Quando chegamos encontramos um clube com situação precária em todos os setores
Vista aérea do Majestoso (Léo Yasuda/Dronely/Especial PontePress)
O Estádio Moisés Lucarelli completa, nesta terça-feira, dia 12 de setembro, o seu Jubileu de Diamante. Uma história de 75 anos que é recheada de glórias, emoções, conquistas, superações e até algumas decepções para o torcedor da Ponte Preta. Construído com o suor de seus próprios torcedores, o Majestoso é um templo para quem é apaixonado por futebol.
Orgulho de quem viu o sonho de Moyses Lucarelli, José Cantúsio e Olympio Dias Porto sair do papel para se tornar realidade quando Campinas tinha apenas 140 mil habitantes. Na época da inauguração, o estádio da Ponte Preta foi projetado para receber até 35 mil pessoas. Por isso, o nome de Majestoso.
Neste mês, o estádio teve sua fachada toda revitalizada, com pintura geral da histórica fachada, que se tornou patrimônio cultural de Campinas tombado pelo Condepacc. Toda estrutura interna já vem sendo reformada, desde o ano passado. Obras que não aconteciam há mais de 20 anos.
Na semana da comemoração do Jubileu de Diamante, o presidente Marco Antonio Eberlin concedeu entrevista exclusiva ao Esportes Já para falar deste momento ímpar na história do estádio; também respondeu perguntas sobre diversos assuntos relativos ao time que disputa a Série B do Brasileiro..
Esportes Já - Como é administrar um clube centenário, com uma torcida apaixonada, mas sem dinheiro?
Marco Antonio Eberlin - Não é nada fácil. Quando chegamos encontramos um clube com situação precária em todos os setores. O estádio estava praticamente abandonado com muitos problemas estruturais. Tivemos que fazer uma ampla reforma em todos os setores e enfrentamos uma série de problemas financeiros, com dívidas sendo cobradas até por ex-presidentes. Dívidas estas que após auditoria interna acusam aproximadamente R$ 280 milhões.
O que já foi feito e o que ainda precisa ser feito?
Começamos as reformas pelos alojamentos da base, onde praticamente tudo precisou ser trocado. Também fizemos uma nova academia com equipamentos de última geração, reformamos o vestiário do profissional, implantamos salas de odontologia, psicologia, nutrição e demos uma grande revitalizada no Salão Nobre. Sabemos que ainda existe muito por fazer, mas estamos caminhando, com dificuldades, mas caminhando. No ano de 2022, quando chegamos, nos entregaram o clube com déficit de R$ 20 milhões relativos ao ano anterior. E, mesmo assim, conseguimos pagar dívidas que ultrapassaram a casa de R$ 15 milhões. Tudo isso relativo a gestões anteriores. Em 2023, fizemos acordo para derrubar transferbans na ordem de R$ 3 milhões que serão quitados até o final do ano. Também já pagamos contratos mútuos que com juros ultrapassam a marca de R4 3,5 milhões. Se contar os inúmeros processo qe liquidamos. Estancamos, via Pept, dívidas de R$ 40 milhões em ações trabalhistas. Vamos começar a pagar estas e todas as outras de gestões anteriores.
O Moisés Lucarelli completa 75 anos nesta terça-feira, 12 de setembro, e já foi possível perceber algumas mudanças com obras realizadas no visual do estádio. O que mais o torcedor pode esperar?
Fizemos uma parceria importante para pintura de todo o Majestoso. Nesta primeira etapa, foi feita revitalização da fachada, que é patrimônio cultural da cidade de Campinas. Em seguida, serão recuperados os muros e, posteriormente, a parte interna de todas arquibancadas, vitalícias e cadeiras cativas, inclusive, está prevista a reforma geral dos camarotes. Uma obra deste porte foi feita pela última vez no Majestoso, em 1999. Ou seja, há mais de 20 anos. O dinheiro na ocasião veio da venda do atacante Luís Fabiano ao Rennes, da França.
O que o torcedor pode esperar da Ponte Preta em um futuro próximo?
Pode esperar coisas boas. Tivemos problemas quando chegamos porque nem time para colocar em campo, a Ponte tinha. Sofremos com o rebaixamento no Paulista, fizemos uma campanha de razoável para bom na Série B e, neste ano, conseguimos um título depois de quase 54 anos, com uma campanha quase perfeita. Hoje, estamos com 11 atletas profissional no elenco que são formados na nossa base. Juntos, têm multa rescisória que supera a casa dos R$ 100 milhões. Isso é patrimônio da Ponte Preta.
Como vê a performance do time na Série B?
A Série A2 foi uma competição bastante difícil, com jogos intensos e de muita pegada. Tivemos muitos jogadores lesionados e sofremos no início com a mudança de competição, inclusive de nível técnico. Nossa meta, desde o início da Série B, era conquistar o acesso, mas fomos atrapalhados, inclusive por problemas judiciais que nos impuseram alguns transferban na CNRD da CBF. Não conseguimos contratar quando todos adversários estavam se reforçando. Mas conseguimos resolver e estamos trabalhando todos os dias para recuperar o tempo perdido. Trouxemos três jogadores agora para encorparem um pouco mais o elenco e acho que é possível ter uma sequência positiva. Acredito no elenco, na comissão técnica e nos profissionais que atuam com o time.
Quais são as perspectivas para 2024?
No primeiro semestre, teremos um Paulistão, que realmente é um desafio de grande porte e estaremos preparados para fazer o melhor. Ainda temos uma competição em disputa e, por enquanto nosso foco, é só neste ano. Obviamente, sem deixar de planejar o futuro.
Qual é o legado que Marco Eberlin quer deixar perpetuado na história da Ponte?
Cheguei como diretor do futebol amador, em 1996. Em 1997, como diretor de futebol do amador e também do time profissional, conseguimos o acesso ao Brasileirão com uma média de 12 mil torcedores no Majestoso. Naquele jogo, empatamos com o Náutico por 1 a 1, em casa, e subimos junto com o América-MG. Em 1998 fomos vice-campeões da copa São Paulo. Em 1999, já como vice-presidente, garantimos ao acesso ao Paulistão depois de golear o Mirassol, por 5 a 0. Mais uma vez, com o estádio lotado e revelando diversos jogadores, entre eles o atacante Luís Fabiano. Em 2001, terminamos como terceiro melhor time da Copa do Brasil e também no Campeonato Paulista. Em 2003, tivemos uma campanha heroica quando, sob o comando do técnico Abel Braga, evitamos um rebaixamento tido como certo no Brasileirão. Passei 15 anos no clube e sou o único dirigente que nunca foi rebaixado neste período. Naquela época, coloquei dois jogadores na Seleção Brasileira (Washington e Mineiro), algo que só acontece durante a gestão Lauro/Peri.
Tem algo que gostaria de conquistar com a Ponte?
Como você gostaria de ser lembrado no futuro? Queremos fazer o melhor para a Ponte Preta. Em um ano e meio, já conquistamos um título que a Ponte só havia conseguido em 1969. Fizemos reformas estruturais urgentes e necessárias, equalizamos ações trabalhistas com um acordo inédito na Justiça e vem mais por aí. No futuro, quando deixar o cargo, quero ter a certeza que fiz algo de bom para a Ponte Preta. Aí, é o torcedor que poderá julgar a nossa administração. Espero deixar coisas boas, principalmente consertar o alicerces alvinegros, que foram trincados nos últimos 15 anos.