RENASCIMENTO

O ano da libertação da equipe do Guarani

Após quatro anos na Série C, o Bugre renasceu e, hoje, mostra força

Elias Aredes
10/10/2022 às 10:31.
Atualizado em 10/10/2022 às 10:31
A torcida bugrina abraçou o time na Série C e foi a responsável pela recuperação da equipe na Série B (Thomaz Marostegan/Guarani FC)

A torcida bugrina abraçou o time na Série C e foi a responsável pela recuperação da equipe na Série B (Thomaz Marostegan/Guarani FC)

No dia 08 de outubro de 2022, o Guarani venceu o ASA de Arapiraca por 3 a 0 e assegurou o acesso a segunda divisão nacional. Eliandro, o volante Wesley e o armador Fumagalli são lembrados como heróis da conquista.

Quando o árbitro goiano Elmo Resende Alves da Cunha apitou o final da partida um terremoto de sentimentos invadiu os 12713 torcedores bugrinos presentes. O Guarani estava de volta a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Um calvário que durou quatro edições, de 2013 a 2016 e que fez com que o Guarani entrasse em campo por 78 vezes no total. Uma consequência das crises que assolavam os bastidores do estádio Brinco de Ouro. Dentro e fora do gramado.

Era preciso virar a página. Retomar o patamar minimo de dignidade e deixar para trás os tempos de confusão e turbulência iniciadas no dia 24 de novembro de 2012. Na ocasião, o Guarani perdeu do São Caetano por 2 a 1 e estava rebaixado para a terceira divisão do futebol nacional. Tentou por rodadas consecutivas chegar aos 44 pontos na Série B do Brasileirão e não conseguiu. Amargou mais um descenso em sua história. No ano seguinte, o que era ruim ficou ainda pior, com o rebaixamento no campeonato paulista e com apenas 10 pontos na classificação. A partir daí foi uma decepção atrás da outra no gramado. De 2013 a 2015 , o Guarani não conseguiu sequer chegar a classificação ao matamata decisivo da Série B. Enquanto isso, as brigas políticas continuavam. Novo capítulo dramático ocorreu no dia 03 de setembro de 2014, quando sem condições políticas para permanecer no cargo, Álvaro Negrão renunciou.

Aos trancos e barrancos, a redenção começou a partir deste instante. Ao assumir o clube, em outubro de 2014, o advogado Horley Senna iniciou o seu plano para tentar salvar o Guarani . Concentrou as suas forças para viabilizar um acordo com o empresário Roberto Graziano para que este comprasse o complexo do estádio Brinco de Ouro. Conseguiu. Após assinar o acordo judicial em agosto de 2015 e com a garantia de um patrocinio mensal de R$ 350 mil mensais além de um aporte para quitar as pendências trabalhistas, o presidente bugrino entrou em 2016 disposto a tirar o Guarani da lama da terceira divisão nacional.

Na primeira fase, com Marcelo Chamusca como técnico e Rodrigo Pastana como superintendente Executivo de Futebol, o plano deu certo. Foram 38 pontos em 18 jogos e a liderança na chave B. Tudo parecia conduzir para um final feliz. Mas o susto veio no dia 01º de outubro de 2016. O Guarani perdeu por 3 a 1 em Arapiraca. Apesar do gol inaugural de Ferreira, aos 11 minutos do primeiro tempo, os dois gols feitos por Diogo e o gol de Reinaldo Alagoano colocaram o acesso sob risco. Era preciso vencer por dois gols de diferença. Caso contrário, tudo iria por água abaixo.

Com uma atuação soberba do meio-campista Wesley - hoje no Sampaio Correa- o time contou com os gols de Leandro Amaro e com dois de Eliandro para carimbar o acesso e fazer a festa no Brinco de Ouro. Um jogo que entrou para história porque o torcedor passou a respirar ares de libertação. E este torcedor não pretende voltar a conviver com o jugo da terceira divisão nacional.

A vitória por 3 a 0 sobre o ASA e a conquista do acesso à Série B do Campeonato Brasileiro teve muitos heróis.

Primeiramente o zagueiro Leandro Amaro e o atacante Eliandro, autor de dois tentos. Mas é impossivel esquecer o papel de Fumagalli no jogo e em toda a campanha na Série C.

Se o Guarani celebrou a conquista do acesso deve-se muito a participação do atual empresário de futebol. Na época com 39 anos, Fumagalli, atuou em 23 dos 24 jogos da campanha. E para chegar ao triunfo diante do ASA, o camisa 10 desdobrou-se dentro e fora do campo.

Nos treinamentos, conhecedor da estratégia do técnico Marcelo Chamusca, Fumagalli treinava faltas e bola parada todos os dias. Em alguns casos, o jogador repetia o treinamento por 50 vezes. Nos bastidores, em determinado momento, o trabalho de Marcelo Chamusca foi contestado e ele chegou a ficar ameaçado de demissão. O pior só não aconteceu porque Fumagalli, ao lado de outros líderes do elenco, pediu um voto de confiança ao treinador e foi atendido pelo Conselho de Administração.

O esforço no gramado e nos bastidores deu resultado na partida decisiva, pois aos 25 minutos do primeiro, Fumagalli cruzou do lado direito e colocou na cabeça do zagueiro Leandro Amaro e depois celebrou o acesso com os dois gols de Eliandro. “Apesar do estresse após a derrota no primeiro jogo, deu tudo certo. Fizemos um jogo perfeito em casa, com o apoio impressionante da torcida, para revertemos a situação. O acesso foi primordial para a história do clube, e fundamental para a gente começar a reconstruir o Guarani. A torcida não aguentava mais o sofrimento de quatro anos na Série C”, disse na época sobre a conquista diante do ASA de Arapiraca. Fumagalli no entanto, tem um curriculo ainda mais robusto para exibir, pois o jogador atuou pelo bugre em 307 partidas com 90 gols marcados, sendo que 36 foram de pênalti, 10 em cobranças de falta e dois olímpicos. Um curriculo adequado para aprticipar de um jogo que representou a libertação de toda uma nação.’

RODRIGO PASTANA, O ARQUITETO DE UMA CONQUISTA INESQUECÍVEL

Em condições normais, qualquer acesso obtido por um clube acaba sempre sendo interligado com o presidente.

Apesar da atuação de Horley Senna nos bastidores, a vitória sobre o ASA de Arapiraca por 3 a 0 no dia 08 de outubro de 2022 e a consequente promoção para a Série B do Campeonato Brasileiro de 2017 teve a cara e o jeito de Rodrigo Pastana, que neste ano retornou para comandar o futebol do Guarani na reta final da Série B do Campeonato Brasileiro.

As duas passagens têm características distintas. Em 2016, Pastana assumiu o time do zero e ficou responsável pelas contratações e formatação da equipe principal. Ele tinha o respaldo de Roberto Graziano na parte financeira, além de controle total sobre toda a infra-estrutura do futebol profissional. Em 2022, o quadro é diferente. Apesar da ausência de problemas com pagamento de salários, Pastana desta vez precisou contratar e reformular o elenco durante a Série C. E está a poucos pontos de carimbar a permanência.

Na sua primeira passagem, em 2016, Pastana chegou em abril e tinha como missão apagar da memória do torcedor bugrino a péssima campanha na Série A-2 do Campeonato Paulista, cujo time foi montado pelo então Superintendente Executivo de futebol, Valdir Lins e também pelo técnico Pintado dentro do gramado. O ex-volante foi substituído por Marcelo Chamusca, que recebeu todo o respaldo de Rodrigo Pastana, que tinha ainda Marcus Vinicius Beck Lima como coordenador operacional do futebol e Anaílson Neves como o responsável pela parte logistica. A estrutura não foi responsável apenas por levar o Guarani para a segunda divisão como também para as fases decisivas e a decisão contra o Boa Esporte, quando o Guarani foi derrotado.

O acesso com o Guarani em 2016 abriu as portas para Rodrigo Pastana no mundo do futebol. De dezembro de 2016 a setembro de 2018 ele foi o responsável pelo futebol do Paraná, e chegou ao acesso na Série B de 2017.

No ano seguinte, mesmo sendo contratado no meio da competição, ele foi peça fundamental para o Coritiba chegar a primeira divisão nacional em 2018. Neste ano, Pastana também tinha objetivos de acesso na Série C com o Vitória (BA), quando recebeu o convite para dirigir o futebol profissional do Guarani. Sem Pastana, o Vitória (BA) assegurou acesso e disputará a Série B em 2023.

Apesar dos percalços enfrentados em 2016 e mesmo com o final feliz diante do ASA, no Brinco de Ouro, o dirigente fez questão de separar os dois contextos logo na sua apresentação oficial neste ano. “Em 2016, eu vim para montagem do elenco e do planejamento para a Série C. Era necessário que o Guarani subisse e felizmente a gente conseguiu. Hoje, um clube mais organizado, é assim que eu enxergo. Temos que ser assertivos. Ter calma nos processos. Tentar melhorar o que já é bom. Espero que eu tenha muito mais sucesso do que na outra passagem”, afirmou o superintendente executivo de futebol do Guarani.

Ele não esconde sua meta: para fazer um ano melhor em 2023, a sua referência é o ano de 2016, quando a vitória contra o ASA de Arapiraca fez o time se libertar de anos e anos de sofrimento na terceirona nacional.

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