Seja com amigos ou parentes, o ex-zagueiro Polozzi não esconde sua paixão pelo futebol e gratidão pelos clubes em que defendeu com maior sucesso, que foram Palmeiras e Ponte Preta. Até hoje, sempre que possivel, encontra com os companheiros da Macaca (Divulgação)
O futebol é o único esporte capaz de embaralhar os papéis de determinados personagens. Um jogador pode ser ídolo e ao mesmo tempo testemunha de instantes inesquecíveis. Aos 67 anos, José Fernando Polozzi faz parte deste grupo seleto, pois foi um dos protagonistas de um dos principais times da história do futebol nacional e ainda de quebra trabalhou com técnicos que se transformaram em lendas. Quando fala sobre o time da Ponte Preta, vice-campeão paulista de 1977, o tom de voz de Polozzi fica alterado, em um misto de satisfação e deslumbramento. “Aquele time não errava passe e não oferecia contra-ataque. Wanderlei, Marco Aurélio e Dicá não erravam no meio-campo. Com isso, a defesa ficava mais sólida”, disse o ex-jogador ao Esportes Já.
Esta trajetória que mistura protagonismo e testemunho ocular começou por acaso. Desde criança, a distração de Polozzi era pegar uma bola pequena e ficar brincando no corredor de sua residência em Vinhedo. O que era brincadeira virou algo sério em 1972, a partir de um jogo amistoso de veteranos de Valinhos contra Vinhedo. O então garoto estava atrás do gol como mero espectador quando foi convidado para jogar.
Imediatamente, Polozzi voltou para casa, pegou as chuteiras e entrou em campo para exibir seu potencial contra os jogadores mais experientes. Ele não sabia que um dos jogadores da seleção de Valinhos era o então técnico de futebol Mário Juliato, que se interessou pelo talento do rapaz. Na época, Juliato estava integrado às categorias de base da Ponte Preta. Dois dias depois, um gerente bancário, amigo de Juliato, procurou Polozzi em sua residência e deu o aviso do interesse da Alvinegra. Juliato pediu que levasse mais amigos porque estava para ser formada a categoria Juvenil. “Passei dois anos no Juvenil. Tinha jogo que eu ficava na reserva porque começava a chegar garoto melhor do que eu”, disse o ex-jogador, agora aposentado.
A passagem para os juniores foi o último estágio antes de integrarse ao profissional. Ali, nem tudo eram flores. Polozzi ficou escanteado e sem oportunidades. A surpresa veio em um dia após o treinamento, quando foi convocado para uma conversa com Zé Duarte. “Ele me chamou na sala e fui com coração acelerado. Eu pensava que ele iria me mandar embora. Eu nem sabia que teria uma partida à noite. Ele anunciou que eu jogaria naquele dia ”, disse sobre o jogo que a Ponte Preta enfrentou a Seleção Brasileira que iria para o Torneio Toulon. Sua primeira missão: marcar Cláudio Adão, então uma revelação do Santos. “Eu não pensava que ele era o Cláudio Adão e sim que era o sucessor do Pelé”, afirmou Polozzi. “Fiquei pensando como jogaria. E isso sem nunca ter jogado ao lado do Oscar. O jogo terminou com o placar 0 a 0 e nunca mais saí do time”, completou o ex-jogador, que sempre relembra do companheiro. “Ele foi meu melhor parceiro. E eu tenho certeza que ele pensa o mesmo, sendo que estou ao lado do Dário Pereira (parceiro de Oscar no São Paulo na década de 1980)”, disse.
Após permanecer até 1979 no Majestoso, Polozzi foi vendido ao Palmeiras, em que encontrou o técnico Telê Santana, cujas recordações são as melhores possíveis. “Foi o melhor que apareceu na face da Terra. Ele criou um esquema e mudou a formação de ponta direita, ponta esquerda e centroavante. Ele colocou os pontas para dentro (do meio-campo). Isso complicou os adversários. No início, o Palmeiras goleava”, relembrou o ex-zagueiro.
Como jogador, Polozzi ainda tem passagens por Botafogo-SP, Bangu, Operário FC,Serrano-BA, Bandeirante, Araçatuba, Linense, Serrano-BA, Grêmio Goioerê, Toledo e Tiradentes-DF. Depois, ele se aventurou como treinador nas equipes do Tupã, Bandeirante de Birigui, Jataiense, Confiança, Ríver (PI), Comercial (PI), União Barbarense, entre outros.
As agruras e decepções da carreira de treinador fizeram Polozzi destinar o seu olhar apenas a atuar nos jogos de masters. “No Brasil, se você não ganha, te mandam embora. E se você vence o jogo não te pagam”, afirma de maneira bem humorada. Além das dificuldades para viabilizar um bom sistema financeiro, Polozzi enxerga que existe um clube fechado em que técnicos bem sucedidos em divisões inferiores não conseguem um lugar nas competições de elite. “Basta perder um ou dois jogos que eles demitem”, disse. “Você só tem chance se estiver nas categorias de base ou for um auxiliar técnico de um clube de primeira divisão”, completou.
Hoje, Polozzi divide o seu tempo entre o time de Master´s do Palmeiras, a equipe de Master´s da Ponte Preta e as competições promovidas pela Liga Independente de Futebol Região de Campinas (Linfurc) em que vai participar como atacante neste ano na categoria acima de 63 anos. No meio de semana, ele joga de atacante em jogos amistosos em um clube de Vinhedo. “Estou sempre ao lado da garotada de 40 anos. Eu jogo até o final. Eu não fico correndo atrás dos outros. A gente agora corre de acordo com as nossas possibilidades”, arrematou Polozzi.
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