O ex-jogador o tem 401 gols marcados com a camisa do Brasil e é o maior artilheiro entre todas as seleções brasileiras de futsal
Com quatro títulos mundiais, Falcão é o principal jogador da história do futsal brasileiro (Site oficial Falcão/Divulgação)
Alessandro Rosa Vieira pode passar despercebido se algum brasileiro nunca assistiu rotineiramente a jogos de Futsal. O quadro muda com o pronunciamento do seu apelido, de seis letras. Simplesmente Falcão. Este multicampeão e ex-atleta de 46 anos é sinônimo de vitória. Agora, o patrimônio esportivo acumulado é utilizado para firmar-se como um ativista de causas sociais.
O cartão de visitas quebra resistências: são 401 gols marcados com a camisa do Brasil e Falcão é o maior artilheiro entre todas as seleções brasileiras que jogam com a bola nos pés, incluindo campo, quadra e areia. No total, a carreira de Falcão produziu mais de 3 mil gols e 104 títulos no currículo, com direito a quatro mundiais e duas bolas de ouro pela Fifa.
O jogo agora é outro. Crianças, adolescentes e idosos são os alvos dos seus programas sociais. Tudo funciona de maneira simples: Falcão recebe o projeto e assim como um mascate beneficente, ele passa a procurar clubes e empresas que possam destinar patrocínios para pagar custos e despesas dos projetos. “Todas as marcas que eu represento tem um marco social”, disse Falcão, pronto a justificar porque seus jogos, exibições e projetos sociais são direcionados para cidades médias e pequenas, que muitas vezes não estão no radar do esporte brasileiro. “Um projeto feito no interior por vezes nunca é visto. Eu pego esse material, levo para meus patrocinadores e geralmente eles ajudam de alguma forma”, disse o ex-jogador.
Método, foco, determinação e preocupação em utilizar a imagem para alavancagem de causas sociais já produzem efeitos positivos. Falcão tem agenda lotada até dezembro e ele reafirma sua disposição de direcionar o seu trabalho aos locais fora do radar do esporte brasileiro. No próximo dia 22 de julho, Falcão participará em Araras de um projeto patrocinado por uma multinacional de alimentos e que visa incentivar a prática de esportes entre as crianças.
Quando encontra-se nestas cidades, Falcão leva You Tuber´s como companheiros para os jogos de exibição. Ali, as crianças recebem tratamento diferenciado, com a instalação de camarotes kids e a permissão para que entrem em quadra toda vez que Falcão balança as redes. “Talvez essas crianças não teriam chance de entrar em contato com o ídolo. É sempre bom se relacionar com as crianças e atender essa demanda”, explicou o jogador, que busca ficar antenado às novas tendências, o que explica a presença dos You Tuber´s nos eventos. Por questões internas, o canal de Falcão está paralisado. Mesmo assim, conta com 1,6 milhão de seguidores. “Se estivesse em ordem, certamente teríamos mais de dois milhões (de seguidores), disse o ex-jogador.
Falcão sempre está disponível para atender as crianças e adolescentes que apreciam o seu futebol; nos seus projetos sociais, o ex-jogador Falcão gosta de se aproximar dos seus fãs e embasar os seus projetos sociais (Site oficial Falcão e Site oficial do Projeto Social)
Consagrado dentro das quadras, autor de lances inesquecíveis no Futsal, Falcão considera que todos os ex-jogadores e atletas da atualidade poderiam seguir a sua tendência e apostar no trabalho com ênfase social. Falcão descreveu os seus últimos dois anos de sua carreira como preciosos para preparar o período de transição. Conduzir a própria carreira, sem a ajuda de empresários, segundo Falcão, foi essencial para desfrutar do saldo atual. “Como eu nunca tive empresários, o meu olhar é sempre amplo. A minha pós carreira foi muito além do que imaginava”, disse Falcão.
O ex-jogador reforça que a sua experiência pode servir de incentivo para que outros possam avançar. “Eu acho que eles podem muito mais. Mas o ex-atleta fica perdido porque sempre teve alguém para resolver as pendências por ele. Isso atrapalha um pouco as tomadas de decisão. No meu caso, desde os 15, 17 anos eu discutia os meus contratos”, esclareceu.
Qual o caminho para juntar marketing para viabilizar bons rendimentos e a necessária relevância na sociedade? Falcão aconselha que qualquer atleta em atividade ou quem abandonou recentemente o ofício procure ser embaixador de uma marca e associado com uma causa social. “Ele pode formar times alternativos e que podem vender a sua marca”, disse Falcão, que lamenta a ausência de perspicácia dos clubes de não perceberam o potencial deste setor. “Falta um pouco de planejamento. O clube precisa entender que esse também pode ser um produto ativo”, disse o ex-jogador.
EQUIPES TÊM DIFICULDADES DE SE FIRMAREM EM GRANDES CIDADES
O deslocamento do futsal para as cidades médias e pequenas é um fato consumado para Falcão. Um dos motivos, na sua visão, é a dificuldade de financiamento encarada por qualquer equipe sediada em grandes metrópoles. O ex-jogador cita como exemplo positivo a equipe de Carlos Barbosa, sediada na cidade de nome homônimo, que tem 30418 habitantes, de acordo com o recente censo divulgado pelo IBGE. “Quando você compete com o futebol (de campo) é mais difícil porque as outras modalidades ficam lá embaixo. Não é o que acontece em países como Estados Unidos, China e Cuba, que contam com muitas modalidades em condições iguais”, explicou.
Esta conjuntura explica as dificuldades financeiras vividas por equipes que ousam conduzir um trabalho em grandes cidades, como o Pulo do Gato, sediado em Campinas. “Se o Pulo do Gato atuasse com a camisa de Guarani e Ponte Preta eu duvido que o ginásio não ficaria lotado”, completou. Falcão reforça sua tese ao dar o exemplo do Corinthians, que tem boa presença de público em seus jogos.
O GEOGRAFIA DO FUTSAL MUDOU, LAMENTA O CRAQUE
Campeão do mundo em quatro oportunidades , Falcão alerta sobre as mudanças na correlação de forças dentro do futsal mundial. Ele acredita que a desclassificação para o Irã, nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2016 é um resultado para ser lamentado, mas que já emitia sinais de que algo tinha mudado. Naquela ocasião, o escrete canarinho empatou por 4 a 4 e perdeu na decisão por pênaltis por 3 a 2. A campeã da edição do Mundial realizado na Colômbia foi a Argentina, que venceu a Rússia por 5 a 4 na decisão.
A final entre Portugal e Argentina na Copa do Mundo de 2021 é, na sua concepção, a confirmação de um novo parâmetro. “As equipes muito fortes desceram de patamar enquanto que as seleções medianas subiram. Ficou muito equilibrado. A minha geração jamais vai existir de novo”, analisou Falcão. Portugal venceu o último mundial, realizado na Lituânia, ao ganhar da Argentina por 2 a 1. O Brasil ficou com o terceiro lugar ao ganhar do Cazaquistão por 4 a 2.
Para Falcão, já em 2016, a Argentina levantou a taça com um futebol nota 6, tendência mantida até os dias atuais. “Antes, o Brasil era favorito com mais três (seleções). Hoje, o Brasil é favorito com mais sete ou oito equipes”, disse.