Mesmo sem patrocínio, grupo de atletas de Campinas embarca para o Mundial levando na bagagem a paixão pelo esporte
Além da preparação física, técnica e psicológica, atletas de Campinas também tiveram que preparar o bolso (Divulgação)
Paixão pelo esporte. Esse é o principal item da bagagem que um grupo de atletas de kung fu de Campinas levou à China neste final de semana para a disputa do Mundial. Selecionados para representar o Brasil na competição de quarta-feira (23) até a próxima segunda (28), em Erneishan, Sichuan, eles seguiram com a “cara e a coragem” em busca de medalhas. Afinal, além da preparação física, técnica e psicológica, os atletas também tiveram que preparar o bolso para competir. Sem patrocínio, cada um precisou batalhar atrás de recursos por conta própria.
“Foi uma batalha, mas todos os convocados aqui de Campinas irão”, disse a atleta Solange Pattaro, ainda antes do embarque. Para a realização do sonho, muitos contraíram dívidas, já que apenas uma parte da meta de R$ 24 mil por competidor chegou a ser atingida.
“Infelizmente, não tivemos patrocínio”, lamenta Solange. “Uma parte dos recursos eu consegui por meio de doações de uma vaquinha on-line e venda de rifas”, conta, exemplificando a estratégias usada pela maioria. “Da minha parte, contei com dois bingos, oito rifas e ajuda de amigos”, afirma o atleta Cléu de Almeida Costa. “Já a passagem foi parcelada e será paga aos poucos.”
De Campinas, foram nove convocados que integram o projeto Wushu, grupo que reúne seis academias de kung fu na cidade. A ação recebe o apoio do Fundo de Investimento Esportivo (Fiec), mas os recursos são insuficientes para garantir suporte em competições internacionais. “O máximo que conseguimos é arcar com inscrições, transporte e alimentação quando acontecem torneios regionais e nacionais, o que já representa uma grande conquista”, diz Ana Consoli, gestora do projeto. “Mas quando as competições são no Exterior, a situação complica. Infelizmente, muitos atletas em condições de ganhar medalha lá fora não vão por falta de verba.”
O processo para a convocação começou no Brasileiro do ano passado e passou por uma seletiva em fevereiro e abril. O comunicado da Confederação Brasileira de Kung Fu aos selecionados sobre os detalhes da viagem foi divulgado em maio, deixando os atletas com o limite de três meses para levantar recursos. No chamamento, já está explicito que cada convocado precisa arcar com suas próprias despesas.
Atleta da seleção desde 2012, Regina Helena Alencar Ribeiro afirma que já observa um movimento para que a realidade mude. “Os atletas estão se unindo mais e querem mudar esse cenário. Estamos começando a entender melhor nossa importância e como nossa voz é importante.” As convocações para o Mundial acontecem a cada dois anos. Em função da pandemia, a última havia sido em 2019.
Na China, os atletas minimizam o problema e só pensam em competir da melhor forma possível. “A expectativa é sempre a mais alta possível. Espero conseguir realizar uma boa performance e, como consequência, conseguir o primeiro lugar”, diz Cléu, terceiro colocado no Mundial de 2019.
Solange, por sua vez, fará sua estreia em um Mundial. “Só o fato de estar participando de um campeonato entre os melhores atletas do mundo já é a realização de um grande sonho. Pratico kung fu desde os 14 anos e essa arte marcial foi determinante para a minha formação e minha vida. Me dediquei muito para esse momento e a minha expectativa é subir no lugar mais alto do pódio, trazendo medalhas para casa”, relata a atleta de 32 anos.
O Mundial é o 9TH World Kung Fu Championships. A modalidade da qual os atletas de Campinas participam é o Wushu, que trabalha com performance e demonstração, uma espécie de ginástica rítmica de solo.
Modalidade representada pelos atletas campineiros lembra uma ginástica rítmica de solo (Divulgação)