CADÊ VOCÊ

O preparador de novos heróis

Após carreira exitosa na Macaca, Lauro abraça a carreira de preparador de goleiros

Esportes Já
21/08/2023 às 19:16.
Atualizado em 21/08/2023 às 19:16

Em quase 17 anos de carreira, Lauro viveu o sufoco de lutar contra o rebaixamento na Ponte Preta e viveu as glórias dos anos de ouro do Internacional (RS), quando foi campeão da Libertadores e da Copa Sul-Americana (Divulgação)

Lauro Júnior Batista da Cruz era uma criança e depois um adolescente que percorria as ruas e os campos de Andradina na década de 1980. Queria ser um jogador de futebol. Viver o sonho dos campos lotados e das partidas emocionantes. Parecia algo distante, sem nexo diante de sua história. Até que um dia a vida aprontou e hoje o atual preparador de goleiros da Ponte Preta desfruta das conquistas e dos instantes vividos nesta modalidade que não para de fabricar heróis e vilões. Lauro é do primeiro grupo.

Tudo começou quando atuava em times de várzea de Andradina e em uma escolinha. Seu potencial técnico chamou atenção em um jogo de final de ano entre solteiros e casados. Rubens Jerônimo, conhecido como Branca de Neve era um dos jogadores festeiros. Pontepretano fanático e integrante de torcida organizada, aquele forasteiro prometeu lhe arrumar um periodo de testes na Ponte Preta.

Após seis meses de espera, o telefone tocou. A hora chegou. Lauro arrumou os seus pertences pessoais, os sonhos e rumou para Campinas. Trabalhou por uma semana. Foi aprovado. Mas existia um problema: não existia lugar no alojamento. Pois Branca de Neve, o patrocinador da empreitada, não pensou duas vezes: abriu sua residência para o adolescente e Lauro morou por seis meses no local.

Após um tempo, já adaptado à cidade, Lauro começou a ser chamado para alguns treinos para encarar o time profissional, seja sob o comando do preparador de goleiros Mococa ou seu sucessor, João Brigatti. “Não demorou muito e Brigatti me chamou para treinar no time de cima. Ele sempre dizia que eu seria goleiro do time profissional da Ponte Preta”, disse o ex-goleiro. Posteriormente, em 1998, Lauro foi emprestado ao Radium de Mococa, equipe com o qual a Alvinegra tinha um acordo de intercâmbio. Lauro agradece até hoje a oportunidade. Considera que tal experiência foi fundamental para amadurecer profissionalmente pelo fato de atuar com atletas mais velhos.

Ao retornar a Ponte Preta, em 2001, os tempos eram diferentes. A Ponte Preta tinha objetivos ousados. O Campeonato Paulista era a chance de conquistar o título. Foi quando a primeira chance apareceu e justo na primeira partida da semifinal do Campeonato Paulista, realizada no dia 06 de maio de 2001 e que terminou com vitória do Botafogo (SP) por 2 a 1. “O Alexandre Fávaro era o titular mas ele tomou o terceiro cartão amarelo e no outro jogo era a semifinal e eu joguei. Vir para a Ponte Preta com 15 anos e seis anos depois fazer a minha estreia como profissional em um time profissional foi marcante. E tomei dois gols em que não tive culpa nenhuma”, disse Lauro, que uma semana depois, no dia 13 de maio, viu do banco de reservas o empate por 3 a 3 no Majestoso e que eliminou a alvinegra.

A CONQUISTA DA TITULARIDADE NA PONTE PRETA

Foi preciso esperar mais dois anos para envergar a camisa principal do gol pontepretano. E de uma maneira insólita. Na ocasião, Lauro iria atuar por oito jogos, enquanto Alexandre Negri defenderia a Seleção Brasileira Sub-23. Quando o titular retornou aos trabalhos, Abel Braga chamou Lauro para uma conversa. Ele anunciou que Lauro receberia um presente, a titularidade contra o Flamengo, marcado para o dia 03 de agosto. No jogo seguinte, diante do Juventude, Negri retornaria ao time titular. Mas o gol marcado por Lauro, e que decretou o empate por 1 a 1 mudou a cabeça do treinador. “Quando eu fiz o gol, o Abel atravessou o campo e disse que aquilo seria um sinal de Deus e que a partir daquele momento eu seria o titular da Ponte Preta”, afirmou Lauro, com 172 partidas com a camisa da Ponte Preta no currículo.

Engana-se, porém, quem imagina que o gol feito com a Macaca foi o único feito de Lauro na carreira. Pelo contrário. No dia 07 de agosto de 2013, Lauro defendia a Portuguesa e fez o gol de empate da Lusa contra o mesmo Flamengo.

O gol marcado com a camisa da Ponte Preta ganhou relevância pela conjuntura. Eram tempos duros. Os salários viviam atrasados, jogadores abandonaram o projeto e no final o sufoco foi instalado até conseguir os 50 pontos suficientes para escapar da degola. Segundo Lauro, alguns fatores foram fundamentais para a construção do final feliz. O primeiro foi a transparência da diretoria que, segundo ele, jamais escondeu a situação delicada na parte financeira. Sem contar a participação decisiva de Abel Braga. “Tanto que ele (Abel Braga) ficou muito mais forte e resiliente depois de tudo aquilo e ganhou muitos títulos”, pontuou Lauro.

A GRANDE FASE NO INTERNACIONAL

Mostrar o seu trabalho com a camisa da Ponte Preta abriu novos caminhos para Lauro. Em janeiro de 2006, Lauro definiu sua transferência ao Cruzeiro e depois desembarcou no Internacional (RS), agremiação que abrigou a melhor fase da carreira. Um rendimento que possibilitou substituir o outrora ídolo Clemer e faturar a Copa Sul-Americana de 2008, a Copa Libertadores de 2010, a Recopa SulAmericana e duas edições do Campeonato Gaúcho.

A estrada colorada, no entanto, reservou um tropeço inesquecível, que foi a derrota por 2 a 0 para o Mazembe, no dia 14 de dezembro de 2010. Com a distância fornecida pelo tempo, Lauro não tem pudor em apontar as falhas que levaram ao vexame. “Fomos campeões da Libertadores e nos desligamos do Campeonato Brasileiro. Começamos a poupar jogadores e quando chegamos (no Mundial de Clubes) não estávamos no ritmo competitivo adequado. Se jogássemos 10 vezes contra o Mazembe provavelmente ganharíamos sete ou oito partidas pelo nível técnico de nossa equipe. Mas entramos devagar naquele jogo”, relembrou o jogador.

Ainda com contrato em vigor com o Internacional, Lauro foi emprestado para dois clubes. No primeiro ano, em 2012, Lauro defendeu a Ponte Preta, mas ele admite que não ficou satisfeito com o resultado. “Infelizmente não consegui render o que esperava, assim como foi na primeira passagem. Mas a Ponte Preta conseguiu a permanência, mesmo com todas as dificuldades financeiras”, relembrou.

Em 2013, enquanto a Ponte Preta vivia o luto do rebaixamento na divisão de elite nacional e o êxtase que culminou com o vice-campeonato na Copa SulAmericana, Lauro defendia a Portuguesa e tudo conduzia para um final feliz. Ledo engano. O armador Heverton foi expulso no confronto com o Bahia no dia 24 de novembro e recebeu suspensão de dois jogos e cumpriu apenas um jogo. Diante disso, ele não poderia atuar contra o Grêmio. Mas no segundo tempo da partida o então técnico Guto Ferreira colocou Héverton em campo no lugar de Wanderson e isso causou a perda de 4 pontos da Lusa, que terminou entre os quatro times rebaixados. “Até hoje a gente assiste a luta da Portuguesa para voltar entre os melhores. Foi totalmente injusto. Doeu nos jogadores da Portuguesa e dói até hoje para os torcedores que pagam até hoje por tudo que aconteceu”, lamentou Lauro.

Após passagens por Chapecoense, Bragantino, Lajeadense, Novo Hamburgo, o ex-arqueiro encerrou a carreira em 2017.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por