NA LUTA

O boxe fala alto na periferia

Projeto social e de competição no Campo Belo e Oziel oferece alternativa de vida e envolvimento com o esporte de luta

Esportes Já
26/06/2023 às 09:14.
Atualizado em 26/06/2023 às 09:14
Na Estação Cultura, durante a 10 ª edição do Boxe na Comunidade, realizado no último dia 17 (Divulgação)

Na Estação Cultura, durante a 10 ª edição do Boxe na Comunidade, realizado no último dia 17 (Divulgação)

A luta da periferia de Campinas por dias melhores pode muito bem ser representada pelos golpes desferidos dentro de um barracão no Jardim Campo Belo, em Campinas. Nesse espaço, uma academia ensina os segredos do boxe para crianças e adolescentes. São meninos e meninas que encontram no local uma alternativa para mudança de vida em meio à desesperança que atinge muitas famílias na região.

O projeto social existe há 15 anos e tem como gestor o ex-boxeador Eliel Bernardino Santos. Inclusão é a palavra que direciona as ações na academia, afirma Eliel. “O boxe é um esporte que gera mudanças, superação e combate doenças psicológicas, como a depressão”, prega.

Na Academia de Boxe Campo Belo 45 crianças entre 9 e 15 anos têm a oportunidade de treinar diariamente. Uma outra unidade, que funciona em um barracão no Parque Oziel, atende 35 alunos com atividades realizadas duas vezes por semana. O projeto conta com o apoio do comércio local, que contribui para a sua manutenção.

Além de ser um espaço educacional, o trabalho também investe na formação de boxeadores. Alguns alunos já participam do Boxe na Comunidade, uma competição já tradicional organizada pela academia que no último dia 17 de junho teve a sua 10 ª edição. O evento foi realizado pela primeira vez na Estação Cultura e contou com a participação de 38 atletas em 19 combates. Além de equipes de Campinas, a disputa teve a presença de pugilistas de Sumaré, Boituva, Paulínia, Monte Mor, Iguapé, Mogi Guaçu, Jaboticabal e Bragança Paulista.

“É importante esses jovens estarem em competição para que possam se desenvolver”, afirma Eliel, que foi pugilista profissional e atleta do Clube Atlético Campinas, tradicional academia de boxe na cidade. Ele projeta coisas grandes para seus alunos. “Queremos que Campinas volte a ter mais atletas na seleção brasileira. Faz quatro anos que não temos mais ninguém.”

Além de ser um evento de competição, o Boxe na Comunidade também tem a inclusão social como pano de fundo. Eliel conta que lutas entre cadeirantes já aconteceram em outras edições do evento. E lembra que moradoras de rua chegaram a fazer o papel da “ring girl”, a garota da placa.

“Nos eventos, já recolhemos mais de uma tonelada de alimentos que foram destinados a entidades assistenciais da cidade”, detalha o gestor. “A ideia sempre foi a inclusão. Somos pioneiros em colocar dentro do ringue pessoas que, por vezes, são tratadas como invisíveis.”

O Boxe na Comunidade existe desde 2016, quando aconteceu a primeira edição, no dia 6 de agosto, em uma escola no Jardim Marisa. “Houve até luta internacional entre Brasil e Argentina na época”, lembra Eliel. O plano é que mais duas edições da competição aconteçam ainda neste ano. Em 2023, além do torneio na Estação Cultura, também houve evento no dia 11 de março, na Obra Social São João Bosco, no Oziel.

Eliel, de 38 anos, ainda tenta superar a morte do amigo Jackson Amaral, no ano passado. A idealização do projeto social e do Boxe na Comunidade partiu da dupla. “O Jackson morreu em um acidente doméstico. Tinha só 37 anos. Por conta disso, nosso trabalho passou por um período turbulento. Mas estamos nos recuperando. A própria manutenção das atividades já é um sinal de superação.”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por