Prestes a completar 40 anos no dia 07 de setembro, o ex-atacante recorda de seus feitos e conquistas no estádio Brinco de Ouro
Fabinho defendeu várias camisas no futebol brasileiro mas nenhuma gerou tanta identificação e cumplicidade como a do Guarani (Divulgação)
No dia 05 de abril de 2009, o Guarani perdeu para o Bragantino por 1 a 0 e terminou o Campeonato Paulista na 19ª colocação com 14 pontos e decretou o seu terceiro rebaixamento estadual em um espaço de oito anos (os outros foram em 2001 e 2006). No dia seguinte, Oswaldo Alvarez, o Vadão, foi anunciado oficialmente como técnico para a sequência da temporada. Vadão queria melhorar a autoestima da torcida e juntamente com a diretoria procurou fazer contratações de impacto, com apelo midiático. Anunciou Adriano Gabiru, Walter Minhoca e um coadjuvante que virou protagonista na história bugrina, Fábio de Souza Santos, o Fabinho. Na época com 25 anos, com 1,65 metro, o jogador franzino não poderia adivinhar que sua trajetória ficaria eternamente entrelaçada com a do Alviverde campineiro. “Hoje posso dizer que sou torcedor do Guarani”, afirmou o ex-jogador, hoje residente na cidade de Sumaré, integrante da Região Metropolitana de Campinas.
Antes da chegada ao Brinco de Ouro, Fabinho teve passagens por Bragantino, Mirassol, Canedense, Olímpia e Botafogo de Ribeirão Preto, a última estadia antes de vestir a camisa verde e branco. Foi ali que conheceu Walter Minhoca, fundamental para que convencesse Vadão a apostar em seu futebol. “Ele (Walter Minhoca) falou muito bem a meu respeito, mas nunca poderia pensar o que poderia acontecer”, disse o ex-jogador, que antes, em 2005, participou de uma fase de testes na Ponte Preta, mas não chamou a atenção do treinador da ocasião, que era...Oswaldo Alvarez.
Quatro anos depois, Fabinho estava integrado a um elenco que desde as primeiras rodadas encontrava-se no grupo de classificação à divisão de elite e com titulares com alta produtividade, inclusive o atacante Caíque, que já tinha sido o herói do dérbi do turno inicial ao ser o autor do único gol na vitória ocorrida no dia 20 de junho no estádio Moisés Lucarelli.
Fabinho era acionado nos jogos, mas a titularidade nunca virava realidade. Até que Caíque teve uma séria lesão e precisou ser afastado para tratamento. Fabinho agarrou a chance com unhas e dentes. “Eu já tinha decidido que era o meu momento de crescer. Comecei a jogar bem e não teve como o Vadão me tirar”, disse o ex-jogador bugrino. Resultado: Fabinho colheu ao final de ano o vice-campeonato na Série B com 69 pontos.
O SUFOCO NA TEMPORADA DE 2011
Como o Guarani não conquistou o acesso na Série A-2 em 2010 e foi rebaixado no Campeonato Brasileiro, o ano de 2010 é um tempo perdido e sem nexo na trajetória de Fabinho. Principalmente quando se leva em conta o turbilhão de emoções vividas em 2011. Na Série A-2, o Guarani conquistou o acesso e o vice-campeonato após perder a decisão para o XV de Piracicaba nos pênaltis pelo placar de 4 a 2. No tempo normal, o jogo terminou empatado por 2 a 2.
O drama apareceria com força total na Série B do Campeonato Brasileiro.
Além de conviver com a ameaça de rebaixamento, a equipe bugrina registrava atrasos no pagamento dos salários, o que fez com que o preparador físico da época, Walter Grassmann procurasse a imprensa para denunciar a situação, o que elevou a tensão no clube entre comissão técnica e a diretoria , comandada naquele mandato por Leonel Martins de Oliveira.
No jogo contra o Grêmio Barueri, no dia 25 de outubro de 2011, o Guarani venceu por 3 a 0 e ao marcar o segundo gol aos 14 minutos do segundo tempo, Fabinho liderou uma corrente do bem em torno do preparador físico. A meta era provar que ele tinha apoio dos jogadores. “Tanto Walter Grassmann como o Giba foram importantes porque eles não deixaram a peteca cair em nenhum momento”, pontuou o ex-jogador. Algo que emociona Fabinho até os dias atuais é a de relembrar o comportamento dos funcionários de salários mais modestos e que não deixavam de apoiar os atletas. “Eles (funcionários) afirmavam que nós não podíamos desistir e que eles estavam conosco”, contou Fabinho, que não esquece o drama vivido por alguns, que sequer tinham dinheiro para a passagem de ônibus para irem trabalhar no estádio Brinco de Ouro.
A MÁGICA TEMPORADA DE 2012 E A VITÓRIA NO DÉRBI
A situação financeira delicada seria um motivo suficiente para Fabinho mudar o rumo da carreira. Ledo engano. Apesar do recebimento de propostas e da troca na direção do Guarani, com a entrada de Marcelo Mingone na presidência e de Cláudio Corrente como diretor de futebol, Fabinho decidiu ficar mais uma temporada. “Quando cheguei ao Guarani eu era um jogador que poucos conheciam e aos poucos, com trabalho e dedicação eu consegui construir uma história e adquirir respeito e admiração”, conta Fabinho, que detalha o processo de decisão daquele período. “Tive proposta e muitos tentaram me convencer a sair por intermédio da Justiça (trabalhista). Mas eu decidi que não iria abandonar os meus companheiros e funcionários. Eu já tinha um sentimento de gratidão e de amor ao clube por causa do bom tratamento que recebi das pessoas”, arrematou. Para Fabinho, a prioridade era ajudar de alguma forma o Guarani a sair daquela situação.
A escolha recebeu a chancela do destino. Foi vice-campeão paulista em uma campanha memorável em que dois jogos recebem destaque. O primeiro foi no dia 22 de abril de 2012, quando o Guarani venceu o Palmeiras por 3 a 2 e Fabinho fez dois gols, além de Fumagalli, autor de um gol olímpico. Uma semana depois, foi a vez de passar pela Ponte Preta ao ganhar pelo placar de 3 a 1, um duelo eternizado como o “Dérbi do Século”. “O dérbi foi marcante para todos porque o Guarani não disputava uma decisão de Campeonato Paulista há 24 anos (A vez anterior foi em 1988, quando perdeu para o Corinthians) e o Medina foi feliz de marcar dois gols e este clássico ficará eternizado por muitos e muitos anos”, disse Fabinho.
A SENSAÇÃO DE JOGAR CONTRA O TIME DO CORAÇÃO
Se existe gratidão e emoção ao recordar os 161 jogos disputados com a camisa do Guarani em duas passagens (de 2009 a 2012 e depois em 2014) também é verdade que um sentimento estranho invadiu Fabinho nas duas vezes em que enfrentou o Guarani no gramado. A primeira vez foi no dia 17 de outubro de 2017, quando entrou aos 25 minutos do segundo tempo e ajudou o ABC (RN) a empatar com o Guarani por 1 a 1, em jogo da Série B do Campeonato Brasileiro.
No ano seguinte, no dia 04 de abril de 2018, a missão era espinhosa: decidir uma vaga para a Série A-1 do Paulista na semifinal da segundona regional com a camisa do XV de Piracicaba e no Brinco de Ouro.
No final, o gol de Ricardinho jogou por terra todos os sonhos do Nhô Quim. “Naquele jogo teve uma falação por causa de um gol perdido (por mim). Eu jamais faria isso (perder intencionalmente). Sou profissional e as pessoas me conhecem. Eu queria conquistar o acesso com o XV de Piracicaba”, reforçou o jogador. “Deus conhece meu coração e minha pessoa. Jamais faria isso”, enfatizou.
Além de ABC e XV de Piracicaba, Fabinho atuou com as camisas de Criciúma, Joinville, Londrina, Ceará, Vila Nova e Hercílio Luz. “Mas todo mundo fala que sou o Fabinho do Guarani”, disse o ex-jogador, agora treinador de futevôlei em uma academia localizada na cidade de Sumaré. “Virei um torcedor do Guarani. Tanto que vou no meio da galera”, arrematou. O ex-atleta, no entanto, pretende terminar seus estudos em um curso de nível superior e buscar a licença B da CBF, o que lhe permitiria trabalhar na formação de jogadores em categorias de base.
NOVAS AVENTURAS NO FUTEBOL AMADOR...DE SANTA CATARINA
Engana-se, no entanto, que a aventura de Fabinho pelo mundo do futebol acabou. Ele aceitou o desafio de atuar no Campeonato Amador de Tubarão (SC), pelo Vila Nova, que está inserido na divisão de elite da cidade, chamado de Alarme. Segundo Fabinho, os catarinenses se comprometeram a bancar todas as despesas de transporte e hospedagem. “Tem time amador que é muito melhor que equipe profissional”, afirmou Fabinho.
Independente das suas escolhas e trajetórias, Fabinho não esconde a admiração que sente por Oswaldo Alvarez, que dirigiu o Guarani em quatro oportunidades, em 204 partidas e conquistou aproveitamento de 50,5% no total. “Eu considero o Vadão como um pai. Ele me deu muita bronca e me deu carinho. Ele me colocou no cenário. Infelizmente ele foi embora cedo (Vadão faleceu no dia 25 de maio de 2020), mas tenho uma gratidão eterna por ele”, arrematou Fabinho, ainda com desejo de transmitir aos mais novos o que aprendeu com o eterno mestre.