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O paredão que cativou a América

O ex-goleiro Roberto Volpato foi considerado o melhor jogador da Copa Sul Americana de 2013

Esportes Já
31/10/2023 às 09:28.
Atualizado em 31/10/2023 às 09:29
Revelado pelo Criciúma, o ex-goleiro Roberto Volpato teve passagens marcantes pelo Vasco da Gama, durante a Era de Eurico Miranda e na Ponte Preta, que chegou a decidir a Copa Sul-Americana contra o Lanús e perder o título da Série B de 2014 para o Joinville (Divulgação)

Revelado pelo Criciúma, o ex-goleiro Roberto Volpato teve passagens marcantes pelo Vasco da Gama, durante a Era de Eurico Miranda e na Ponte Preta, que chegou a decidir a Copa Sul-Americana contra o Lanús e perder o título da Série B de 2014 para o Joinville (Divulgação)

O final de semana foi uma oportunidade de realizar uma viagem no tempo. A decisão da Copa Sul-Americana e a perda do título por parte do Fortaleza na disputa por pênaltis para a LDU fez com que torcedores da Ponte Preta revivessem a saga vivida em 2013, quando a equipe surpreendeu o continente e decidiu o título contra o Lanús. A perda da taça foi insuficiente para tirar o brilho de alguns personagens nesta saga. Um deles é o ex-goleiro Roberto Volpato, hoje com 44 anos e técnico do Sub-17 do Criciúma.

Em conversa com amigos e veículos de comunicação, Volpato demonstra orgulho de sua trajetória. Conseguiu construir uma caminhada digna e montou uma uma trajetória construída tijolo por tijolo e sempre com ética dedicação ao trabalho.

Uma história iniciada aos oito anos, idade em que a preferência pelo gol já era uma realidade. Roberto Volpato residia em São Bento do Sul, localizado em Santa Catarina . Desde a adolescência ele disputava as principais ligas amadoras da cidade e no meio dos adultos. Não foi difícil chegar ao Criciúma, em 1995 e dez anos depois ser vendido para duas passagens no futebol português, primeiramente no Moreirense e depois no Vitória de Setúbal.

Nestes locais, Roberto Volpato já demonstrava sua liderança e técnica. História que lhe proporcionou voltar ao Criciúma em 2003 de quebra aplicar as lições aprendidas nas duas passagens pelo futebol português. “Para se ter uma ideia, quando fui apresentado no Moreirense eu disse que iria brigar pelas primeiras posições e um repórter falou que não era assim e que era impossível. Eu relutei, mas depois eu vi que era voto vencido”, disse o ex-goleiro e hoje técnico, saudoso dos frutos obtidos em terras portuguesas. “Depois, eu voltei para o Vitória de Setúbal com a missão de subir o time para primeira divisão. Eu fui para lá e subimos”, completou.

O futebol não cansa de ensinar histórias para o ex-goleiro. Um desses capítulos especiais foi vivido no Vasco da Gama, local em que desembarcou em 2005 e ficou até 2008. Neste período, ele conviveu com o então poderoso presidente Eurico Miranda. “Eu nunca tive problema com ele. Ele era bem centralizador no poder. Era ele que mandava e pronto. Com ele, nunca me incomodei com questão de salário”, relatou o ex-goleiro. “Ele blindava muito o Vasco e isso era uma coisa legal. Nunca presenciei invasão de torcida no vestiário”, completou.

Volpato relembrou o quanto testemunhou o quanto Eurico Miranda brigava pelo Vasco da Gama.“Teve uma época que negócio principal era a cota de televisão. Ele falou que se recebesse um centavo a menos que os outros times, o Vasco não jogaria o campeonato. Ele brigou, fez o jeito dele lá e o Vasco recebeu as cotas máximas”, recordou. Roberto permaneceu em São Januário até 2008 e em 2009 atuou pelo América (RJ), que estabeleceu uma parceria com Romário, que hoje é senador pelo Rio de Janeiro. “O América fez um time para jogar a segunda divisão do Campeonato Carioca. Ele (Romário) pegou o pessoal que estava no Vasco que tinha saído e subiu (o América) de divisão”, relembrou.

Algo que ficou marcado na mente de Volpato era a obsessão do “baixinho” em cumprir os acordos firmados. Para exemplificar, ele relembrou quando Romário chamou para receber um dinheiro que ele tinha firmado com o então atacante e o próprio Roberto Volpato tinha esquecido. “E quando ele saiu, em 2010, ele avisou antecipadamente que iria embora e deu liberdade para procurarmos um novo espaço (para trabalhar)”, disse Volpato.

As andanças pelo futebol do exterior e no Ituano, em 2012, foi apenas um preparativo para um novo desafio e cuja sede era na Ponte Preta. Antes de ultrapassar os portões do Majestoso, Roberto Volpato já sabia que eram grandes as chances de dar certo a sua passagem no clube. “A Ponte tem um estilo que o atleta que é dedicado e que sempre quer ganhar terá respeito. O cara que chega ali e que não quer nada com nada e que faz corpo mole terá vida curta”, decretou.

Logo de saída, em 2012, o elenco montado para o Campeonato Brasileiro e que terminou na 14ª posição com 48 pontos era do jeito que a torcida apreciava. “Tínhamos o Roger, que era nosso capitão e que entendia o clube. É preciso contar com essas pessoas”, explicou o ex-goleiro. Ele relembra que, quando algo saia do roteiro, o elenco era deslocado para o Centro de Treinamento do Desportivo Brasil, nas proximidades de Itu, para a realização de treinamentos que recolocassem o processo no eixo. “Na Ponte Preta, se você não quiser problema para a cabeça, tem que unir o elenco”, completou.

Em 2013, no seu segundo ano no estádio Moisés Lucarelli, Roberto Volpato acompanhou de maneira próxima as dúvidas existentes na cúpula diretiva, que via o time avançar na Copa Sul Americana e ao mesmo tempo envolvida na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. “No Brasileiro tivemos uma sequência de sete derrotas seguidas. Na quarta ou na quinta derrota eu dei entrevista dizendo que estava com vergonha de dizer que iríamos dar um jeito. Eu estava perdendo a credibilidade”, disse Volpato. “Conseguimos uma melhoria com Jorginho mas pesaram aquelas sete derrotas (no Brasileirão)”, completou. Em 2013, a Ponte Preta foi rebaixada com 37 pontos.

Após quase 10 anos, Roberto confessa que a derrota por 3 a 0 para o Vitória (BA), no Majestoso, no dia 10 de novembro, logo após vencer o Vélez e classificarse para a semifinal da Sul-Americana , foi outra conjuntura que explica a queda. “A viagem (para Buenos Aires) foi desgastante”, resumiu o ex-arqueiro.

Em 2014, o único objetivo era retornar à principal divisão do futebol nacional. A meta foi obtida com o vice-campeonato e os 69 pontos. Mas ninguém poderia imaginar que os problemas administrativos deixariam a vaga por um triz. “Em maio ou junho, eu fui chamado para uma reunião e foi comunicado que o dinheiro iria acabar. Existiam atletas que estavam há dois meses sem receber. A partir dali, o quadro ficou dificil”, recordou o ex-goleiro. 

Resultado: a equipe oscilou por 10 rodadas até que a equipe contratou o técnico Guto Ferreira e decolou o processo de busca ao acesso. “Os problemas financeiros existiam mas a gente segurou no osso”, disse Roberto. “Em alguns jogos, ao invés de encontrar-se preocupado com a partida, eu corria para solucionar assuntos relacionais a questão do pagamento dos salários. Tinha situações em que jogador emprestava dinheiro para o outro. Posso dizer que aquele foi um grupo de verdade”, disse.

Após sair da Ponte Preta e um novo período de desemprego, Roberto atuou no XV de Piracicaba e depois no Água Santa e Santo André. A carreira foi encerrada no Próspera, de Santa Catarina, em 2019. E por um motivo especial. “Um dia eu vi uma foto da minha da minha filha Manu que entrou muito comigo no jogo da Ponte enquanto que a minha outra filha pequenininha, Mariana, não. Deu um negócio na cabeça assim: e se a Maria um dia perguntar por que que não tem a foto com ela no campo. Tu vai dizer o quê?!”, esclareceu. “Então eu decidi voltar a jogar. Voltei para o Próspera e fomos campeões (segunda divisão catarinense)”, disse.

Roberto disse que ainda jogou mais uma partida pelo Criciúma na Série C do Campeonato Brasileiro de 2021 e depois em novo confronto diante do Figueirense, válido pela Copa Santa Catarina, em que se lesionou no dedo e provocou o encerramento definitivo.

Agora, todas as atenções estão voltadas a sua trajetória como treinador das categorias de base do Criciúma, em que Roberto Volpato luta pela construção de uma carreira vitoriosa no time Sub-17. “É uma categoria que a gurizada precisa de formação. O cara está fazendo o papel do pai e transmite valores. Tem estrutura, mas o principal é ajudá-los a viver este sonho. Eu estou gostando muito da função”, arrematou o ex-goleiro.

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