O MASSAGISTA

Dito Brás, uma vida dedicada ao Guarani

Ele cumpriu à risca o script como profissional

Esportes Já
13/02/2023 às 12:20.
Atualizado em 13/02/2023 às 12:20
Dito Brás com Bozó, com quem esteve presente na campanha do título brasileiro de 1978 (Divulgação)

Dito Brás com Bozó, com quem esteve presente na campanha do título brasileiro de 1978 (Divulgação)

Ele era do tempo em que o papel de um massagista em um clube de futebol não se limitava ao trabalho de recuperação dos jogadores. Fazia parte da função, como de forma incondicional, ser amigo dos funcionários e atletas, fiel ao clube em que trabalhava e sair na foto posada do time ao lado da boleirada. No Guarani, Benedito José Felipe, o Dito Brás, cumpriu à risca o script, mas foi além. Durante os 28 anos em que trabalhou no Brinco de Ouro, presente inclusive no título brasileiro de 1978, ele exerceu sua profissão com seriedade e competência, segundo as pessoas que o conheceram. Por isso, o ex-massagista deixa lições e também agora, saudades. No último dia 2 de fevereiro, aos 97 anos, Dito Brás seguiu para o time do céu.

Sua última aparição pública foi na festa de aniversário de 94 anos, no final de 2019, ainda antes da pandemia do coronavírus. Um vídeo mostra ele sendo presenteado com uma camisa do Guarani durante uma reunião descontraída com amigos e familiares na casa onde morava, na Vila 31 de Março, ao lado dos filhos e netos. A aparência era de um homem saudável, não demonstrava a idade. E as histórias, sempre presentes nas rodas de conversas, não podiam faltar, como aquela em que o folclórico meia Tião Macalé pediu “bife a cavalo sem ovo” no Restaurante Rosário durante um jantar do elenco bugrino em meados dos anos 60. 

“Ele era um grande profissional, amigo de todos”, atesta Jorge Corrêa da Conceição, o Joca, que conviveu com Dito Brás no Guarani. Hoje com 82 anos, 58 deles vividos dentro do clube campineiro, o ex-administrador Joca lembra que chegou ao Brinco de Ouro em 1959, cinco anos depois de Dito Brás ter iniciado sua trajetória no Bugre como massagista. A profissão foi assimilada em um curso que fez e na convivência em Campinas com o massagista Alfeste Comucci, conforme matéria do jornalista Ariovaldo Izac.

“Ele era extremamente íntegro. Profissional ao extremo”, define Wanderley Rondini, médico com várias passagens pelo Guarani. Rondini conheceu Dito Brás no início dos anos 80, quando atuava na base, enquanto o massagista já era uma espécie de “patrimônio do clube”. “Não era muito falante. Era muito família. Paciência era uma de suas grandes qualidades. Tinha sempre um sorriso, não de gargalhada. Não tinha quem não gostasse do seu Dito”, lembra o médico, hoje com 60 anos. 

No Brinco de Ouro, Dito Brás conviveu com várias gerações de atletas nos anos 50, 60 e 70. Fazia, às vezes, também o papel de espião, assistindo aos jogos dos adversários e, contam os amigos, não se furtava em passar orientações para os jogadores quando tinha que atendê-los dentro de campo. O massagista entendia de futebol. Formou uma linha média de sucesso no Linense ao lado de Frangão e Goiano em um time que, inclusive, enfrentou o Guarani na campanha do acesso da equipe campineira em 1949. Uma lesão no joelho o fez encerrar precocemente a carreira, mas não se afastou do futebol. Estava no sangue.

Seu irmão mais novo, Reinaldo Lapão, falecido aos 75 anos em 2019, foi meia do Palmeiras entre 1958 e 1964. Outro parente que teve de enterrar foi o próprio filho, uma história triste das muitas que viveu em seus 97 anos de existência.

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