Escalada rumo ao topo

O estudante Gabriel Papp pode dizer que a escalada está no seu DNA. Afinal, antes mesmo de nascer, ele já era conduzido por rochas, em subidas e descidas na barriga de sua mãe. Apaixonada por montanhismo, a fotógrafa e tradutora Rosita Belinky, hoje com 52 anos, não viu em sua gravidez uma barreira para escalar, embora reconheça que a condição impôs uma intensidade menor na prática. “Só parei quando não conseguia mais ver a ponta dos meus pés por trás da barriga”, conta. Hoje, o filho dela está com 16 anos e é um dos destaques nacionais em sua categoria na escalada esportiva indoor, modalidade que se tornou olímpica desde os Jogos do Japão, em 2021.

Gabriel compõe a equipe da PowerBloc, de Campinas, integrante do Projeto de Desenvolvimento Esportivo de Atletas de Base da ABEE (Associação Brasileira de Escalada Esportiva). Iniciada há dois anos, a ação conta com o apoio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e tem a meta de formar atletas que possam, a médio e longo prazo, representar o Brasil na Olimpíada. Formada por sete escaladores entre 12 e 16 anos, a equipe treina no ginásio da PowerBloc, na Vila Itapura, e tem potencial, como atesta o técnico do grupo, Rafael Piunti. “O projeto tem cerca de dez equipes espalhadas pelo Sul, Sudeste e parte do Centro Oeste e essa, de Campinas, está entre os destaques”, comenta o treinador formado pela Unicamp, que também trabalha como olheiro da ABEE em busca de novos talentos na região.

Os resultados obtidos em competições estaduais e nacionais comprovam a condição promissora dos jovens da PowerBloc na modalidade boulder, que é praticada em paredes de até 4,5 metros com o uso de sapatilhas e magnésio para manter as mãos secas. Gabriel, que começou a engatinhar em ginásios de escalada e a se arriscar nas subidas para pegar cartinhas de pokemon colocadas pela mãe nas agarras das paredes, já é atleta internacional. Neste ano, disputou o Mundial Juvenil na Coreia do Sul. “Confesso que fiquei nervoso na competição, mas na hora temos que agir como se estivéssemos em casa porque escalada envolve também concentração”, comenta o atleta, que já foi campeão brasileiro e paulista.

Com 12 anos, Julia Izzo e Pedro Piê são outros integrantes da equipe que já obtiveram resultados expressivos em etapas do Campeonato Estadual e Copa Brasil deste ano. Nas competições, Julia chegou até a ser destaque na categoria adulta. Já Pedro, ao escalar uma parede rochosa em Ubatuba no último dia 6, alcançou um recorde. “Ele foi o primeiro do Brasil a chegar na graduação V9 com 11 anos de idade”, informa Piunti, esclarecendo que o grau de dificuldade na modalidade boulder em rocha é medido por uma referência que varia de V0 a V17.

Piunti relata a importância da marca. “O recorde anterior pertencia ao Felipe Camargo, atleta internacional, patrocinado por grandes empresas e que tinha chegado à graduação V9, mas com 12 anos de idade.” Pedro conta que o primeiro a comentar nas redes sociais a sua marca foi justamente Felipe. “Recebi os parabéns dele e fiquei muito feliz, pois ele é meu ídolo”, comentou Pedro, lembrando ainda que alcançou o recorde um dia antes de completar 12 anos. “Foi incrível. Meu sonho, agora, é conseguir chegar à graduação V17 e disputar uma Olimpíada”, comenta o escalador de 1,43m e 29,6kg, que se destaca pela leveza.

COMPETIÇÕES

Neste mês de setembro, a PowerBloc sediou uma etapa da Copa Brasil que contou com a participação de 177 atletas de várias categorias e idades. Agora, a preparação do grupo está focada para a disputa do Campeonato Brasileiro Juvenil de Boulder, em Curitiba, nos dias 9 e 10 de dezembro. Antes disso, a equipe também participa do Brasileiro de Escalada Guiada (com uso de cordas) nos dias 2 e 3 de novembro, em São Paulo.

Outras competições que acontecerão neste ano é a última etapa da Copa Brasil, no próximo final de semana, em Curitiba, que também sedia, nos dias 17 e 18 de novembro, o Campeonato Brasileiro Absoluto de Boulder com a participação de atletas a partir de 14 anos. Dessas últimas disputas, por enquanto, só Gabriel tem a participação confirmada da equipe PowerBloc.

A ESCALADA NO BRASIL

O técnico Rafael Piunti comenta que a escalada esportiva no Brasil evoluiu depois que o COB passou a investir na modalidade. “Antes, estávamos entre os 100 melhores do mundo. Agora, já estamos entre os 50”, acredita. As chances de chegar à Olimpíada de Paris no ano que vem existem, mas são remotas, avalia. O país que mais se destaca na modalidade é o Japão. Na América Latina, aponta Piunti, o Brasil hoje está entre os melhores, ao lado de México e Chile.