ALPINISMO

Rodrigo Raineri: escalada da vida é interrompida no Paquistão

Raineri teve uma trajetória dedicada ao montanhismo e construiu um legado em Campinas

Esportes Já
08/07/2024 às 16:23.
Atualizado em 08/07/2024 às 16:23
Rodrigo Raineri é referência na escalada brasileira: vida interrompida aos 55 anos (Reprodução)

Rodrigo Raineri é referência na escalada brasileira: vida interrompida aos 55 anos (Reprodução)

Referência no alpinismo brasileiro, Rodrigo Raineri teve a escalada da vida interrompida aos 55 anos na última sexta-feira. A sequência de superação de desafios em situação extrema foi quebrada em um acidente durante um salto de parapente no Paquistão. Primeiro brasileiro a escalar e chegar ao topo do Monte Everest por três vezes, Raineri deixa esposa, filho, amigos e uma legião de admiradores. Deixa ainda um legado em Campinas, cidade onde criou raízes e se tornou personagem do esporte. 

A notícia da morte chegou ao Brasil na madrugada de sexta-feira, quando Talita Campos Camargo, esposa de Raineri, recebeu um telefonema. A informação, passada por um guia, era de que o corpo estava no hospital militar da cidade paquistanesa de Skardu depois de um acidente fatal. Um porta-voz da polícia local, Muhammad Nazir, declarou à AFP que “quando ele começou a voar de parapente, seu paraquedas possivelmente teve um colapso frontal e estourou”, provocando a queda. Ainda segundo a polícia local, o brasileiro foi o quarto estrangeiro a falecer na área desde o mês passado. 

Raineri integrava uma equipe de sete atletas que se dirigia para o acampamento base do K2, a segunda montanha mais alta do mundo, com 8.600m de altitude, localizada no norte do Paquistão. Ele teria sido o único a tentar a descida de parapente, uma modalidade de voo livre em que o piloto usa apenas a força do vento. A morte foi recebida com extrema surpresa na comunidade do montanhismo em função do perfil cuidadoso de Raineri em suas investidas. 

“Ele era referência em segurança, tecnicidade, conhecimento sobre cada tipo de montanha, logística, geografia, clima, solo”, diz Aretha Duarte, primeira mulher negra latino-americana a chegar ao topo do Everest e parceira de Raineri na prática do montanhismo. “Seu foco era garantir todas as condições necessárias para o desempenho em alto rendimento, mas sempre tendo como prioridade a volta para casa.” Essa característica do alpinista também é ressaltada pelo amigo Tomás Gridi Papp. “O Rodrigo era meticuloso, organizado e muito preocupado com segurança”, salienta. “Para voar de parapente, vinha se preparando, treinando e realizando intercâmbios.” O montanhista, aliás, já havia descido do Mont Blanc dentro da modalidade de voo livre. 

Papp conheceu Raineri quando ambos eram estudantes na Unicamp. Os dois iniciaram juntos a prática da escalada. “Era um irmão pra mim”, define ele, que em 2006 também perdeu o amigo Vitor Negrete, morto no Everest, onde foi enterrado em função da impossibilidade de ter seu corpo resgatado. Em relação a Raineri, a família se mobilizou durante o final de semana junto às autoridades brasileiras e paquistanesas para o traslado do corpo. 

Ao lado de Negrete, Raineri formou a única dupla brasileira a escalar a Face Sul do Aconcágua, topo mais alto das Américas, a 6.962 metros de altitude, com subida considerada uma das difíceis do mundo. A conquista é um marco no montanhismo brasileiro. Raineri também foi o primeiro brasileiro a guiar expedições nos sete cumes, as montanhas mais altas de cada continente. 

Palestrante, consultor, escritor, diretor de uma empresa de turismo e formado em Engenharia de Computação pela Unicamp, o alpinista tinha uma experiência de mais de 30 anos de atuação em rocha, gelo e alta montanha. “Acredito que o Rodrigo passou seus últimos dias de maneira muito feliz pela história que construiu”, comenta Aretha. “E o que fica é o legado de que a gente pode sonhar, precisa buscar a realização dos nossos sonhos e ser muito intenso em nossa jornada”, afirma ela. “Ele partiu fazendo o que mais gostava”, completa Papp.

EM CAMPINAS 

Apesar de nascer em Ibitinga e ter morado em São Pedro, Rodrigo Raineri tinha uma forte ligação com Campinas. Ele está entre os nomes da série "Campineiros!", uma exposição em homenagem a figuras que ajudaram a construir a história da cidade. 

“O Rodrigo era um amigo, um idealista”, afirmou o prefeito Dário Saadi, que quando foi secretário de Esportes e Lazer lançou com o alpinista o Projeto Escalada, despertando em crianças o interesse pela atividade física. “Ele era uma figura humana extraordinária”, resume o prefeito.

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