RECORDAÇÃO

Parraga, o operário disciplinado que venceu no futebol

Esportes Já
26/07/2023 às 10:04.
Atualizado em 26/07/2023 às 10:04
Parraga e Muricy Ramalho (Duvulgação)

Parraga e Muricy Ramalho (Duvulgação)

Disposição, vitalidade, disciplina e foco são ingredientes da receita dos vencedores. Alguns aplicam por algum período. Outros por toda a sua existência. Atacante da Ponte Preta nas décadas de 1970 e 1980, Parraga, com 73 anos completados no dia 15 de julho, certamente está no segundo grupo. Um personagem do mundo da bola capaz de comprovar que um operário da bola pode construir um legado e deixar bons ensinamentos.

Parraga não esmorece. Não abaixa a guarda. Tem uma rotina até os dias atuais que, lhe levou para os degraus mais altos do mundo do futebol. Após acordar pela manhã, uma caminhada para não perder a forma, um café da manhã reforçado e o ânimo renovado para cumprir as tarefas do cotidiano, que inclui o trabalho em uma representação comercial de produtos químicos e atividades ligadas ao futebol. Sempre o futebol. “Não dá para ficar parado, mesmo que você tenha algo que lhe dê tranquilidade. Quem conseguiu consolidar alguma coisa, tudo bem. E quem não conseguiu tem que se virar. Graças a Deus a minha situação não é ruim. Trabalho com aquilo que eu gosto”, disse o ex-jogador.

Como é possível construir uma vida tão estável e realizada do ponto de vista pessoal, profissional e familiar? A resposta, segundo Parraga, está na disciplina transmitida pelos seus pais. Tal conceito foi fundamental no momento em que decidiu embrenhar-se no futebol para realizar o seu sonho de menino. O passo inicial foi no Grêmio. “Essa disciplina me fez virar jogador porque em alguns momentos da carreira se eu não tivesse esta característica eu teria parado. Eu insisti naquilo que eu gostava”, afirmou o ex-jogador. “Isso é importante porque construir uma carreira no futebol profissional é difícil. Tanto que nem cinco por cento dos jogadores chegam a exercerem o futebol profissional”, completou.

Sua estadia inicial no profissionalismo foi no Internacional de Lajes, em que foi vice-campeão catarinense de 1974. Mas foi na Ponte Preta que sua vida mudou. E o percurso foi feito de modo acidental, quase casual. Tudo começou quando ele passou por um período de testes no Guarani e ficou por 40 dias. Após esta etapa, a diretoria do Guarani lhe propôs um contrato de três meses para a continuidade do processo de avaliação. Ele não aceitou.

Foi nesse instante que Bezerra, que atuava no Guarani, entrou em contato com Zé Duarte, que na época estava na Macaca. Ele deu boas recomendações sobre o futebol de Parraga e sua contratação foi avalizada pelo empresário e treinador Zezé, que era amigo do famoso “Zé do boné”. “Fui na Ponte Preta, assinei contrato e sem fazer teste nenhum. E a partir daí comecei a fazer gols”, recordou Parraga. Segundo ele, uma conjuntura lhe ajudou. Rui Rei tinha sido vendido para a Portuguesa e a posição era ocupada por Nogueira, que jogava no Sub-17. “O Zé Duarte procurava alguém para a posição”, esclareceu.

Parraga viveu a época de ouro da Macaca, pois estava integrado ao elenco vice-campeão paulista de 1977. Na sua visão, um time qualificado e que protagonizou exibições de gala. “Naquele ano, atuamos várias vezes contra o Corinthians e só perdemos as duas partidas da final. Teve um jogo que ganhamos deles em Campinas por 4 a 0 e eles não viram a cor da bola”, recordou Parraga, que não deixa de homenagear outras figuras daquela época, como o então preparador físico, Nicanor Carvalho. “Ele nos ajudou muito".

A Ponte Preta não foi a sua única aventura. Após passar por Náutico, Ferroviária e Francana em 1980, Parraga relembra as coincidências que o fizeram parar no futebol da Arábia Saudita, em 1981. Tudo começou, segundo ele, quando ele atuava pela Francana. Os dirigentes do Al-Ittifaq, da Arábia Saudita, desejavam contar com uma dupla que já estava entrosada. Uma lista foi formulada a partir de pesquisas no futebol brasileiro e o técnico da Seleção local, Rubens Minelli, encaminhou a recomendação para que Parraga e um companheiro da Francana fossem os escolhidos. “Foi uma época muito legal e pude atuar na mesma época de Zenon, Ailton Lira e Rivelino”, completou. Depois disso, Parraga retornou ao Brasil e teve passagens como jogador por Noroeste, América (SP), Esportivo de Bento Gonçalves (RS) e encerrou sua passagem como jogador no Amparo.

Posteriormente, iniciou sua trajetória no banco de reservas, como treinador e atuou em clubes como Inter de Lages (SC), Rio Branco-SP, Novorizontino, Monte Azul, Tanabi, Mirassol e Batatais, entre outras agremiações. Chegou a trabalhar nas categorias de base do Palmeiras e nas categorias de base da Ponte Preta. Recentemente, Parraga aplicou sua tenacidade e disciplina no Amparo AC, mas não deu continuidade ao trabalho.

Hoje, com a rotina estabelecida, algo já está definido: apesar de gaúcho de nascimento, não sai de Campinas por dinheiro nenhum. “Minha esposa não quer sair daqui. Minha filha casou por aqui e meu filho foi formado aqui. Eu dificilmente volto para a Região Sul”, completou Parraga, que mostra-se satisfeito e feliz com tudo aquilo que colheu e entregou ao futebol. “Eu sei que não fui um grande jogador, mas eu fui um atleta batalhador, lutador e que sempre procurava jogar para o time”, arrematou.

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