LUTA

Jiu-Jítsu ganha força na periferia de Campinas

Projeto social se instala em meio aos desafios diários de jovens pela sobrevivência

Esportes Já
02/12/2024 às 16:18.
Atualizado em 02/12/2024 às 16:18
Poucos alunos frequentavam as atividades no início (Divulgação)

Poucos alunos frequentavam as atividades no início (Divulgação)

Determinação e garra. Esses atributos não faltam em um grupo que treina jiu-jítsu toda a semana no Ginásio Nabi Abi Chedid, no Parque Anhumas, região do Cafezinho, periferia de Campinas. A reunião envolve jovens que têm batalhas como parte da rotina pela sobrevivência e que se reproduzem nas atividades promovidas pelo sensei Ray Costa do CT Valhalla Fight Center. Trata-se de um projeto social que se instala em um ambiente no qual a luta já está incorporada a uma realidade contextualizada por desafios diários. 

“Ali tem muito, muito, muito talento”, resume Costa, de 48 anos, campeão sul-americano de jiu jítsu e integrante do universo do combate desde criança. “Na periferia, o instinto para a luta é nato.” 

O projeto tem quase dois anos de existência e nasceu a partir de uma Copa de Jiu-Jítsu realizada no ginásio Nabi Abi Chedid pelo CT, que tem sua principal sede no Parque Taquaral. “Durante o evento, percebi que ali seria um lugar ideal para colocar em prática uma proposta que há muito tempo estava nos meus planos”, conta o sensei. “Antes eu tinha tentado introduzir as atividades na região do Campo Grande, mas não deu certo”, lembra. 

No Parque Anhumas, o lutador contou com o envolvimento da comunidade na divulgação e mergulhou de cabeça no investimento. O começo, no entanto, foi desafiador. “Nos primeiros dias tínhamos uma média de cinco alunos. Hoje são de 25 a 40 por aula e uma fila de espera de 50”, detalha. 

As aulas acontecem às terças-feiras entre 18h e 19h e às quintas-feiras das 17h30 às 18h30. O espaço é aberto para meninos de 6 a 18 anos e mulheres de todas as idades. Os participantes treinam em tatames previamente montados e recebem quimonos, além de lanches antes e depois das aulas. O sensei diz ser rigoroso na manutenção do caráter social da atividade, que é gratuita. “É um projeto voltado para crianças cujos pais não têm condições financeiras para pagar uma academia, e não há exceção.” 

Costa conta como é a realidade de muitos de seus alunos na região do Cafezinho. “Tem criança que perdeu pai, mãe e vive na rua, com desafios diários e reveses constantes”, expõe. “A chegada ao treino já representa uma vitória, pois, para que isso aconteça, é necessário matar o leão do dia”, comenta. 

Nas aulas, o objetivo, diz Costa, é contribuir para o encontro de um caminho adequado a cada participante. “Buscamos transmitir aprendizado para que eles possam ter equilíbrio, controle emocional e discernimento através da luta.” 

Maranhense de Parnarama, Raymundo Nonato Souza Costa diz que se identifica com seus alunos. Em São Luís, onde cresceu, esteve envolvido em gangues e brigas de rua e conta que foi resgatado por meio da luta. A infância foi difícil. “Quando eu tinha 5 anos, meu pai foi para o garimpo em Serra Pelada e nos deixou”, lembra. Criado junto de três irmãos pela mãe e a avó, define ambas como guerreiras maranhenses. “Minha mãe sempre batalhou com dificuldades e nunca nos deixou passar fome.”

De São Luís, Ray se mudou para Goiânia. Em Campinas, está há 26 anos. “Minha mãe conseguiu um trabalho na cidade e a família veio toda para cá”, relata. Hoje, por meio do projeto que desenvolve no Parque Anhumas, vê a oportunidade de transmitir sua experiência para quem vive uma realidade semelhante à que ele vivenciou. “Trazer essas crianças para um outro mundo, que é o mundo da luta, uma arte nobre, e fazer com que elas se sintam valorizadas, são as principais metas.”

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