CRAQUE PERPETUADO

Dicá é mestre das faltas e dos aproveitamentos em dérbis

Ele é o maior artilheiro da história da Ponte Preta com 155 gols

Ângelo Barioni/ editor de esportes
24/10/2022 às 09:38.
Atualizado em 24/10/2022 às 09:39
Dicá relembra com alegria sua trajetória no futebol, principalmente na Ponte Preta (Gustavo Tilio)

Dicá relembra com alegria sua trajetória no futebol, principalmente na Ponte Preta (Gustavo Tilio)

Oscar Sales Bueno Filho, o mestre Dicá, começou a carreira no time amador do E.C. Santa Odila e com apenas 16 anos, foi chamadopelo dirigente da Ponte Preta, Renato Righetto. Na Macaca, disputou apenas nove partidas pelo juvenil, pois logo foi chamado ao time principal pelo técnico. Exímio cobrador de faltas, é considerado o melhor jogador da história da Ponte Preta, sendo o que mais vezes vestiu a camisa da Macaca e o maior artilheiro de sua história, com 155 gols. Em 1971 foi emprestado ao Santos. Em 1972 foi negociado com a Portuguesa, onde conquistou o título do Campeonato Paulista de 1973. Em 1976, Dica retornou para a Ponte Preta onde conquistou os vicescampeonatos de 1977, 1979 3 1981. Em 1986, após 20 anos de prática futebolística, Dica resolveu parar de jogar. A partir de então, o torcedor deixou de ver atuar um grande mestre da bola.

Com quantos anos você iniciou sua carreira?

Eu comecei na Ponte Preta em 1966, com 17 anos. Foi uma ascensão muito rápida, pois na época eu trabalhava e jogava em um clube do bairro, o Santa Odila. Foi quando o Doutor Renato Righettto, diretor da Ponte Preta, muito inteligente e visionário sobre o futebol, me viu jogando e me trouxe para o juvenil da Ponte. Na época, todos os jogos do Campeonato Paulista tinham preliminares, algo muito importante para o torcedor conhecer os jogadores oriundos da base. Eu fiz nove jogos atuando pelo juvenil até ser chamado pelo técnico Sidnei Cotrim para treinar entre os profissionais. Foi quando fiz meu contrato com a Ponte Preta.

Como foi sua chegada na equipe profissional, treinar com jogadores mais experientes e rodados?

Tranquilo. Naquele tempo, os atletas do profissional assistiam as partidas preliminares e havia um respeito mutio grande.

Muitos aconselhavam e davam força. Quem foi o melhor diretor-presidente que você trabalhou?

Sem dúvida foi o Sérgio Abdalla, que conseguiu trazer a Ponte Preta de volta à divisão especial com um grupo forte e com uma folha salarial enxuta. O Lauro foi outro grande presidente. Porém, foi a fase do dinheiro. Ele contratou vários jogadores, me trouxe de volta e disputou títulos. Édson Aggio também foi um bom presidente. O Peri Chaib foi um grande diretor. Ele sempre contratou grandes jogadores por conhecer o mundo do futebol.. Conhecia muito sobre bola.

O futebol mudou muito em relação ao seu tempo de atleta?

Na minha época o futebol era escravizado, o atleta não era o dono do passe, embora tivesse direito a 15%, mas nunca era negociado. Hoje, o atleta é mais consciente, mais visibilidade, tem advogado, empresário e possui todos os elementos para crescer na carreira. Além disso, o atleta de hoje tem uma estrutura de excelência para se preparar adequadamente: são áreas essenciais para o desenvolvimento como medicina, fisioterapia, preparação física, fisiologia e nutrição. Tudo isso virou um facilitador para os atletas que atuam hoje. Na verdade só precisam executar, e quem tem capacidade técnica tem tudo para ter um ótimo futuro.

Embora você atuasse no meio de campo foi o maior artilheiro da história da Ponte Preta. Como foi isso?

Eu tinha uma facilidade muito grade de pegar bem na bola, era minha principal característica. Eu não sabia jogar de costas para o gol, sempre precisei jogar de frente, fato que me proporcionava boa visibilidade do jogo. Também sempre tive um ótimo raciocínio e uma visão de jogo privilegiada que me permitiu armar as jogadas de ataque. Em relação a marcar gol, nunca fui jogador de concluir na pequena área. Eu fiz inúmeros gols de rebote, chutes de longa distância e através de cobranças de falta. Aliás, fiz 59 gols de falta em minha carreira. Na Ponte, ao todo, marquei 155 gols.

(Cedoc/Pesquisa Willian Ferreira)

(Cedoc/Pesquisa Willian Ferreira)

A Ponte teve grandes times e disputou várias decisões de campeonatos. Em 1977, a perda do título para o Corinthians é muito contestada. A expulsão de Rui Rey pelo árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilha rende polêmica até hoje. Qual é a sua opinião, uma vez que você participou dos jogos decisivos?

É um mistério. O ambiente estava tenso, carregado, pesado. A polícia foi no vestiário da Ponte antes do jogo, fato inédito, pois a polícia não tem que ir em vestiário, principalmente antes de jogos.

O que a Polícia alegou?

Foi para avisar que se tivesse alguma invasão por parte da torcida era para corrermos para o meio de campo, pois ali ficaríamos protegidos por eles (policiais)..... risos. Quem vai lembrar de correr para o meio de campo em caso de invasão? Enfim, foi uma forma de pressão. Já em campo, a saída era da Ponte Preta e, portanto, estávamos posicionados: Marco Aurélio, Rui Rey e eu. Nesse momento, o Dulcídio se aproximou de Rui Rey e disse de forma preconceituosa: “escuta aqui seo neguinho, não começa com as frescuras de abrir os braços para reclamar que ponho você para fora”. Nesse momento eu interpelei o Dulcídio dizendo que o jogo nem tinha começado e ele já estava ameaçando expulsar. Foi quando ele respondeu que conhecia as histerias de Rui Rey e iria expulsá-lo se enchesse o saco. Isso não deixa de ser pressão. Porém, fica a dúvida se o episódio não foi para eu e o Marco Aurélio fossemos testemunhas de que o árbitro o advertiu para que não houvesse dúvidas. No entanto, a Ponte chegou nessa decisão sem o Odirlei, que recebeu o terceiro cartão amarelo, aos 45 minutos no segundo tempo, pelo Romualdo Arpi Filho. Ai, sim, a Ponte foi prejudicada porque ele era um dos principais atletas do time.

Além Da Ponte Preta você também atuou pela Portuguesa, Santos, Araçatuba e Paulista. Como foi atuar com Pelé?

Minha passagem pelo Santos não foi das melhores. Eu vinha de uma forma de jogar que tive que mudar, já que tive que me adaptar a função de um segundo volante. Até porque não tinha como, naquele time do Santos ter um terceiro atacante...risos. Diante disse, não mantive uma regularidade.

É verdade que o Fluminense queria contratá-lo também?

Sim, aliás, se eu tivesse ido para o Rio meu futebol teria evoluído muito, até porque atuaria em minha verdadeira posição. Entretanto, a diretoria resolveu fazer negócio com o Santos em função da visibilidade.

Você foi um atleta acima da média sem, contudo, receber uma chance na seleção brasileira. Isso foi frustrante em sua carreira?

Eu merecia pelo menos uma oportunidade. No entanto, nunca tive essa chance. O Brasil tinha ótimos atletas na minha posição, mas uma chance eu deveria ter tido.

Você foi um dos principais atletas da Ponte em dérbis. O seu aproveitamento foi excelente.

Só perdi três dérbis. Tenho 16 vitórias e 14 empates.

Você sempre foi torcedor da Ponte?

Sempre e fanático. Quando a Ponte Preta perdeu para a Portuguesa Santista em 1964, assim que tomou o gol, saí do estádio e fui à pé para casa, no Jardim Santa Odila. Sempre fui torcedor de rezar por vitórias.

Qual a sua opinião sobre um técnico estrangeiro na seleção brasileira?

Não vejo problema nenhum. Se for um técnico estudioso como o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, não vejo problema algum. É novo e conhece muito o futebol.

NA LATA 6

Quem foi o melhor jogador?

PELÉ

Melhor Goleiro?

LEÃO E CARLOS

Melhor Técnico?

CILINHO E OTO GLÓRIA

Gol mais bonito?

CONTRA O TAGUATINGA PELA FORMA COMO FOI.

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