Pardal acompanhou de perto a conquista do bicampeonato da Copa São Paulo de Juniores pela Ponte Preta
Preparador físico e técnico, Pardal trabalhou com nomes como Cilinho e Jair Picerni, além de fazer parte das comissões técnicas que venceram as edições de Copa São Paulo dos anos de 1981 e 1982 (Divulgação)
O futuro só pode ser construído por quem vive o presente e sabe os obstáculos enfrentados no passado. Antonio Augusto, o Pardal, técnico e preparador físico com passagens por Bragantino e Ponte Preta é um dos poucos personagens que podem descrever em minúcias todo o processo de degradação e decadência após a época de ouro do futebol campineiro, que compreende as décadas de 1970 e 1980.
Como preparador físico, Pardal acompanhou de perto a conquista do bicampeonato da Copa São Paulo de Juniores por parte da Ponte Preta nos anos de 1981 e 1982. Época em que as categorias de base forneciam talentos valiosos não somente para a Ponte Preta mas até para a Seleção Brasileira. Pardal ajudou na construção da campanha na Série B do Campeonato Brasileiro de 1997 e que culminou com o acesso. Pardal foi demitido na reta final do campeonato pelo então Presidente Sérgio Carnielli. Pardal foi substituído por Pepe.
Pardal retornou ao estádio Moisés Lucarelli para exercer outras atividades, especialmente nas categorias de base, em 2007 e 2016. Na atualidade, o seu diagnóstico a respeito da Ponte Preta, do Guarani e de toda a comunidade do futebol campineiro é com boa dose de criticidade. “A verdade é uma só. O futebol ficou caro e os clubes de Campinas não se atualizaram e só ficam vivendo de passado. Não criaram outras alternativas”, disse, sem deixar de fazer um retrato do Alviverde e de suas crises técnicas vividas no gramado e ausência de competência para aproveitar a boa fase vivida a partir da conquista do título de 1978. “A Ponte Preta, por sua vez, sempre foi um time de viver de saco nas costas e também pegou umas diretorias que infelizmente tinham mais vaidade do que capacidade”, disse o treinador e preparador físico.
Apesar do aumento dos custos do futebol, Pardal não tem receio em apontar os dirigentes como os principais culpados pela péssima fase vivida nos gramados a partir do Século 21, em que a Ponte Preta foi rebaixada três vezes no Campeonato Brasileiro (2006,2013 e 2017), uma no Paulistão (2022). O Guarani viveu o dissabor de cair para a Série B duas vezes (2006 e 2012), outras três vezes no Paulistão (2001, 2006 e 2013) e uma queda também no Brasileirão de 2010. “Eles não foram profissionais suficientes para enxergar o futebol. Ponte Preta e Guarani estavam acostumados a revelar jogadores, eles darem frutos e depois vendiam. Hoje, eles conseguem segurar um jogador por seis meses”, completou Pardal.
Para ele, a fórmula para recolocar o futebol campineiro em patamar aceitável não é difícil. Sua receita é contar com um time de bom padrão e que, ao longo do tempo, possa receber ajustes. Hoje, a lógica se inverteu. Um atleta com mínimo destaque acaba saindo em tempo recorde. “Hoje, o que temos é um bando de briguentos, que não conhece a história e que não vai conhecer o futuro”, lamentou.
Pardal dedica uma parte da conversa para refletir sobre o atual quadro da Ponte Preta. “Eu fico tristíssimo. Sou Ponte Preta desde os 07 anos. Eu tenho dois netos, um de sete anos e outro de dez anos e eles torcem para o São Paulo e eu não interfiro”, completou.
“Precisa acontecer algo diferente. Precisa mudar muita coisa. É preciso falar a verdade. Os dirigentes precisam perder a vergonha de falar a verdade. Você não pode pagar R$ 80 mil (por mês) para um treinador. A Ponte Preta e o Guarani não têm estrutura para pagar altos salários para um jogador. Tem que ser R$ 20 mil ou R$ 25 mil. A torcida vai chiar? Mas as torcidas conseguem sustentar um elenco milionário? Não dá para montar time caro”, completou.
Pardal disputou boa parte da Série B de 1997 e deu a primeira oportunidade em um time profissional para o armador Adrianinho, atualmente aposentado dos gramados (Divulgação)
CILINHO, O MESTRE ETERNO
Pardal lembra da primeira vez em que foi contratado pela Ponte Preta. Foi em 1979. Atuou como preparador físico das equipes campeãs da Taça São Paulo de Futebol Júnior de 1981 e 1982. Mas existe uma passagem que ele esquece: a convivência por 10 meses com Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, falecido no dia 28 de novembro de 2019. “Tudo que eu sei de futebol eu aprendi com ele. Personalidade, comportamento, postura ou profissionalismo”, disse.
Apesar de ter atuado 20 anos ao lado de Jair Picerni e de lhe ser grato, Pardal considera que Cilinho era diferenciado. “O Cilinho era um gênio. Ele era um cara que se preocupava com a estrutura do clube. Ele administrava a cozinha, o vestiário, o campo, a grama. Ele era preocupado com tudo. E tinha capacidade e personalidade para resolver”, descreveu Pardal.
Para completar, o técnico e preparador físico afirma que Cilinho montava boas equipes e ainda aplicava métodos de treinamento que eram considerados revolucionários e que atualmente são utilizados no Brasil inteiro. “Cilinho foi mais idealista que profissional. Queria falar de futebol o dia inteiro”, completou.
PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO DA PONTE PRETA
Por uma ligação sentimental com a Macaca, Pardal prevê que a atual Diretoria Executiva comandada por Marco Antonio Eberlin enfrentará obstáculos, especialmente por causa da situação vivida pelo clube nos bastidores. “A Ponte Preta está dividida e endividada. Muita gente encostou no Eberlin para derrubar o Sérgio Carnielli, que ficou 26 anos na Ponte e só criou coisa ruim. Embora seja uma empresário de sucesso, o dinheiro investido poderia ter feito algo melhor”, finalizou.