certo.

No confronto decisivo do dia 13 de maio de 2001, no Majestoso, a Macaca começou com tudo e aos 15 minutos, Washington fez 1 a 0. A vantagem poderia ter sido maior se o mesmo Washington não tivesse perdido um pênalti defendido pelo goleiro Doni. Aos 29 minutos, Washington fez a diferença novamente ao fazer 2 a 0. O jogo parecia liquidado.

O gol de falta marcado por César aos 03 minutos do segundo tempo para o Botafogo (SP) não abalou a Macaca. Pelo contrário. Aos 10 minutos, Piá ampliou a vantagem e detonou festa nas arquibancadas. Tudo parecia controlado e cinco minutos bastaram para o sonho virar um pesadelo gigantesco. Aos 30 minutos, o zagueiro Augusto diminuiu e aos 35 minutos, o meio campista Chris sofreu pênalti e o centroavante Leandro cobrou deu números finais a partida e deixou um Majestoso perplexo e sem reação. Após 22 anos, Ronaldão tem um veredito simples e direto sobre a partida. “A concentração tem que ser do começo ao fim. É preciso respeitar o adversário e manter a energia e a pegada até o final”, vaticinou o ex-zagueiro.

O DESAFIO COMO DIRIGENTE

As emoções vividas na Ponte Preta não pararam no gramado. Em 2003, Ronaldão foi convidado e aceitou para ser dirigente remunerado da Ponte Preta. Foi um ano dramático. As dificuldades financeiras eram imensas, os salários atrasados eram rotina e no meio deste furacão era preciso dar respaldo a Comissão Técnica comandada por Abel Braga. “Quando você exerce uma outra função você passa a enxergar de maneira mais ampla. Assim, você passa a entender as necessidades do clube, além da pressão e das cobranças recebidas”, ponderou Ronaldão. O Brasileirão de 2003 inaugurou a fórmula dos pontos corridos. Só caiam duas equipes em um campeonato com 24 participantes. A Ponte Preta terminou na 21ª posição com 50 pontos. “O Abel foi diferenciado porque pegou a equipe em momento complicado, mas ele permaneceu até o final, mesmo com as dificuldades”, completou Ronaldão.

ALERTA AOS TREINADORES BRASILEIROS

Por tudo que viveu no futebol , seja como jogador ou como dirigente, e por ter convivido com os melhores treinadores da história do futebol brasileiro, Ronaldão não tem receio em alertar aos atuais treinadores que lutam pelo mercado diante da invasão de profissionais portugueses e argentinos. “Os treinadores brasileiros precisam ficar atentos porque estão perdendo espaço para os técnicos da América Latina e da Europa. Os técnicos brasileiros precisam estudar e reciclar os seus conceitos”, alertou o ex-zagueiro e dirigente.

Tal conceituação é transportada por Ronaldão para outros setores da vida. Ele entende primordial a permanência da postura anti racista e da constante denúncias de atos que tentam depreciar a população negra. No entanto, é preciso que alguns requisitos estejam presentes para derrotar o preconceito racial. “(O negro) Tem que conquistar espaço, mas com qualificação e para competência técnica para ocupar os espaços”, disse Ronaldão. Conselho de quem sempre conviveu com os melhores.

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