OPINIÃO

O camisa 10 e o seu protagonismo no futebol brasileiro

Esportes Já
22/07/2024 às 15:05.
Atualizado em 22/07/2024 às 15:05

(Lucas Figueiredo-CBF)

Na Copa do Mundo de 1958, as inscrições foram realizadas de maneira confusa e desordenada. Jogadores receberam o número sem entender o motivo da distinção. Garrincha atuou com a camisa 11, Didi envergou a camisa 3 e outros jogadores foram atingidos. Só um nome foi agraciado com o destino. 

Pelé vestiu a 10. A partir daquele instante, o número passou a ser o mais importante no futebol brasileiro. Era sinal de decisão, talento, técnica e habilidade. Pelé foi o detentor da super camisa em quatro Copas do Mundo e ganhou três. Raí vestiu a 10 em 1994 e sentou no banco de reservas. As armas daquele time foram a organização defensiva e o alto índice de aproveitamento de Bebeto e Romário nas conclusões. Nada de camisa 10. 

Rivaldo envergou o protagonismo nas duas copas seguintes e não decepcionou, pois levou o time a duas finais e venceu uma. Kaká foi o responsável por defender o legado nas Copas de 2006 e 2010, mas nunca criou problemas. Pelo contrário. Se não rendeu o máximo foi por questões físicas. 

Eis que, desde 2014, a camisa ambicionada por todos os jogadores virou sinônimo de decepção. Seu nome: Neymar. É verdade que foi vitimado nas quartas de final contra a Colômbia por uma lesão nas costas quando vestiu a camisa da Seleção Brasileira em casa, mas o rendimento não era satisfatório. Na Rússia, ficou mais conhecido pelo cai-cai do que por algum poder de decisão. Seu melhor rendimento foi em 2022 na Copa do Catar, mas é inegável constatar que seu potencial foi insuficiente para evitar a derrota na decisão por pênaltis para a Croácia. 

Quando a camisa 10 se desloca do meio-campo, isto deveria ser motivo de preocupação. Na última Copa América, o técnico Dorival Junior concedeu a camisa para Rodrygo, atacante do Real Madrid, mais acostumado com a reserva do que a titularidade no time merengue. É bom falar: nada contra o atleta revelado pelo Santos. É um jogador de extremo talento, habilidade e atacante. Mas no escrete canarinho, o eleito deveria ser um meiocampista. Mas é impossível nomear alguém do atual meio-campo brasileiro, mais acostumado a jogadores comuns do que extraclasse. Não, Lucas Paquetá não é jogador de camisa 10. Talvez em outros tempos sequer fosse titular. É o que temos para hoje. Infelizmente. 

Essas incertezas que norteiam a camisa 10 na Seleção Brasileira são um reflexo daquilo que ocorre nos clubes. No último meio de semana, o Botafogo ganhou do Palmeiras por 1 a 0 em uma partida considerada uma das melhores do Campeonato Brasileiro. Goleiros com alto rendimento, lances de rara beleza plástica e jogadas de extrema velocidade feitas em alguns momentos por Luiz Henrique e em outras por Estevão. Apreciar o espetáculo não pode apagar da mente um detalhe: o jogo agradou muito mais pela intensidade do que jogadas de rara beleza. Não existia o armador capaz de dominar a bola, cadenciar, ditar o ritmo da partida. O venezuelano Savarino teve boa produção, mas longe da escola de um autêntico camisa 10. No lado palmeirense, Rony é conhecido muito mais por sua força e intensidade do que por uma jogada brilhante. Ou seja, tivemos uma partida em que o camisa 10 foi coadjuvante, algo inimaginável tempos atrás. 

Os fatos enumerados são suficientes para decretar a morte do típico camisa 10? Não, nada disso. O Fluminense foi campeão da Copa Libertadores com Paulo Henrique Ganso, representante da escola da criatividade e do talento. Se o Atlético Mineiro acredita em dias melhores é porque Paulinho veste o manto principal do Galo e não decepciona. A habilidade nunca sai de moda. 

O futebol campineiro é outra comprovação da mística da camisa 10. Quando entra em campo pela Ponte Preta, o armador Elvis é a esperança de que algo diferente aconteça na Série B do Campeonato Brasileiro. Sentimento existente quando Renato Cajá defendia a Macaca e levou o time a dois acessos na Série B, nos anos de 2011 e 2014, sem contar o vice-campeonato Campeonato de 2008. 

No Guarani, para muitos torcedores, Fumagalli é o ídolo supremo por conseguir resultados inesquecíveis como o vice-campeonato paulista de 2012 e o segundo lugar na Série C de 2016. Sem a permanência dentro do Guarani em um período de vacas magras. Reforçou a mística do fardamento bugrino. Produziu um simbolismo para torcedores bugrinos muito mais forte do que outros que vestiram a camisa mágica, como Marco Antonio Boiadeiro, Djalminha e Amoroso. Se a campanha bugrina é decepcionante, muitos apontam o dedo para a produção deficiente de Luan Dias no meio-campo bugrino. Pelo menos antes do jogo contra o Sport-PE. 

Conclusão: o símbolo principal do futebol brasileiro pode ter sido maculado, defendido por atletas sem talento e em muitos clubes colocados em segundo plano, mas negar o seu papel histórico na construção de um futebol brasileiro místico e competitivo é algo totalmente sem sentido. Que seja decisivo enquanto dure. 

Elias Aredes Júnior é repórter de Esportes do Correio Popular

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