FUTEBOL CAMPINEIRO

Patamar financeiro do Bugre vai do auge ao abismo

O rebaixamento para a série C resultará no esvaziamento dos cofres do Brinco de Ouro

Silvio Begatti
02/12/2024 às 10:39.
Atualizado em 02/12/2024 às 11:57
Rômulo Amaro, presidente do Guarani (à esquerda), ao lado de Rodrigo Pastana, executivo de futebol (Raphael Silvestre/Guarani FC)

Rômulo Amaro, presidente do Guarani (à esquerda), ao lado de Rodrigo Pastana, executivo de futebol (Raphael Silvestre/Guarani FC)

O Guarani iniciou 2024 celebrando. O motivo foi a previsão orçamentária recorde do clube aprovada pelo Conselho Deliberativo em janeiro. A projeção apontava uma arrecadação em valores brutos de R$ 50,04 milhões, um aumento em torno de 14% em relação à previsão de 2023. “O clube está saudável”, comemorava o presidente André Marconatto. Onze meses depois, a realidade no Brinco de Ouro é outra. O inesperado rebaixamento à Série C vai determinar uma queda radical no patamar financeiro do Guarani, e a empolgação foi substituída pela incerteza.

“Vamos fazer parcerias, buscar patrocínio e afirmo que as portas do clube estão abertas para indústrias, comércios e também para a oposição”, declarou o presidente interino do Guarani, Rômulo Amaro, dois dias depois do rebaixamento decretado. Na ocasião, o pronunciamento do substituto de Marconatto, afastado por problemas de saúde, se contrapunha às altas expectativas de avanço do início de 2024. O discurso baseado em crescimento deu lugar à busca pela reconstrução. 

Segundo o Conselho de Administração (CA) e o Departamento de Futebol, a redução no orçamento para 2025 deve ser de 50%, mas, na prática, a perda pode ser maior. O impacto mais significativo será no valor das cotas de TV, a principal fonte de arrecadação do Guarani. Em 2024, os direitos de transmissão do Paulistão e da Série B injetaram um total de R$ 20,49 milhões aos cofres do Brinco, o que representou cerca de 40% do orçamento. Neste ano, as cotas se restringirão à disputa do Estadual e devem atingir um valor próximo de R$ 10 milhões.

A CBF não divulgou o orçamento para a Série C de 2025, mas neste ano a entidade distribuiu R$ 26,5 milhões para os clubes, uma fatia de R$ 1,2 milhão a cada um dos 20 participantes na primeira fase e mais R$ 312,5 mil aos oito classificados. No próximo ano, o sistema de disputa não será alterado. Na primeira etapa, os 20 clubes se enfrentam em turno único. Os oito mais bem classificados se ramificam em dois quadrangulares na segunda fase para a definição do campeão, vice e mais duas equipes que subirão de divisão.

A disputa de dois campeonatos de patamares financeiros diferentes em 2025 será um desafio para o Guarani. O quadro vai impor à diretoria de futebol a busca pelo equilíbrio na montagem do elenco. O executivo Rodrigo Pastana já trabalha com hipóteses para driblar a dificuldade. “Nossa intenção é adquirir 15 jogadores com contrato até a Série C e de 10 a 15 com vínculo pré-fixado dentro de um modelo de premiação e bonificação que possa segurá-los até o final do ano”, detalhou Pastana, dirigente que precisará ser hábil na aquisição de reforços alinhados à qualidade e ao custo baixo dentro de um mercado cada vez mais inflacionado.

Guarani trabalha para honrar compromissos e busca alternativas

As quedas de Ponte Preta e Guarani para a Série C do Campeonato Brasileiro de 2025 não produziram apenas vergonha e humilhação aos torcedores. O resultado vai esvaziar os cofres dos estádios Brinco de Ouro e Moisés Lucarelli. Uma nova realidade será imposta. Os times terão menos visibilidade de mídia, jogadores tecnicamente inferiores e perda de relevância política nos bastidores da Confederação Brasileira de Futebol e da Federação Paulista de Futebol. Na Série B os dois clubes tiveram a disposição um valor total de aproximadamente R$ 10 milhões para custear os elencos e a logística dos jogos realizados fora de Campinas. Na terceira divisão nacional, o máximo que vai se arrecadar é R$ 1,2 milhão pela transmissão dos jogos, uma queda de receita de 88%. Para piorar o quadro, os dois times convivem com dívidas para serem quitadas após décadas de desmandos e gestões temerárias. Especialista em gestão esportiva e integrante da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira já disse que a SAF é a única saída. O problema, segundo ele, é que ambos os clubes estão atrasados. “A demora para tomar a decisão gera um preço adicional. Quem sai na frente bebe água limpa, já dizia o ditado”, disse. A luta é contra o tempo. E sem dinheiro.

O Guarani tem vários desafios financeiros para 2025. Um dos principais está ligado aos compromissos acordados no processo de recuperação judicial. Por esse motivo, o Conselho de Administração trabalha para não correr o risco de o clube entrar em dívidas. A venda de atletas é avaliada como uma alternativa na obtenção de recursos. Assim, o clube não descarta negociar jogadores que estão valorizados e têm contrato estendido até o próximo ano. Os atacantes Caio Dantas e João Victor, além do volante Matheus Bueno, são considerados ativos importantes e com grande aceitação no mercado. Outra fonte de receita é o aluguel do Brinco de Ouro para jogos dos times da capital. Neste ano o estádio foi utilizado por Palmeiras e São Paulo e também sediou a final do Paulistão Feminino.

Por outro lado, uma das dificuldades previstas é a negociação com patrocinadores em razão da ausência de visibilidade da Série C. Diante da crise, o quadro de funcionários também passa a ser revisto. O gerente de futebol Sérgio do Prado foi desligado neste final de semana. Ele estava no clube há sete anos e era o responsável pela logística do time profissional.

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