GOL DE PLACA

Ponte Preta S21, time criado para driblar o preconceito

Equipe formada por jogadores e jogadoras com síndrome de Down abre oportunidade para que os atletas demonstrem suas potencialidades

Manuel Alves Filho
24/10/2022 às 09:43.
Atualizado em 24/10/2022 às 09:43
A experiência de Campinas está sendo replicada em outras cidades do Brasil: benefícios aos atletas vão do desenvolvimento físico à elevação da autoestima, da autonomia e da criatividade (Marcos Riboli)

A experiência de Campinas está sendo replicada em outras cidades do Brasil: benefícios aos atletas vão do desenvolvimento físico à elevação da autoestima, da autonomia e da criatividade (Marcos Riboli)

Em Campinas, a atitude e a oportunidade fazem tabelinha para driblar o preconceito. Tal jogada pode ser assistida durante os treinos e partidas disputadas pela Ponte Preta S21 Futsal Down, primeiro time de futebol constituído por atletas com síndrome de Down da cidade. A equipe, que iniciou as atividades 2019, reunindo somente oito jogadores, hoje soma 60 atletas. "Atualmente, contamos também com uma categoria feminina e outra de base, que é formada por crianças a partir dos 4 anos", relata Maurício Carvalho, coordenador da Ponte Preta S21.

Mais que proporcionar a oportunidade de pessoas com síndrome de Down praticarem uma modalidade esportiva, a iniciativa tem colecionado inúmeras vitórias para além das quatro linhas da quadra. Segundo Carvalho, o projeto delineado em Campinas tem servido de referência para iniciativas semelhantes em outras localidades do Brasil. "O fato de a equipe ser a primeira do Brasil com os pais à frente da organização tem chamado a atenção de muita gente. O interessante é que este modelo tem sido usado não somente para criar novos times de futebol Down, mas também outras modalidades, como vôlei e basquete", conta, sem esconder a emoção.

Os resultados obtidos até aqui, acrescenta o coordenador da Ponte Preta S21, são extremamente positivos, em variados âmbitos. Do ponto de vista dos atletas, há um aspecto altamente relevante, que é o sentido do pertencimento. Eles se percebem parte de um grupo. Ademais, o esporte contribui para ativar as ligações neuronais, facilitando o aprendizado e melhorando a memória. "Os benefícios são inúmeros. É perceptível a elevação da autoestima dos nossos jogadores, que também obtêm ganhos como o aumento da confiança, da autoestima e da autonomia", elenca Carvalho.

A Ponte Preta S21 ainda não realizou um jogo oficial, mas já participou de inúmeros amistosos, inclusive contra times com jogadores sem síndrome de Down. A ausência das competições oficiais tem uma explicação. É que logo após a equipe ser criada, veio a pandemia de covid-19 e as atividades sociais e esportivas foram suspensas. Agora, estão a todo vapor. Carvalho destaca que os jogadores contam com ótima estrutura. O ginásio para treinamentos e os uniformes são cedidos pela Associação Atlética Ponte Preta, que também empresta nome ao escrete.

Além disso, a equipe conta com profissionais qualificados, como a educadora física Bianca Dias Tagliacozzo, primeira mulher no mundo com síndrome de Down a integrar um time de futsal com as características da Ponte Preta S21. Outro integrante da comissão técnica é o treinador José Antônio de Oliveira, que tem formação como educador físico e fisioterapeuta. "Nós temos muito relatos de pais contando que depois que os filhos começaram a praticar o futsal, o comportamento deles na escola, em casa e na relação com as outras pessoas mudou para melhor", reafirma Oliveira.

A propósito da relação pais-filhos, o coordenador da Ponte Preta S21 observa que a prática esportiva também tem aprimorado esse contato. "Os pais acompanham os treinos e os jogos e vibram muito com o desempenho dos filhos. Nessas oportunidades, sempre digo a eles a importância de terem o mesmo comportamento em relação às outras atividades desenvolvidas pelos filhos. Isso tem feito um bem enorme a todos", relata.

Para jogadores e jogadoras da Ponte Preta S21, praticar futsal é sempre um prazer e uma forma de demonstrar que são capazes de fazer tudo o que se propõem. Aryane Masson, que integra o time feminino, e que também é bailarina, modelo e blogueira, diz que a modalidade a ajudou a perder a timidez. O coordenador Carvalho adianta que o objetivo do projeto é fazer com que, em 2023, haja pelo menos um time de futsal Down em cada capital brasileira. "Estamos fazendo tudo com calma. Não temos pressa. Essa evolução vai obedecer ao tempo de Deus", afirma o coordenador, que é pai de Rafael, de 26 anos, um dos jogadores do time.

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