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Fumagalli, o camisa 10 de todos os bugrinos

Hoje aposentado dos gramados, ex-jogador desfruta do respeito e admiração de torcedores, técnicos, dirigentes e companheiros de profissão

Esportes Já
15/07/2024 às 18:36.
Atualizado em 15/07/2024 às 18:36
Em quatro passagens pelo Guarani, Fumagalli conheceu vitórias e fracassos e viveu instantes únicos, como a goleada de 6 a 0 no ABC, na Série C de 2016, e a conquista da Série A2 de 2018 (Arquivo Pessoal)

Em quatro passagens pelo Guarani, Fumagalli conheceu vitórias e fracassos e viveu instantes únicos, como a goleada de 6 a 0 no ABC, na Série C de 2016, e a conquista da Série A2 de 2018 (Arquivo Pessoal)

O futebol é o único esporte capaz de transformar seres mortais em lendas. Homens capazes de perpetuar feitos por anos e anos, e com diversas camisas. José Fernando Fumagalli é um exemplo desse tipo de personagem. Aos 46 anos, o ex-jogador de futebol nascido em Monte Alto um dia fez parte de uma legião de garotos que buscavam um lugar na selva de pedra do esporte. Foi revelado pela Ferroviária em meados da década de 1990, mas o seu destino era o mundo. 

Chamou a atenção do Santos e do Tokyo Verdy até cativar pela primeira vez o coração do torcedor bugrino. Ele não estava para brincadeira. Na passagem inicial, nos anos de 2000 e 2001, Fumagalli fez 93 jogos e anotou 28 gols. Viveu diversas alegrias e uma tristeza profunda ao estar integrado ao elenco que caiu no Campeonato Paulista de 2001. O time era comandado por Carlos Alberto Silva, a principal referência de sucesso para o torcedor alviverde. 

Fumagalli conquistou novos territórios. Atuou no Corinthians, Santo André, Fortaleza-CE e marcou história nos anos de 2006 e 2007 no Sport-PE, quando conquistou um Campeonato Pernambucano e o acesso na Série B de 2006 ao terminar na segunda colocação com 64 pontos, atrás apenas do campeão Atlético Mineiro, que teve 71 pontos. Três anos depois, novo protagonismo com o acesso do Vasco da Gama, vencedor da segundona nacional com 76 pontos. O Guarani foi o vice-campeão com 69 pontos. 

A saída de São Januário e a rápida estadia no então Americana preparava Fumagalli para o capítulo principal de sua trajetória como jogador: o Guarani. A partir da segunda passagem, o camisa 10 e a torcida se transformaram em algo único. Fumagalli teve vitórias e dissabores com intensidade. Foi vice-campeão do Paulistão em 2012, eleito craque do interior pela Federação Paulista de Futebol e artilheiro da equipe com nove gols. Sofreu no mesmo ano com o rebaixamento da equipe para a Série B, quando o time entrou na zona de rebaixamento na última rodada e terminou com 41 pontos. No ano seguinte o pesadelo continuou, pois a equipe ficou na lanterna do Campeonato Paulista. 

Em conjuntura normal, qualquer atleta jogaria a toalha e tentaria novos rumos. Fumagalli fez diferente. Exceto por um período de três meses no Santa Cruz-PA, ele não arredou pé. Permaneceu e liderou o clube na busca de recolocação na Série B, feito alcançado em 2016, quando o Alviverde eliminou o ASAAL ao vencer por 3 a 0 no estádio Brinco de Ouro. Teve mais. Na semifinal, após perder o jogo de ida em Natal para o ABCRN por 4 a 0, o Guarani precisava de uma reviravolta retumbante. E o clube campineiro conseguiu. A goleada por 6 a 0 contou com uma atuação memorável do camisa 10, autor de três gols. 

Os feitos continuaram. Para fechar a carreira com chave de ouro, Fumagalli liderou o grupo e auxiliou o então emergente técnico Umberto Louzer para conquistar a promoção e o título da Série A2 do Campeonato Paulista. 

Fumagalli terminou sua trajetória no Guarani com 307 jogos disputados e 90 gols anotados, 36 de pênalti. São números que justificam a idolatria das arquibancadas. Por trás das estatísticas, existe o legado de um jogador que arrebatou companheiros de trabalho, dirigentes e técnicos. 

Exemplo disso é Danilo Sacramento. Companheiro de quarto durante o Campeonato Paulista de 2012, ele até hoje lembra da capacidade de liderança apresentada por Fumagalli. “Fora de campo ele tinha uma liderança do bem, pois era humilde e sempre dava conselho aos mais novos”, afirmou o ex-jogador, hoje residente em Araras.

Na época com 22 pontos, o então lateral e volante Medina, autor de dois gols no dérbi válido pela semifinal do Campeonato Paulista de 2012, foi um dos beneficiados pela liderança propositiva de Fumagalli. “Ele nunca deixou de assumir as responsabilidades. Ele não permitia que a vaidade entrasse no elenco”, atestou Medina, que atualmente mora em Campinas. 

Se a personalidade de Fumagalli teve protagonismo em 2012, o filme foi repetido em 2016, segundo personagens centrais daquela campanha. “Ele foi fundamental para o acesso do Bugre em 2016. Dentro das quatro linhas ele cumpria uma função tática relevante, e no vestiário exerceu uma função importante: liderar e mobilizar os atletas nos momentos difíceis durante a competição”, disse o técnico Marcelo Chamusca, condutor do acesso em 2016. 

A participação de Fumagalli foi reforçada por quem era responsável pela gestão do Departamento de Futebol Profissional e teve em Fumagalli um aliado. “Perdemos na rodada inicial das oitavas (contra o ASA-AL) da Série C e naquele momento alguns atletas já pensavam em novos contratos e não mais no compromisso com o clube”, disse Rodrigo Pastana, atual superintendente executivo de Futebol, função que também exercia em 2016. O dirigente remunerado relembrou do papel de Fumagalli. “Ele como capitão dava o exemplo de que somente com trabalho teríamos um resultado capaz de mudar os contratos dos diversos jogadores e uma mudança de espírito naquele tempo nos prejudicaria”, relembrou. 

Atual comandante do futebol profissional da Chapecoense-SC, Marcus Vinicius Beck Lima também celebrou a parceria estabelecida com Fumagalli na época de jogador e quando trabalharam juntos no planejamento da equipe profissional em 2019. “ Ele foi uma pessoa muito importante (em 2019) pela sua experiência, conhecimento e postura. Tenho gratidão por ter essa oportunidade de conviver com ele. Temos amizade até hoje e tenho um carinho e respeito muito grande por tudo que ele fez e por tudo que ele faz”, completou Marcus Vinicius, que concorda sobre o alcance e o legado construído por alguém que se transformou no camisa 10 de todos os bugrinos.

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