Estudo inédito revela as emoções desencadeadas durante uma partida de futebol (Corinthians Press e Cesar Greco/ Palmeiras)
O que acontece com o organismo do torcedor fanático durante uma partida de futebol? A resposta a essa pergunta é complexa e ainda requer investigações mais aprofundadas, mas já há estudos a respeito, cujos resultados estão publicados no livro “Fisiologia das Emoções no Futebol”, lançado recentemente pelas pesquisadoras Aline Colares e Heloísa Reis da Unicamp.
Trata-se de um estudo inédito. “É a primeira vez que a impressão biológica das emoções desencadeadas pela vivência esportiva é destacada como evidência científica e como objeto de estudo da educação física”, ressalta Aline, mestre em ciências fisiológicas.
Durante o estudo, que aconteceu entre 2016 e 2019, as pesquisadoras analisaram mais de 117 mil batimentos cardíacos, dezenas de coletas de sangue e cortisol salivar, respostas para o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI), além das avaliações dos resultados de acompanhamento de pressão arterial dos participantes em três situações diferentes: dia rotineiro, dia de jogo de final de campeonato, e dia de jogo no meio do torneio, sem caráter decisivo.
“Conseguimos enxergar, por exemplo, que em um dia de disputa de final de campeonato, os fanáticos por futebol já acordam com seus níveis de cortisol mais elevados. Outro fato curioso é que, apenas pela análise dos níveis de cortisol e frequência cardíaca, é possível deduzir o que está acontecendo no jogo: uma chance de gol perdida, uma defesa de pênalti, uma derrota, e até se a partida já chegou ao fim”, explica a professora.
As autoras avaliaram cientificamente as emoções durante dois jogos do Corinthians. A medição levou em conta marcadores bioquímicos associados à sinalização emocional em diferentes situações: ver o time fazer um gol, perder uma chance de gol, sofrer um gol, além da vitória ou derrota.
Segundo Aline Colares, o engate entre a sociologia e a fisiologia do esporte se estabelece quando a experiência emocional dos torcedores na hora da partida é agregada a uma análise dos marcadores bioquímicos (cortisol e glicose) e hemodinâmicos (pressão arterial e frequência cardíaca) para as investigações da trilha emocional impressa no corpo pelo ato de torcer pelo seu time.
A ORIGEM
Professora titular aposentada da Unicamp e uma das maiores autoridades em pesquisa esportiva do Brasil, Heloísa afirma que o livro traz os resultados de um estudo sugerido por Norbert Elias, um dos mais importantes sociólogos do século 20.
“A ideia da pesquisa surgiu no livro “A Busca pela Excitação”, escrito por Norbert Elias e seu ex-estudante Eric Dunning, homem que tive a honra de chamar de mestre e amigo. Ter concretizado este estudo de forma inédita é uma das realizações mais gratificantes da minha carreira”, afirma a pesquisadora.
Heloísa conta ainda que o livro é resultado de um encontro marcado pelo destino. “Eu procurava há anos por um especialista em fisiologia para propor a pesquisa sugerida por Norbert Elias. Em 2016, Aline Colares chegou até mim com o convite para ser sua orientadora no doutorado que ela já havia iniciado na Unicamp. Propus a pesquisa, ela topou na hora. O resultado não poderia ser melhor”, diz.
A pesquisadora Aline Colares em frente ao Estádio do Pacaembu, palco de muitas emoções no futebol (Divulgação)