Equipe paralímpica de Campinas teve grande performance em meeting disputado em São Paulo neste mês (Divulgação)
Uma agitada rotina que foi interrompida repentinamente. Um acidente de trabalho determinou a trajetória imprevista. Um jovem estudante universitário de 20 anos e que trabalhava como instalador de ar condicionado se viu, subitamente, numa cama de hospital sem tempo para questionamentos. O quadro foi dramático. Foram 70 dias de internação, 40 deles na UTI, além de seis cirurgias na cabeça. “Eu tinha apenas 1% de chance de sobreviver”, conta hoje Vinícius, que se define como um milagre de Deus. Nove anos depois da fatalidade, o jovem é um exemplo de superação. A convivência com as sequelas é inevitável, mas ao invés de paralisa-lo, o estimula. Vinícius é atualmente um dos destaques da equipe da Associação Paralímpica de Campinas (APC).
Nas últimas semanas, Vinícius Tavares Celestino da Silva estava radiante de alegria. Afinal, o atleta de 29 anos ganhou a medalha de ouro no lançamento de dardo, um mês após iniciar a prática da modalidade. “Lancei 9m75”, diz. A conquista veio no Meeting Paralímpico, disputado em São Paulo, entre os dias 3 e 5 de novembro, quando também ganhou o ouro no arremesso de peso, sua especialidade.
Vinícius entrou na APC há cinco anos em busca de uma direção depois do trauma que passou. Ele conta que seu acidente aconteceu enquanto fazia a instalação de um ar condicionado numa residência em Mogi Mirim. Um mal súbito o derrubou da escada e a cabeça bateu no chão. Era 27 de novembro de 2014 e Vinícius estava na empresa há um mês. “Neste mesmo dia, eu faria a apresentação do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso)”, lembra o ex-estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
A batalha pela vida foi vencida, mas deixou marcas. “Tenho uma prótese de titânio na cabeça”, explica. “Um AVC isquêmico paralisou meu lado esquerdo”, diz. Vinícius ainda perdeu o campo visual do olho esquerdo, a vista do olho direito e sua audição também foi afetada. Ele se locomovia em cadeira de rodas quando foi fazer o teste de arremesso de peso na APC. E o esporte se tornou sua salvação. “Com o passar dos anos, comecei a usar bengala e hoje caminho, mas ainda preciso de apoio”, diz o atleta, que destaca treinador, colegas de equipe e sua mãe, com quem mora, além de uma tia como pessoas importantes na sua vida.
Mergulhado no esporte, o atleta começou a participar de competições e a ganhar medalhas. A primeira veio em 2020 e hoje já são sete, seis de ouro e uma de prata. A vitória, porém, não vem para ele apenas nos torneios. “Cada dia de treinamento é uma superação. Essa é a medalha que conquisto diariamente.”
MEETING
Vinícius foi um dos destaques da APC no Meeting Paralímpico Loterias Caixa, competição a nível nacional, disputado no início do mês na capital paulista. A equipe campineira conquistou 19 medalhas, 11 no atletismo e oito na natação. Segundo Luiz Marcelo Ribeiro da Luz, gerente de projetos da associação, foi o melhor resultado do ano da equipe, que está incluída nas disputas previstas no calendário oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Fundada em maio de 2007, a APC atualmente atende cerca de 50 atletas envolvidos em atividades de formação e rendimento no atletismo e natação, congregando pessoas com diferentes graus e tipos de deficiência.