123 ANOS

Ponte Preta e a celebração de uma história diferente

Comemoração dos 123 anos de existência mostra porque a Ponte Preta tem uma diferença marcante em sua trajetória

Esportes Já
14/08/2023 às 09:45.
Atualizado em 14/08/2023 às 10:03

Para o historiador José Moraes dos Santos Neto, a construção do Majestoso, com a participação dos torcedores foi um momento único na história do clube. “Foi um mutirão futebolístico”, afirmou. (Léo Yasuda/Dronely/Especial PontePress)

Homens, mulheres, crianças e adolescentes celebraram na última sexta-feira um marco. A data de fundação de um clube de alma popular e que tenta se reerguer. A comemoração dos 123 anos de fundação da Ponte Preta, no dia 11 de agosto serviu para que especialistas, torcedores e dirigentes fizessem uma revisão do papel da agremiação na história de Campinas e do futebol brasileiro.

A história todos conhecem. E começou bem antes da fundação oficial. Tudo inicia em 1870, quando foi iniciada a construção da Ferrovia Paulista, que ligava as cidades de Campinas a Jundiaí. Para a obra ser viabilizada, foi preciso a construção de uma ponte e com revestimento de alcatrão para amenizar os efeitos da fumaça emitida pelo trem. Foi o mote para o surgimento da obra batizada como Ponte Preta e que abriu as portas para o bairro de mesmo nome.

PRIMEIROS PASSOS

Às portas do Século 20, em 1900, o pontapé inicial foi dado quando alunos do colégio Culto à Ciência e que jogavam futebol no bairro da Ponte Preta decidiram fundar um clube e batizaram com o nome da ponte que viabilizou que a ferrovia passasse por Campinas. Os nomes eternizados foram os de Miguel do Carmo (foto), Antonio de Oliveira, João Vieira da Silva, Theodor Kutter, Hermenegildo Wadt e Nicolau Burghi, de acordo com informações no site oficial do clube.

No terreno que abriga na atualidade a Igreja Santo Antônio, o local abrigou o primeiro campo do clube. Dez anos depois, o Hipódromo Campineiro passou a ser a sede da agremiação. Outra mudança ocorreu em 1927, quando o estádio Júlio de Mesquita foi a sede das partidas. Em 12 de setembro de 1948, surge o estádio Moisés Lucarelli.

Goleiro Amparense foi ídolo da Ponte Preta entre 2008 e 2015 (Acervo José Moraes dos Santos Neto)

À primeira vista, excetuando-se um detalhe aqui e ali, parece uma trajetória normal, presente em todos os clubes brasileiros formados no início do século passado. Existe um diferencial. Estudioso da trajetória da Macaca, o historiador José Moraes dos Santos Neto, de 59 anos, aponta cinco características que fazem a história da Ponte Preta ser única e diferenciada. O ponto inicial é o fato de ser um clube antigo, superado apenas pelo Esporte Clube Rio Grande, mas com a Macaca sendo o mais antigo em atividade. De acordo com ele, é preciso revisitar aquele período do Século passado em que o futebol era apenas divertimento e que o contato das crianças e adolescentes brasileiras com a bola encontravase apenas no início. Mesmo assim, um grupo de garotos juntamente com moradores do bairro da Ponte Preta fundaram o clube.

PROTAGONISMO DAS FERROVIAS

Não se pode esquecer, segundo Neto, do protagonismo das ferrovias para alavancar o surgimento do clube. Anteriormente, os clubes fundados eram oriundos de colônias como o clube Germânia. A Ponte Preta quebrava o paradigma ao ser um time nascido a partir das classes operárias e com participação de diferentes etnias. “Existiam brancos negros e também parte dos ferroviários com ideologia anarquista e que era predominante no movimento operário brasileiro, chamado de anarco sindicalismo”, disse o historiador.

Para arrematar, José Moraes dos Santos Neto esclarece que a Ponte Preta se notabilizou por ser uma equipe de brancos e negros. “É mais fácil ver isso na equipe de 1908 a 1915 que tinha o goleiro Amparense”, disse o historiador, ainda em busca de novas imagens e documentos da parte inicial da trajetória pontepretana. Ele reafirma que está em busca de mais documentos além da já encontrada carteira de Miguel do Carmo, integrante do grupo de fundadores. Segundo ele, existe um motivo para tais dificuldades. “Futebol naquele tempo era brincadeira de criança”, disse. A paixão em focar as atenções ao futebol é outro ponto que chama atenção na história da Macaca, segundo Neto. “A Ponte Preta era estritamente futebol. As pessoas tinham que ver quem iria lavar as camisas, quem iria ficar com a bola e as traves seriam guardadas em qual residência. Ela nasce para o futebol”, descreveu o historiador.

Neto não ignora a façanha do processo de construção do estádio Moisés Lucarelli, e que foi totalmente coletivo. “A construção do Majestoso foi uma epopéia pelo tamanho e gigantismo. As pessoas fizeram doação sem esperar nada em troca, o que é raro. Eu tenho em casa objetos aqui em casa que comprovam o fato das pessoas esperarem o final de semana para colocarem a mão na lama ou cimento. Isso é totalmente diferente. O que temos no mundo em geral é que todos façam algo e esperem algo em troca. Foi um mutirão futebolístico”, explicou o historiador.

AS CONQUISTAS

Foi com esse alicerce que a Ponte Preta começou a construir a sua história no futebol brasileiro. Na década de 1920, o clube conquistou o título do Troféu do Interior de 1927 e a consequente participação na primeira divisão da LAF em 1928 e 1929, quando conquistou o terceiro e segundo lugares, respectivamente.

Com o advento do profissionalismo, é fundada a Liga Campineira de Futebol. A entidade é ligada à Liga Paulista de Futebol. A Federação Paulista, por sua vez, regula a Lei do Acesso no fim da década de 40. Após quatro anos lutando pelo acesso, o clube retornou à elite em 1951, caiu em 1960 e retornou em 1969 com o título do equivalente a atual Série A2. O título foi conquistado novamente neste ano após vencer o Novorizontino na decisão por pênaltis por 3 a 2.

O título da Série Especial em 1969 abriu caminho para uma série de boas campanhas, que viabilizou os vices campeonatos do Paulistão nos anos de 1970, 1977 e 1979. Um novo vice-campeonato foi colhido no Paulistão de 1981 acompanhado de um bicampeonato da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1981 e 1982.

Sete anos depois, a Macaca voltou após o vice-campeonato na Divisão Intermediária e em 1997 retornou à divisão principal do futebol brasileiro.

Novo retorno foi obtido na primeira divisão estadual em 1999. A Macaca equipe embalou uma sequência de conquistas de títulos do interior nos anos 2009, 2013, 2015 e 2018. Também destaca-se a semifinal da Copa do Brasil em 2001, o vice-campeonato na Sul-Americana de 2013, segundo lugar na Série B de 2014 e a medalha de prata no Paulistão de 2017.

JOGOS INESQUECÍVEIS

Com currículo tão vasto, o historiador José Moraes dos Santos Neto não tem medo de apontar jogos e competições que foram um divisor de águas. O primeiro é a conquista da Liga Operária em 1912, cuja estrela principal foi o goleiro Manuel Ferreira, o Amparense. O segundo capítulo heróico foi no dia 10 de outubro de 1977. Diante de 146. 082, a Macaca venceu o Corinthians de virada por 2 a 1, com gols anotados por Dicá e Rui Rei. O terceiro instante inesquecível é o dérbi disputado no dia 05 de agosto de 1981 e que terminou com vitória pontepretana por 3 a 2. Os gols foram marcados por Osvaldo, Odirlei e Serginho. Dérbi que foi o sustentáculo da trajetória de Oscar Salles Bueno, o Dicá. O eterno camisa 10 pontepretano disputou 32 dérbis, com um saldo de 13 vitórias, 16 empates e apenas 3 derrotas e com três gols marcados.

Com um passado glorioso, como será o futuro? Para o historiador José Moraes dos Santos é preciso que a modernização dos processos administrativos deixe o campo da teoria e abrace a prática. “Faz muito tempo que falamos de profissionalismo e que é algo antigo, que era da Era Vargas. Vamos chegar aos 100 anos em 2030 e ainda falamos disso. A Ponte Preta como qualquer time do interior do Brasil precisa apresentar um projeto a curto, médio e longo prazo e que ela tenha autonomia financeira sem a necessidade de salvadores”, arrematou o historiador dedicado à preservação da memória pontepretana.

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