Felipe Moreira e Humberto Louser assumiram com o campeonato em andamento
Felipe Moreira e Umberto Louzer (Diego Almeida/Ponte Press e Thomaz Marostegan/Guarani FC)
Desde que passaram a disputar a mesma divisão nacional, em 2018, Ponte Preta e Guarani têm muito pouco a comemorar quando o assunto é continuidade de trabalho de um treinador. Nenhuma das duas equipes alcançou o pelotão de elite, a luta contra o rebaixamento virou uma rotina e apenas uma vez o Alviverde sonhou com a promoção, em 2021, enquanto que Macaca teve apenas as temporadas de 2018 e 2020 para acalentar a esperança de um resultado melhor. Nestes dois quadros existe algo em comum: a troca constante de treinador.
Na Ponte Preta, são 21 treinadores no período que abrange o mês de janeiro de 2018 até os dias atuais. O profissional mais acionado foi Gilson Kleina, com 80 partidas disputadas em suas passagens em 2018, 2019 e em 2021. Em segundo lugar, o ranking de treinadores aponta Hélio dos Anjos, com 66 partidas disputadas e a conquista do título da Série A-2 deste ano. Ao esmiuçar os números, os resultados não são positivos. Cada um dos técnicos que atuaram na Ponte Preta trabalharam em média 95,04 dias e disputaram 15,8 jogos. Neste período, ao contar os jogos de Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Série B do Campeonato Brasileiro, a Macaca disputou 332 partidas. A rotatividade de técnicos também foi acompanhada por uma série de mudanças. Neste período, a presidência foi ocupada por José Armando Abdalla Junior, Sebastião Arcanjo e agora por Marco Antonio Eberlin. O comando do futebol, por sua vez, passou pelas mãos de Gustavo Bueno, Marcelo Barbarotti, Alarcon Pacheco e Luis Fabiano, que saiu após o rebaixamento no Campeonato Paulista do ano passado.
A situação não é muito mais confortável no Guarani. Neste período, o clube teve no comando do Conselho de A dministração Palmeron Mendes Filho, Ricardo Moisés e André Marconatto, que abriram espaço para que o futebol fosse comandado por Luciano Dias, Fumagalli, Marcus Vinicius Beck Lima, Michel Alves, Rodrigo Pastana e agora Lucas Drubscky. Eles foram responsáveis pela contratação e dispensa de 17 treinadores, sendo que cinco profissionais atuaram na condição de interinos. Apesar da rotatividade dos responsáveis pelo futebol, os técnicos tiveram um pouco mais de tempo para trabalhar do que na rival Ponte Preta e ficaram em média por 117 dias e disputaram 17,1 jogos. De janeiro de 2018 até agora o Guarani disputou 282 partidas.
No caso dos interinos, dois casos chamaram atenção. O primeiro foi do atual técnico bugrino, Umberto Louzer, que foi promovido em janeiro de 2018 e sagrou-se campeão da Série A-2. No ano seguinte, Thiago Carpini foi a solução encontrada para viabilizar a permanência na segundona.
A rotatividade de técnicos também utilizou o dérbi como palco principal. No dia 16 de março de 2019, a derrota bugrina para a Ponte Preta por 3 a 0 no Campeonato Paulista decretou a saída do técnico Osmar Loss e a posterior contratação de Vinícius Eutrópio. A Ponte Preta na ocasião era comandada por Jorginho.
O Guarani deu o “troco” no dia 19 de fevereiro de 2022, quando venceu o histórico rival por 3 a 0 no Brinco de Ouro e produziu o desligamento do técnico Gilson Kleina. Daniel Paulista era o técnico bugrino no clássico.
Na atualidade, os dois treinadores das equipes campineiras vivem situações distintas. Apesar do aproveitamento de apenas 33% dos pontos disputados, Felipe Moreira tem o apoio da Diretoria Executiva comandada por Marco Antonio Eberlin. Já Umberto Louzer tem sua reestreia marcada para o próximo domingo, contra o Vitória (BA), no Brinco de Ouro. A esperança é que o jogo seja o primeiro de muitos na sua segunda passagem E que ele não seja no futuro mais uma vítima da ciranda infinita do futebol campineiro.
MESMO COM MÁ FASE NA SÉRIE B, EBERLIN APOSTA NA CONTINUIDADE
Desde que assumiu o cargo de presidente da Diretoria Executiva da Ponte Preta, no dia 05 de janeiro de 2022, o empresário Marco Antonio Eberlin sempre defendeu a premissa de dar continuidade ao trabalho dos técnicos que sentam no banco de reservas. Por enquanto, é possível dizer que o mandatário vai na contramão do que sempre foi regra na Macaca e no futebol campineiro e brasileiro. Ao se levar em conta todos os profissionais fixos e interinos que passaram pela Macaca, cada um dos técnicos que atuaram na Ponte Preta trabalharam em média 95,04 dias.
Ao se levar em conta desde o dia em que tomou posse, no dia 05 de janeiro de 2022, Eberlin trabalhou com Gilson Kleina, Ivo Secchi, Hélio dos Anjos e agora com Felipe Moreira, o que dá uma média de 132,5 dias de gestão, o que é um tempo 39,41% maior em relação a média geral. Se levar em conta apenas os técnicos efetivos, a média do tempo de trabalho sobe para 177 dias, um acréscimo de 86,23% em relação à média aferida desde janeiro de 2018.
Ao analisar o quadro reinante , em que a troca parece uma rotina cruel, Eberlin acredita que a medida é uma tentativa desesperada dos dirigentes para consertarem uma situação delicada vivida no gramado. “Eu acredito que os dirigentes não suportam as cobranças, as pressões e para se eximir da culpa ou das responsabilidades, para que não recaia sobre ele, fica mais fácil a demissão do treinador”, analisou.
O presidente pontepretano considera que é impossível um treinador construir um padrão de jogo em um prazo de 30 a 60 dias, especialmente porque a equipe tem a tarefa de desconstruir o trabalho anterior. “E às vezes muitos querem o resultado em 30 dias. Isso pode acontecer, mas é raríssimo”, disse.
Quanto ao papel dos veículos de comunicação e dos jornalistas no processo de rotatividade destes profissionais, Eberlin aponta que a análise muitas vezes é feita em cima apenas e tão somente dos 90 minutos e não se realiza um balanço de médio e longo sobre o trabalho que é desenvolvido no gramado. Para ele, fatos e peculiaridades ocorridos no dia a dia de um clube muitas vezes não são conhecidos dos profissionais de imprensa e dos torcedores. “Na maioria das vezes a imprensa não tem informação alguma do que acontece”, disse. “O futebol tem mil e uma nuances e a imprensa só fala da bola rolando”, explicou.
Para exemplificar a sua tese, Eberlin cita os dois últimos jogos disputados pela Macaca na Série B do Campeonato Brasileiro, em que a Alvinegra teve um rendimento ruim contra o ABC e mostrou mais qualidade no empate por 1 a 1 com o Sport, considerado por muitos um candidato ao acesso. “Como fica o dirigente em uma situação dessas? Jogou mal contra o ABC e tem que mandar embora (o técnico). Joga bem contra o Sport e não manda embora. Como é que faz?”, arrematou o dirigente pontepretano, que mantém a aposta em Felipe Moreira como treinador.
“TEM QUE SOBRAR PARA ALGUÉM”, AFIRMA EX-PRESIDENTE DO GUARANI
Presidente que conquistou o acesso na Série C de 2016 e último dirigente a contratar Oswaldo Alvarez como treinador do Guarani em março de 2017, o advogado Horlley Senna afirma que está fora do sistema diretivo do futebol, mas considera que a troca de treinadores é algo que dificilmente vai acabar. “(A troca de treinador) é para abafar quando está a situação um caos. Quando perde e empata e não consegue vitórias, tem que sobrar para alguém. Em todas as gestões é assim. Não dá para mandar o elenco embora. Então você foca no treinador”, afirmou o ex-presidente bugrino, que não esquece de citar o os interesses envolvidos entre dirigentes e empresários. “Eu tenho uma rejeição gigantesca porque nunca aceitei essas situações”, completou.
Horley Senna conta que, quando comandou o Guarani, a sua principal tarefa não era a de segurar treinadores e sim a de viabilizar contratações que estivessem dentro de suas concepções Ele conta a reportagem do Esportes Já, que na reta final da Série C de 2016 ele estava em busca de um atacante para completar o elenco comandado por Marcelo Chamusca. Ao sugerir o nome de Eliandro, o dirigente foi rechaçado por todos os componentes do Departamento de Futebol Profissional. Mas ele foi em frente e bancou a aquisição do atleta junto ao Bragantino, agora Red Bull Bragantino. “Eu não impus que ele jogasse, mas queria ele como opção. Bem, aí ele veio, fez dois gols (contra o ASA, nas quartas de final da Série C) e ganhamos por 3 a 0. Aí esqueceram (das contratações ) do Richarlyson, do Caça Rato”, arrematou de maneira bem humorada o expresidente bugrino.
A reportagem do Esportes Já entrou em contato com o presidente André Marconatto por intermédio da Assessoria de Imprensa do clube para saber sua opinião sobre o tema, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição.