BONS TEMPOS

Heitor: uma semente plantada em Campinas e colhida pelo mundo

Ex-lateral direito com passagem em categorias de base de Ponte Preta e Guarani,Heitor teve a oportunidade de conviver com os principais craques da década de 1980

Esportes Já
19/05/2025 às 16:25.
Atualizado em 19/05/2025 às 16:25
Atualmente, Heitor é pai de dois filhos, avô de quatro netos e trabalha como corretor de imóveis (arquivo pessoal)

Atualmente, Heitor é pai de dois filhos, avô de quatro netos e trabalha como corretor de imóveis (arquivo pessoal)

Atuar no futebol de Campinas nas décadas de 1970 e 1980 era sinônimo de qualidade. Ser oriundo das categorias de base de Ponte Preta ou Guarani já recebia uma chancela de carreira promissora. A qualidade era tão abundante que alguns atletas saíam da cidade sem fazer história na equipe principal e construíam uma trajetória inesquecível em outros clubes. Este é o resumo do que viveu no futebol o corretor de imóveis Heitor Camarim Junior, de 61 anos, hoje residente em Laranjal Paulista. Ele virou uma personalidade do município por tudo que fez na bola e nos gabinetes políticos.

Para entender como ocorreu o surgimento deste personagem, é preciso fazer uma viagem no tempo. Nascido em Tietê, Heitor mudou-se de cidade aos seis anos. Não demorou para atuar na categoria dente de leite, tudo viabilizado pelo contato com amigos e parentes. O talento ficou pequeno para a região de Laranjal Paulista, e surgiu a oportunidade de fazer um teste no Guarani aos 14 anos. Tudo surgiu por intermédio de um amigo, proprietário de uma empresa e que conhecia um diretor do Guarani.

A “escadinha” de ascensão começou pelo Juvenil C, time para o qual seria direcionado ao ser aprovado no teste. Heitor lembra-se em detalhes: dos 60 concorrentes, três foram aprovados. Ele estava na lista. Ser campeão juvenil com o Guarani em 1979 foi insuficiente para evitar sua demissão. Na época, Heitor foi informado de que exames médicos detectaram que ele teria doença de Chagas e que não poderia continuar na carreira. O retorno à casa dos pais foi acompanhado da determinação de comprovar sua aptidão ao futebol de alto rendimento. Dois exames foram bancados em clínicas particulares, e foi detectado que ele tinha “coração de atleta” — uma condição que faz com que o órgão cresça de tamanho durante a prática de exercícios físicos, algo insuficiente para inabilitar qualquer um para o futebol.

Problema desvendado, a Ponte Preta surgiu em sua vida a partir de uma indicação. A partir daí, Heitor começou uma carreira vertiginosa nas categorias de base, o que chamou atenção dos responsáveis pelos times de base da CBF. Tudo isso foi possível, de acordo com Heitor, porque o seu primeiro treinador na Macaca, Jair Picerni, foi precioso para indicar caminhos e soluções da posição. “Ele me ajudou bastante no começo”, disse Heitor.

Como uma pedra bruta, Heitor era lapidado por Picerni e apresentou suas credenciais: capacidade de atuar nas duas laterais e de empreender chutes fortes em cobranças de falta. Por servir tanto às seleções de base no período de 1980 a 1983, Heitor atuou em três oportunidades no time principal. A conquista do Campeonato Mundial de Juniores, em 1983, foi o estopim para Heitor colocar o pé na estrada e cultivar o sentimento de carinho e gratidão com a Ponte Preta. Pelas categorias de base da Seleção, o atleta atuou em 47 partidas. O Flamengo foi um grande salto na carreira. Não somente pelo peso da camisa rubro-negra, mas pela oportunidade de conviver com jogadores como Jorginho, Leandro, Adalberto, entre outros. Já se vivia na Gávea a era pós-Zico. “Era um grupo seleto, e na época o Flamengo contratou seis jogadores que foram campeões mundiais de juniores, e eles fizeram a mescla com os profissionais”, explicou Heitor, que relembra outras contratações feitas na ocasião, como a do atacante Lúcio Bala, com passagens por Ponte Preta e Guarani. “Eu sabia que tinha sido contratado para ser reserva. Então, a solução era ter paciência”, disse.

Em determinado instante, a paciência se esgotou e ele aceitou uma proposta para atuar no Náutico. As partidas em terras pernambucanas foram suficientes para atrair a atenção do Vasco da Gama, que adquiriu os seus direitos. Foram dois Campeonatos Cariocas disputados e a chance de conviver com jogadores como Geovani, Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário. Na última competição, em 1986, o Vasco perdeu a final para o Flamengo, e Heitor arrumou as malas e dirigiu-se ao futebol português. Foram nove anos exitosos com camisas como as do Vitória de Guimarães e Marítimo. Depois desses dois clubes, a carreira foi encerrada com 32 anos. “Naquele tempo, o atleta encerrava cedo a carreira. Hoje, com a ajuda da ciência e a longevidade, é possível atuar até os 40 anos”, analisou Heitor. 

Existiu uma tentação no caminho. Equipes como Coritiba e Internacional (RS) encaminharam propostas para que retornasse aos campos, mas Heitor preferiu pendurar as chuteiras. “Decidi dedicar mais tempo à família”, disse. 

Fora das quatro linhas, a empreitada inicial foi a de se juntar com um grupo de ex-jogadores e realizar construções de casas e edifícios, além de tirar o seu sustento de uma pequena chácara. Hoje, Heitor Camarim Junior, pai de dois filhos e avô de quatro netos, trabalha como corretor de imóveis e considera que deixou um legado positivo para o futebol. “Eu tive uma carreira mediana. Gostava muito de bater faltas. Talvez o legado que tenha deixado no futebol foram os gols de bola parada. Em Portugal o pessoal lembra mais. A verdade é que você começa com a juventude, e não dá certo no começo, mas amadurece e a carreira alcança um bom ponto. Fui muito além do que eu esperava”, completou.

DE CRAQUE PARA UM PASSAGEIRO DA POLÍTICA 

Os puristas e inocentes afirmam que política não se mistura com futebol. Mas é impossível ignorar quem desempenha de modo competente as suas tarefas nos dois ambientes. Heitor Camarim Junior fez história como jogador de futebol e também como político em Laranjal Paulista. 

Quando tudo parecia conduzir a uma vida pacata e sem sustos, a política entrou em sua vida. A trajetória começou em 2004, quando concorreu e venceu a eleição para vereador em Laranjal Paulista (SP). Foi o mais votado do município, concorrendo pelo Partido dos Trabalhadores (PT). No mandato, teve atuação destacada. Foi presidente da Câmara Municipal e, em 2008, foi candidato a prefeito. Venceu com 8.845 votos, ou 59,11% dos votos válidos. Quatro anos depois, a candidatura à reeleição foi exitosa ao ganhar com 9.309 votos, ou 60,29% do total. 

Segundo ele, as recordações deste período são as melhores, cuja semente foi plantada por intermédio de um projeto social. “Antes de entrar na prefeitura, eu sempre busquei trabalhar no lado social. Eu e o Almir, que jogou no Guarani, tivemos uma escolinha particular e tínhamos um projeto com 180 crianças em que dávamos treinamento gratuito em um bairro carente da cidade”, contou. 

Segundo ele, todo o legado construído na época de prefeito só foi possível graças a uma equipe competente montada por ele. “Sou uma pessoa que, por gostar da cidade, por ver boas políticas, a minha satisfação era ver algo concretizado, como um conjunto de casas habitacionais, um posto de saúde ou uma escola boa”, explicou. “Tentei trabalhar na política para melhorar um pouco a vida das pessoas, já que vivi nove anos em Portugal e conheci outras realidades”, arrematou. 

Sobre as cobranças direcionadas ao mundo político, Heitor Camarim afirmou que não ficou assustado. “Eu sempre falava que algo que eu trouxe do futebol para a política foi aceitar as cobranças. O jogador trabalha com cobrança. Você ganha no domingo, perde na quarta e o ambiente é outro de trabalho. Então, você aceita a crítica”, completou.

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