Professor ajuda na formação de craques do basquete

O Clube Regatas de Campinas precisava renovar sua equipe de basquete depois da saída de alguns jogadores naquele ano de 2006. E entre os novos atletas que passaram a compor o time principal havia um menino promovido do sub-16 que, apesar de novo, mostrava talento. Seu nome era Vítor Benite, hoje um dos principais atletas da seleção brasileira. 

Vítor Benite foi apenas um dos inúmeros talentos que passaram por um clube, cujo DNA é formar atletas de basquete. Mas o Regatas não seria esse celeiro não fosse a história de batalha e paixão de seus técnicos ao longo de gerações. Um deles, carrega o basquete na veia, literalmente. No ano em que conduziu Vítor Benite ao time principal, o treinador Marcelo Bandiera Salvio ganhava um filho, Artur, que viria a se tornar destaque das equipes de base do Regatas. Neste 2023, Artur completaria 17 anos não fosse uma arritmia cardíaca fatal em 2021.

“Foi difícil demais, mas temos que enfrentar”, diz o pai ao relatar como encarou a morte da promessa Artur. “Tenho outro filho para cuidar e um monte de garotos que querem ser atletas. Então vamos.”

O professor e pai Salvio teve o espírito de competição forjado desde cedo. Primeiro pelos pais, que queriam oferecer uma formação esportiva aos filhos, e depois por um time de basquete que encantou uma geração. “Motivado por aquela seleção que tinha Oscar, Marcel, Carioquinha, entre outros, fui fazer basquete no Regatas com o meu irmão mais velho. Foi em 1979 e eu tinha apenas 6 anos”, lembra. Começava ali uma história de dedicação ao basquete e a um clube, onde uma vida em família acabou sendo construída. 

Na condição de jogador, Salvio curiosamente gosta de destacar uma derrota. “Em 1983, perdemos o título estadual e ressalto esse tropeço porque 35 anos depois veio a revanche. Na mesma categoria em que eu joguei na época, meus filhos foram campeões estaduais em 2018”, conta. Artur, na ocasião, tinha 12 anos e foi eleito o melhor do Estado junto com o irmão Johny, o Johnynho, dois anos mais novo e também campeão numa categoria abaixo. Como técnico dos dois times, Salvio conta ter sido escolhido o melhor treinador do estado. “Passei por muitos momentos na carreira, mas o maior prêmio foi poder ser treinador dos meus filhos”, afirma. E nem a esposa Jane escapa dessa união em família promovida pelo basquete. “Quando aquele time de 2018 precisava marcar pressão eu gritava ‘russa’, que é o apelido dela. Era defesa brava”, brinca. Até o sobrinho Andrezinho foi treinado por Salvio.

A carreira de técnico começou em 1996 e as histórias, a partir de então, são relatadas pelo professor ano a ano. Puxando pela memória, ele lembra, por exemplo, do olho clínico da técnica Maria Helena Cardoso, da qual chegou a ser auxiliar em 2006. Conta ainda dos projetos do Regatas, as trajetórias nos clubes, levanta nomes de jogadores, títulos, conquistas pessoais e idas e vindas na carreira. “Vou contando e as coisas vão voltando na minha cabeça”, afirma. Hoje, prestes a completar 50 anos de idade, está à frente de uma parceria entre o Regatas, Akdmia e São Leopoldo Mandic no trabalho de formação de atletas. “São várias frentes. Temos 120 meninos no Regatas, 170 no Clube Cultura e 30 na Bosch”, contabiliza. Na trajetória de professor, o número de jovens que ajudou a formar é incontável. “Se eu precisar de advogado, médico, dentista, professor ou engenheiro, sempre recorro aos meus ex-atletas”, brinca. Se aposentar, não passa pela cabeça. “Estar na quadra, escutar o barulho da bola, entrar em um ônibus para jogar é tudo muito bom” justifica. “E esse ano serei técnico do Johnynho novamente”, encerra ao se referir ao filho que completa 15 anos neste 2023.